segunda-feira, 29 de abril de 2013

Sísifo Hoje



“arrastam uma pedra terrível”
Mário Quintana



Um homem
arrasta uma pedra terrível, está sozinho
na montanha, entre o cume e o abismo
tem um declive mortal
a pedra é velha, lançou raízes
o vento e as flores
despontam na pedra, o vento
ao passar lembra gazelas
que cobrem o sol nas planícies
e o homem chegado ao cimo
assiste à sua pedra triste
a rolar para o princípio.

27/4/2013
©  J.T.Parreira

sábado, 27 de abril de 2013

Um Sonho Caro, conto de Otoniel Mota



Otoniel dos Campos Mota (1878 – 1951) foi contista, ensaísta, gramático, pastor evangélico, professor, diretor da Biblioteca Pública de SP, membro da Academia Paulista de Letras.

A título de resgate, tomamos a liberdade de transcrever este conto, oportuna amostra do rico estilo regionalista do autor, que exprimiu com humor causos (alguns rocambolescos) dos 'matutos' do interior paulista, neste e nos demais contos de seu livro Selvas e Choças (1922).


*  *  *


UM SONHO CARO

Otoniel Mota

     - Ahi, marvada! Tomô no sovaco! Mais ain­da não morreu! Eu tiro já teu bucho fóra! Lá vae obra!
     Assim exclamava Chico Pipoca, na salinha da frente de sua choupana, apenas barreada, como os demais compartimentos. Tinha na mão esquerda a pica-pau querida, e na destra a tira-prosa luzente, fina, aguçada. Fiado nesta ar­ma, certamente respeitável, é que Chico Pipoca estava a berrar aquelas valentias, aos pulos pa­ra diante e para trás, esfuracando a parede com ímpetos heroicos, quando Nha Faustina, a esposa, deixando a gordura aljofrante a chiar na caçarola, apresentou-se na porta da salinha e deitou água fria na fervura, pondo-se a mirar fixamente o seu homúnculo esportivo, como hoje se diria. Este, desapontado com se ver assim surpreendido, caiu dos píncaros, onde a glória já lhe sorria em toda a sua plenitude aover ele realizado, em espírito, o sonho constante da sua vida: chumbear uma onça pintada e depois cosê-la à faca para rematar a obra.
     - Tava cabando de impacotá ua pintada quando mecê pareceu, nha Fostina!
     Nha Faustina, sempre silenciosa, despregou um formidável pelo-signal, que foi do topete à cintura, virou as costas, arrepanhou a saia no quadril esquerdo e saiu gingando o corpanzil, a resmungar.
     - Ave Maria! Credo! Inté é mió a gente serri... O home virô maluco! Onde já se viu ua coisa ansim, diz que pulando dentro de casa que nem serelepe,  co’a faca na mão cutucando a parede... Ave Maria! Ave Maria!
     E já na cozinha persignou-se mais uma vez desabridamente, com a colher de pau desbeiçada a fazer cruzes no ar.

*
*  *

     Chico Pipoca era um caboclinho franzino, de canelas magras e peladas, já grisalho, com a boca chupada, pela falta dos saudosos dentes que esbrugavam outrora uma caiana roxa. Ti­nha os olhos saltados como os do sapo. Daí o nome Pipoca, que lhe dava guinas de espancar.
     Morava em bairro antigo, de uma vila dos tempos coloniais, no sul do Estado, uma povoação insulada, decadente, onde a população nunca ou­vira sequer o apito do "bicho de fogo" triunfante, onde a civilização permanecia pouco além do bangué e da espingarda fulminante. Os terrenos, esturrados pelo fogo, que lhes deitavam ano após ano, só brotavam sapé e assa-peixe, com alguns capões raros e ralos de capoeira baixa, ruça, de terra exausta. Por ali os milharais deitavam hastes escanifradas e espigas minguéras, retor­cidas como pés de crianças sifilíticas.
     Caçador de cotia, Pipoca possuía dois pevas sem raça alguma, magros e arrepiados, porque — dizia o dono — "cachorro gordo fica preguiça e perde o faro". E com esta filosofia venatória descarregava a sua consciência do jejum em que trazia os míseros cotieiros.

