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quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Para os Que Virão, poema de Thiago de Mello


Para os que Virão

Como sei pouco, e sou pouco,
faço o pouco que me cabe
me dando inteiro.
Sabendo que não vou ver
o homem que quero ser.

Já sofri o suficiente
para não enganar a ninguém:
principalmente aos que sofrem
na própria vida, a garra
da opressão, e nem sabem.

Não tenho o sol escondido
no meu bolso de palavras.
Sou simplesmente um homem
para quem já a primeira
e desolada pessoa
do singular - foi deixando,
devagar, sofridamente
de ser, para transformar-se
muito mais sofridamente - 

na primeira e profunda pessoa
do plural.

Não importa que doa: é tempo
de avançar de mão dada
com quem vai no mesmo rumo,
mesmo que longe ainda esteja
de aprender a conjugar
o verbo amar.

É tempo sobretudo
de deixar de ser apenas
a solitária vanguarda
de nós mesmos.
Se trata de ir ao encontro.
(Dura no peito, arde a límpida
verdade dos nossos erros.)
Se trata de abrir o rumo.

Os que virão, serão povo,
e saber serão, lutando.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

César Vallejo: Pedra Negra Sobre Uma Pedra Branca



Pedra Negra Sobre Uma Pedra Branca

Eu morrerei em Paris, com aguaceiro,
um dia que não sei, mas já recordo.
Morrerei em Paris, talvez – não fujo
numa quinta de outono, igual à de hoje.

Quinta-feira há de ser. Hoje, que proso
estes versos e mal me tenho os úmeros,
é quinta, e, como nunca, hoje voltei
com todo o meu caminho a me ver só
Morreu César Vallejo, o que apanhava
de todos sem que nada fizesse;
lhe davam duro com um pau e duro

com a corda também; são testemunhas
as quintas-feiras, os meus ossos úmeros,
a solidão,as chuvas e os caminhos.

Tradução de Thiago de Mello

in Poetas da América de Canto Castelhano (Global, 2011)

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