Meu povo nunca usou um arco ou disparou uma arma de fogo contra os brancos. Houve problemas na fronteira entre nós e meus jovens dançaram a dança da guerra. Mas não fomos nós que começamos. Foram vocês que enviaram o primeiro soldado e nós que mandamos o segundo. Há dois anos atrás vim para esta estrada, seguindo o búfalo, para que minhas mulheres e filhos pudessem ficar com as faces cheias e os corpos aquecidos. Mas os soldados dispararam contra nós e, desde então, houve um
barulho como o de uma tempestade e ficamos sem saber que caminho tomar. Foi assim no Canadian. Também não poderemos chorar sozinhos sempre. Os soldados de azul e os utes vieram de noite, quando estava escuro e sossegado, e queimaram nossas tendas como fogueiras. Em vez de perseguirem caça, mataram meus bravos e os guerreiros da tribo cortaram os cabelos pelos mortos. Foi assim no Texas. Fizeram a tristeza vir para nossos acampamentos e nós investimos como os búfalos quando suas fêmeas são atacadas. Quando nós os achamos, nós os matamos e seus escalpos pendem de nossas tendas. Os comanches não são fracos e cegos, como os cachorrinhos de sete sonos de idade. São fortes e perspicazes, como cavalos adultos. Tomamos o caminho deles e seguimos. Os brancos choraram e nossas mulheres riram.
Mas há coisas que vocês me disseram e eu não gosto. Não são doces como açúcar, mas amargas como cabaças. Disseram que desejavam nos colocar numa reserva, construir-nos casas e fazer-nos tendas para curar. Não quero nada disso. Nasci na pradaria, onde o vento sopra livre e não existe nada que interrompa a luz do sol. Nasci onde não havia cercas, onde tudo respirava livremente. Quero morrer ali, não dentro de paredes. Conheço cada corrente e cada bosque entre o Rio Grande e o Arkansas. Cacei e vivi nesse território. Vivi como meus pais, antes de mim, e, como eles, vivi feliz.
Quando estive em Washington, o Grande Pai Branco disse-me que toda a terra comanche era nossa e que ninguém deveria impedir-nos de morar ali. Assim, por que nos pedem para deixar os rios, o sol e o vento, para irmos morar em casas? Não nos peçam para trocarmos o búfalo pelos carneiros. Os jovens ouviram falar disso e ficaram tristes e furiosos. Não falem mais disso... Se os texanos ficassem fora do meu território, haveria paz. Mas o lugar em que vocês dizem que devemos viver é pequeno demais. Os texanos tomaram os lugares onde a grama cresce mais e a madeira é melhor. Se nós os conservássemos, poderíamos fazer as coisas que nos pedem. Mas é tarde demais, os brancos têm o território que amávamos e só queremos vagar pela pradaria até morrermos.
No livro Enterrem Meu Coração na Curva do Rio, de Dee Brown
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