*
*  *

     Mas a imaginação de Pipoca era fértil, e aquele círculo estreito que traça a cotia na car­reira era por demais mesquinho para as suas am­bições de largo fôlego.
     Sentado à beira do caminho, a poucos pas­sos do carreiro, enquanto Rompe-ferro e Corta- vento ganiam na capoeira, à procura do rasto, o nosso homem parafusava grandes coisas: o ser­tão, a mata virgem, uma perrada valente, espin­garda Laporte, chumbo paula-sousa, faca lam­bendo, acuação de pintadas nas furnas pavorosas, e ele, ele mesmo, nho Chiquinho da Sirva, encafurnando-se aos berros, açulando os cães, enfren­tando, por fim, um macharrão a urrar de tremerem as grotas; e afinal ele, nho Chiquinho da Silva, por entre o retintin-ratantan dos ganidos afinados, a chegar, a fazer longa pontaria, a desfechar a Laporte uma, duas vezes, e a arrancar em se­guida a tira-prosa faiscante, porque o bicho, embora mal ferido, vinha pela fumaça atacá-lo com fúria desmedida.
     E eram então as cutiladas no barranco, e com tal entusiasmo que, de uma feita, a cotia passou sem que ele a pressentisse.
     Assim a ideia de conhecer o sertão se radica­va dia a dia no espírito do velho algoz das inofensivas cotias.
     Todavia, uma coisa incomodava o nosso Esaú pelado: era que, quando, passados aqueles momentos de rapto venatório, de cutiladas no bar­ranco ou na parede esburacada do casebre; quando, metido debaixo dos lençóis, altas ho­ras da noite, o espírito se lhe apoucava pelo temor das almas, dos sacis, das mulas-sem-cabeça, e ele se punha a pensar de novo naquela cena fi­gurada do macharrão a urrar no escuro da sarapilheira, — então, uma como bolinha de gelo lhe vinha rolando pela coluna dorsal abaixo, e a cafurina se lhe eriçava. Encolhido, com a ca­beça coberta, suando, Pipoca tinha nesse instan­te uns rasgos de louvável honestidade:
     — Quá! — dizia ele consigo mesmo — tô vendo que quando chegá a hora triste, este mardiçoado friu me vae pregá ua massada das dúzia!
     E lá do fundo de sua alma de cotieiro subia uma revolta sincera contra a bolinha de gelo des­astrada, que ameaçava reduzir a cinzas o sonho por tantos anos acalentado.
     Mas apenas nascia a claridade matutina e o sol, dissipando as trevas, dissipava também os mistérios, os bruxedos, de novo Chico Pipoca se considerava homem e a perspectiva do macharrão voltava a enfeitiçá-lo. Ah! que não daria ele para dizer aos caboclos da redondeza: — "Aqui está o couro de uma pintada, que matei em luta perigosa, sozinho, nas brenhas do sertão!"
     E então, olhando para as capoeiras de vassoura e de outros matinhos-pócas onde só se viam carreiros de cotias, e onde só se ouvia o piado dos xintans e xororós, um quase desespero lhe invadia a alma. Aquilo ali não era vida para um homem como Chiquinho da Sirva!

