quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Jorge de Lima: O Filho Pródigo



O FILHO PRÓDIGO
  
Nas engrenagens das fábricas
bolem como vermes – dedos decepados de operários.
Há vaivéns do correame das oficinas.
A cor e a alegria das moças empregadas
dissolvem-se na algazarra monótona dos teares.
O avião comeu a saudade das mães
que a distância separou dos filhos vagabundos.
Há máquinas que cegam os adolescentes
ansiosos de ver o progresso do mundo.
 
Um homem teve medo de enlouquecer
perseguido pela força e pelo orgulho
das máquinas assassinas.
 
Cadê a luz trêmula de vela
pra alumiar o meu poema antigo?
O lirismo perdeu a sua liturgia.
 
As lâmpadas Osram velam funebremente a poesia.
Ah! que existe uma tristeza na terra
que nem lágrimas produz
de sua esterilidade tão seca.
 
Eu sou um corpo distraído.
 
Bóiam os meus olhos pelas superfícies.
Mas os meus olhos correm mais perigo
do que se andassem em acrobacias contemplativas
pulando no céu alto, perto das estrelas.
 
Vovózinha, venho de longe,
ando há muitos séculos à pé.
 
Ensina-me de novo a ficar de joelhos,
que já é tarde e eu quero me deitar.

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