*
*  *

     Um dia de calor, em que o ar tremia como cordas de violão feridas, e no silêncio absoluto só se ouvia o piado triste do sem-fim nos cambarás carapentos do cerradão, estalou a porteirinha do sitieco, lá em cima, na boca da capoeira rala; e um cavaleiro surdiu, ao passo bamboado de uma besta ruana, com o picuá a agitar-se na garupa, como as asas de uma garça.
     Chico Pipoca, roceiro da gema que era, es­tava "tirando um corte" àquela hora, resupino, a sonhar com o macharrão na grota.
     Aos latidos dos cotieiros, nha Faustina foi até a porta, espalmou a mão na testa, espreitou longamente, e afinal reconheceu no cavaleiro o compadre Zeferino, que havia dez anos se retirara para umas terras distantes, nas margens do Tietê, dali a vinte léguas, onde fora abrir um sítio.
     Mal reconheceu o compadre, nha Faustina sururucou para dentro e foi acordar o bem-aventurado marido, que roncava já, no risco de perder a sua bem-aventurança com um grave pesadelo.
     Nha Faustina, desastradamente, pregou as unhas na barriga do esposo, justamente na hora em que o macharrão, chumbeado, mas de pé, com as fauces rubras escancaradas e a dentuça à mos­tra, firmava um bote certeiro sobre o caçador que, havendo tropeçado num toco, rolara por ter­ra, perdera a espingarda e debalde procurava coser a onça à faca, porque a lâmina se transfor­mara em barra de sabão!
     Resultado: ao bote de nha Faustina, corres­pondeu um berro e um prisco de Pipoca, que daquela feita espipocou os olhos desmesuradamente.
     Tá maluco? — perguntou nha Faustina.
     Ué! pois onde já se viu acordá um home unhando a barriga dele desse feitio!
     Corde é que é, su samoco! Cumpadre Ze­ferino tá aí.
     Quem?
     Compadre Zeferino, já disse.
     O que? devéra?
     De certo é mentira. . .
     Mas nisto as esporas do Zeferino resoaram no solo pisado da saleta e a voz amiga, que não se ouvia há dez anos, entrava com alvoroço nos corações saudosos.
     Foi um dia cheio para a pequenina choça.
     A prosa cerrada abrangia a todos e a tudo, minúcia por minúcia. A Tudinha, contava o Zeferino, que fora dali apenas com quatorze anos, já tinha uma ponta de seis filhos que eram uma boniteza! O Tonho andava para casar-se. Já tinha um sítio "de seu", com uma invernada ca­paz de engordar um esqueleto! Ainda agorinha mesmo ele havia mandado para lá o seu Brioso.
     O Brioso? Pois ainda veve aquele burro?
     Ora se veve! E forte que dá gosto! É o meu puxa-manjarra de todo dia.
     E Pombinho, o cotieiro?
     Ah! esse já morreu faz um secro. Uma pintada moeu a cabeça dele numa acuação.
     Os olhos de Pipoca brotaram das órbitas, mas a maldita bola de gelo rolou, sinistra, pelo fio do lombo.
     — Não cortando sua conversa — disse Pipo­ca — ainda hai muita pintada por aquela banda, compadre ?
     Agora não hai quage. Só de vez em quando remanesce uma passageira; não demora.
     Ah, compadre! Se vacê subesse a chianha que eu tenho de dá um panasio nua pintada, com­padre! Que vontade de vê mato, mais mataria braba de verdade! Tô cansado de vê estas porquêra de bassora que não tem fim. . .
     Pois é só arresorvê — atalhou o Zeferino. Arreie o Pilintra e bamo.
     O Pilintra morreu picado de cobra, mais porém tenho agora ua éua rusia que é uma tirania de boa.
     Pois soque fubá na rusia, compadre, e toquemo. Eu demoro por aqui uns oito dias. Dá tempo de introchá ela de fubá. Olhe que daqui lá é um pedaço de chão.
     Pipoca pôs-se a coçar a grenha.
     Como é, nha Fostina? Vô u não vô?
     Ué! eu não trapaio mecê. Qué? pois vá.
     Mais há de sê pra vortá, não é, comadre? - disse o Zeferino.
     Se quizé que fique tamem por lá. . . Eu sei como é que hi de fazê.
     E não é que nóis vae mermo, compadre? - exclamou o Pipoca.
     — Tá feito! — respondeu Zeferino.
     Durante o jantarzinho caipira, com o quarto de uma cotia afogadinho pela perícia de nha Faus­tina, não se falou senão na viagem, que era para o Pipoca uma lança em África.
     Vinte léguas! — monologava ele. Olhem lá que eram vinte vezes a distância do sitieco à vila, única viagem que ele, o Zé Curruira, seu pai, e o Quim Raposa, seu avô, haviam jamais empreendido. Era preciso ter pacuéra para aventurar-se a vinte léguas. Assim, só pensar naquilo já lhe causava tonturas. Grande recom­pensa para sua alma estava na convicção de que ele era capaz de um tal rasgo de coragem.

*
* *

     Quando no bairro do Quilombo correu a nova de que o Pipoca ia apinchar-se lá para os sertões do Zeferino, o assombro foi grande e os comentários intermináveis.
     Uma loucura, que até ali só coubera na cabe­ça do Zeferino, um homem que sempre fez as coi­sas de arrepio com o ramerrão daquela gente. E tão pessimistas foram esses comentários, que Pipoca esteve a pique de roer a corda e de perder a convicção de que era homem.

*
*  *

     Passou-se a semana, com o regalo da rosilha que tirou o ventre da miséria.
     Chegou a hora da partida. Nha Faustina não podia esconder as lágrimas, que ia enxugando na manga do paletó. Chico Pipoca arregalava os olhos e deglutia em seco, com um nó invencível na garganta.
     E lá se foram os dois cavaleiros, seguidos de Rompe-ferro e Corta-vento, entre nuvens de poei­ra erguidas pelos animais sofrivelmente cangiqueiros.
     A pica-pau de Pipoca, untada de fresco, lampejava ao sol.
     Os pousos eram mais ou menos de cinco em cinco léguas, de maneira que a viagem se fazia em quatro dias. Uma puxada braba! — dizia Pipoca ao cabo da primeira jornada, que o fez supor que este mundo não tem fim.
     Derreado, mas são e salvo, o esposo de nha Faustina apeou-se afinal no sitio do Zeferino, cercado de soberbas matas, o sonho de Pipoca. Olhando-as embevecido, ele exclamava de si para si: — Esta viage foi ua temeridade; mais valeu a pena! Só vê este mundo de matão enche o coração de ua criatura!

*
*  *

     Marcou-se logo para o outro dia a batida aos macucos encantados. Só a palavra macuco en­cerrava para o caçador de cotias um encanto inenarrável. Sim, era-lhe um sonho achar-se em mata de macuco. Acreditava morrer sem essa ventura infinita, e a realidade fazia com que a sua alma se desabrochasse numa prece de grati­dão, toda quente, muda, ainda que vaga, sem que ele próprio soubesse a quem ela se dirigia, se a Nossa Senhora da Aparecida ou se a S. Bento de Araraquara.
     Ouvindo o piar dos macucos ao entardecer, à hora do empoleirar, o gralhar das araras em bandos, o martelar festivo dos gaviões caans nas alvoradas sertanejas, Pipoca sentia vergonha de falar em cotias e outras "imundícias"; procu­rava a todo custo varrer do espírito a imagem ignominiosa do seu rancho, do vassoural, e tinha ímpetos de estrondar a cabeça do Rompe-ferro e do Corta-vento, rastos impagáveis, ali, da sua miséria ainda viva.
     E foi assim que ele penetrou na mataria fresca, a ostentar as amplas copas das figueiras brancas, cujas raízes, como para-ventos descomunais, abrigavam os caçadores de macuco.
     Pipoca media de alto a baixo, com os olhos cúpidos e extasiados, os troncos gigantescos, as frondes augustas, entestando com as nuvens, onde as arapongas rangiam e malhavam, desafiando- lhe a pica-pau.
     Zeferino tomou do pio e o primeiro piado, triste, foi morrendo pelas grutas. Momentos de­pois vinha a resposta.
Com ela, o coração do Pipoca pôs-se a pular-lhe papo acima.
     A respiração ofegante não lhe permitia es­conder a emoção que o esmagava. No pescoço pelancoso latejavam-lhe as veias em golfadas valentes.
     Novo piado; nova resposta, mais perto. Os dois matutos estendiam a vista por todas as frestas, à cata da presa arisca.
     Afinal, começaram a ouvir-se estalidos secos de folhas e gravetos. Com pouca demora, numa aberta, divisou-se o lindo pássaro, a menear a cabeça indagadora, em que luziam dois olhos líquidos e leais.
     Malhe fogo! — disse baixinho o Zeferino.
     Pum! — foi a resposta de Pipoca. A ave estrebuchou com a chumbada certeira.
     Não se descreve a alegria do cotieiro. So­pesando a soberba caça, o rosto lhe fuzilava e a voz saía-lhe aos trancos do peito opresso. E di­ga-se que não há felicidade na terra!

*
*  *

     Não era preciso continuar na selva. Podiam regressar. Para que mais tiros ou macucos? Voltaram. Pipoca não falava noutra coisa.
     Amanhã — disse ele — nóis vorta e leva otro bicho.
     Compadre, — respondeu Zeferino vacê tá em sua casa. Fique aqui o tempo que vacê quizé; mais eu já le vô aprivinindo que não le posso acumpanhá nas caçada. Tenho muito ser­viço atrasado que recrama agora trabaio.
     Pois sim, compadre, pois sim... Eu ve­nho só — obtemperou Pipoca; mas sentiu que a bolinha fria lhe foi rolando pelo espinhaço.
     Não obstante, o amor próprio, e o desejo de novos tiros e novas sensações aliadas à crença de que naquelas matas já não havia onça pintada, se não as passageiras de que falara o Zeferino, fizeram-no firmar-se na resolução de voltar.
     — Que sim; que iria só.
     E, de fato, no outro dia, lá foi ele entrando pela mata ainda orvalhada. E com tal felicidade, que topou uma jacutinga desgarrada, ave que há muito não se avistava por ali. Novo tiro e nova presa.
     Diante de uma tal sorte, Pipoca esqueceu-se de tudo, tudo; até de nha Faustina. O prazo que ela lhe marcara para a volta escorrera veloz sem que ele desse pela coisa. Para ele o tempo já não tinha divisões; não sabia mais ao certo o dia da semana em que se achavam, nem a quantos do mês rolava o mundo; tudo se lhe transformara num retalho da eternidade em que havia uma úni­ca bem-aventurança: entrar na selva e matar ma­cucos e jacutingas.
     Aos poucos foi-se orientando na mata, de mo­do que poderia internar-se sem perigo.
     Certo dia atingiu um capão de taquara, cer­rado e convidativo para a tocaia.
     Enfiou-se por ali, escondeu-se, deixou morrer o barulho de seus passos, e piou.
     Por muito tempo não se ouviu resposta, nem ruídos, até que afinal um baralhar de ramos chamou a atenção do cotieiro.
     Fixou a vista, abriu a boca, esfregou os olhos e reacendeu-os desmesuradamente. Que via? Uma oncinha pintada, um filhote assim já meio res­peitável.
     Atiro ou não atiro? — perguntou ele aos seus botões, trêmulo de comoção.  Haverá ou não haverá perigo?
     E enquanto esperava que o animalzinho lhe ficasse em posição favorável, dissiparam-se-lhe to­das as dúvidas.
     Atiro — respondeu por fim. Mato este bicho e despois posso contá que matei onça pinta­da. Não perciso dizê que era pequena.
     E sempre a tremer, ergueu a arma, fez longa pontaria e atirou rente com a paleta. A onci­nha rolou por terra, estorcendo-se e estalando nos dentes as taquaras que alcançava, no desespero da morte.
     Estaria quase realizado o sonho de Pipoca, se não começasse ele a ouvir, de um lado, ronco soturno, ameaçador. Era da onça-mãe, que por ali se achava e acudira a defender a cria.
     E Pipoca tinha a pica-pau descarregada!
     O terror que dele se apoderou excede à al­çada de uma descrição. O medo fê-lo resoluto, como sucede às vezes com o rato, que apertado entre quatro paredes e vendo-se agarrar por um bichano, atira-se-lhe ao focinho na ânsia de viver.
     O ronco ia rodeando o capão de taquara, apertando o círculo cada vez mais.
     Chico Pipoca, quando o círculo deveras se estreitava, sacudia um punhado de taquaras, cujo rumor fazia com que o animal atirasse um pulo e afrouxasse o assédio.
     Enquanto isso, o pobre cotieiro, quase morto de pavor, tratava de carregar a pica-pau, cometendo, porém, como era de esperar, vários enganos que lhe iam comprometendo a situação. Ora esquecia-se de colocar uma bucha, ora pu­nha chumbo do meio em vez de paula-sousa...  Ai, bola de gelo! bola de gelo!
     E o ronco a apertar o arrocho. O ronco, di­go, porque a fera não se deixava entrever.
     — Minha Nossa Senhora da Piadade! Meu S. Bento de Araraquara! — exclamava o nosso homúnculo quase a soluçar.
     Afinal conseguiu a carga desejada, e chega­ra a hora de um tiro arriscadíssimo.
     O círculo roncador fechou-se ainda uma vez, e por fim, numa aberta, as malhas negras, va­riando um fundo creme-claro, apresentaram-se aos olhos hiper-pipocados do Pipoca.
     Meu Santo Antonio, ajudai-me! Mando rezá dez missa pras arma do Purgatório!
     Pum! — partiu o formidável tiro, que por um triz não pôs em cacos a velha espingardinha cotieira. Mas o chumbo grosso varou o coração da fera, que reproduzia, em grande, a cena há pouco descrita com relação à oncinha: estorcia-se, arrancava arbustos com as unhas e estalava as taquaras na agonia.
     Pipoca atorou pelo mato como um veado.
     Respirava, vivia. Quando conseguiu sair na tiguera, sentou-se esbofado, em um tronco de peroba derribado, por cujos galhos secos trepava uma viçosa aboboreira. Era preciso compor fisionomia, de modo que não traísse o medo que curtira naquela moita de taquaras, onde acabava de passar o transe mais amargo de sua vida.
     Carregou a pica-pau, mirou-a longamente, apertou-a contra o seio, beijou-a, amimou-a ao lon­go de todo o cano e, depois, tocou para casa. Vinha estudando uns modos de chegar e de falar que dissimulassem completamente o que acabava de sofrer. Era fino, Chico Pipoca, isso lá era. Para engendrar uma fitinha, estava só!
     Ué, compadre, vortô sapatêro — pergun­tou o Zeferino.
     Caçadô véio não vorta sapatêro, compa­dre. Vim buscá vacêis pra me ajudá a tirá o côro de duas onça.
     Havéra de tê graça! — retrucou o Zefe­rino.
     Essas onça eu asso no dedo — acrescentou rindo a comadre Valentina.
     Não tô caçoando — prosseguiu Pipoca. Nunca se vi nesses apuro; mais porém caçado véio não se aperta. Eu tava piando macuco dentro de ua tocêra de taquara, quando de re­pente o mato garrô a mexê ansim nua baxada. Espiei e vi as maia de ua pintada. Não cuxilei. Preguei fogo! A bicha ainda tava se trocendo no chão, arrebentando tôco de taquara, quando senão quando remanesce, roncando, a onça gran­de. Eu coa espingarda descarregada! Vacês maginem só que apuro, minha gente! A bicha garrô rodeá o capão de taquara, e ia apertando o circo cada vez mais. Às vez ela passava tão rente comigo que eu. . . que eu. . . inté chegava a chuçá ela co'a ponta da espingarda, que era só prisco que ela dava. Palavra!
     Este "palavra" era sinal infalível de uma peta enxertada numa trama de verdades, sempre que Pipoca se punha a descrever um acontecimen­to mais ou menos cheio de peripécias emocionantes.
     A bicha — continuou ele — vortava de novo roncando nua toada. Home pra que hi de minti: quage que sinti uns arrepio no fio do lom­bo. . . coisa que nunca tive na minha vida.
     Afinar consegui corrê uns paula-sôsa nesta boniteza de espingarda (e deu um beijo na pica- pau) e tranquei fogo no bichão macota. Deixei ela ainda estrebuchando no mato... Há de tá lá...
     Ué! — observou o Zeferino — porque não esperô morrê?
     Aqui o Pipoca se viu atrapalhado para res­ponder, mas saiu-se com esta:
     É que eu fiquei cum medo que não désse tempo de tirá o côro hoje...
     Houve um silêncio indicador de que ninguém engolira aquela pílula, e na alma de Pipoca, des­ceu, fria e cortante, a convicção de que toda a sua fleuma postiça, estava comprometida para sempre. Cumprira-se o seu receio de que a maldita bola de gelo havia de sacrificá-lo na hora decisiva.

*
* *

         Pipoca voltou para o sitieco, acompanhado de Rompe-ferro e Corta-vento. Trazia os dois troféus de suas façanhas, com os quais encheu de prosa todo o bairro; mas guardava consigo, no âmago, indestrutíveis e minazes, como ferru­gem, duas convicções atrozes: a de que envelhe­cera alguns anos naqueles poucos dias, e a de que a bola de gelo, que rola pelo espinhaço de um mor­tal, é doença para que não há cura neste mundo. E esta foi a eterna amargura da sua alma.

Do livro Selvas e Choças
São Paulo: Imprensa Metodista, 1922

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quinta-feira, 25 de abril de 2013

O Silêncio é o que é





Escrevia silêncios”
Arthur Rimbaud
 

O silêncio é a garrafa vazia que chega à praia,
o silêncio
é no fundo do mar
um peixe ébrio por excesso de cores,
é a onda que vem bordar a beira mar
e esquece-se do regresso, mas como
não o esquecimento?
Se uns pés passam como verdade
descalça na praia. A solidão
do silêncio
é uma vez passado o pássaro
o ar torna ao sossego.  É o silêncio
uma harpa à espera ou um velho
gato a jogar xadrez ao sol.
Como os dedos da mão, não há
um silêncio igual a outro.
 
 
20/4/2013
© J.T.Parreira  

sábado, 20 de abril de 2013

Passam a mão pelo rosto





“Aqui cada um é o seu próprio
carcereiro, irreconhecível
e anónimo.”
Paal Brekke (Poeta noruguês,trad. Amadeu Baptista)

 
 
Passam a mão pelo rosto e não encontram nada
o nariz adunco
faz uma curva para o abismo, os olhos
sem possibilidade de evasão, os lábios
apenas com a sintaxe da dor
São estranhos
marcados com seis pontas estelares
como uma roda dentada
que tritura o corpo
Passam com as mãos nos ouvidos
e sentem a falta das canções maternas.

18/4/2013
©  J.T.Parreira



(Foto de Dachau Concentration Camp)

sábado, 13 de abril de 2013

Terra Santa, poema de Iossef Milbauer



Terra Santa

Iossef Milbauer

Tradução de Jacó Guinsburg

Eu estava lá no primeiro século da era cristã.
Sobre o pátio de Deus relinchavam os cavalos.
Tito, vitorioso, sofria de um mosquito nos miolos.

Eu estava lá no segundo século da era cristã.
O país estava cheio de cruzes e de clamores.
Eu vi Ricardo Coração de Leão como vejo a você.

Eu estava lá no ano 1946 da era cristã.
Um homem sentado sobre uma pedra
olhava os muros da velha cidade.
Procurava a pomba, procurava a Presença.
Em seu coração soluçavam seis milhões de silêncios.
Um soldado cujos olhos sonhavam com o Tâmisa
o aborda e lhe diz: “Identity card, please”.
Curioso, queria ele ver seu cartão de identidade.
O outro mostrou-lhe seu braço numerado.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Natércia Sarander



Natércia Sarander

Despair. Desespero.
Próximo ao tornozelo direito.
Vermelhas.
Letras vermelhas tatuadas.

Era psicóloga do DEGASE, lotada no Instituto Padre Severino, reformatório para menores infratores localizado na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro.
Meu primeiro contato com o sobrevivente Viktor Frankl foi através dela.

Não que ela fosse pedófila ou pervertida, nada disso.
Tudo calhou: sua separação, sua dor, minha detenção, minha dor, literatura, terapias, olhares de fome paradisíaca. Dois esfaimados de paraísos.

O beijo não foi iniciativa de ninguém. Simplesmente beijamo-nos, uma inevitabilidade assim como o nascer do sol ou a morte de uma mosca três dias depois de nascida. Ficaria bem se apenas nisso, mas fomos além. Dezessete anos, trinta e quatro anos.

Quando fiz dezoito e saí, ela reuniu coragem e levou-me para sua casa. Nada de crimes, Guil. Nada de crimes, Natércia.
Os vizinhos que se danem. Toleram o casal gay, nada podem dizer de nós, e você tem esse carão de homem mais velho, e já é de maior.

A casa sem ela nos dias de semana. Todos aqueles livros. Parava depois de doerem-me os olhos. Trinta minutos, me recuperava e voltava para aqueles homens cheios de histórias e sugestões.

Você precisa arrumar um emprego logo. Todos esses livros. Está lendo mais do que eu!

A vergonha foi do dia em que uma das vizinhas de andar perguntou se eu era filho dela. Velha escrota, sabia que não. Velha escrota, uma faca nessa glote ficava-lhe bem. Deus me perdoe, é preciso suportar, como Frankl. Pô, nada a ver. Mas é preciso suportar.

No segundo mês ficou difícil, estresse no Instituto, a mãe dela ficou sabendo, ‘sou liberal sim, mas isso é demais!’, ruim de conseguir emprego.

Janota pode me conseguir um emprego no ferro-velho. Nada de desmanche, longe disso. O ferro-velho é legalizado, trampo limpo. Se começar a aparecer peça roubada eu pulo fora. Cadeia não.

“Que história hein seu Guil! Então arrumou uma mulher e agora quer trabalhar de verdade? Seguinte: aqui o pau come. Não tem arrego não. Olha o Pedrão ali, é só fardo de papelão molhado e prensado, sacão de latinha de alumínio nas costas, ferro e o escambau. Mas você não caguetou ninguém quando rodou, então eu, como sujeito homem, tenho que te dar essa moral.”

Não demorou uma semana, cinco dias no máximo. Eu até que estava aguentando o tranco numa boa. O Queixinho apareceu com umas muambas. Entrou no escritório, conversou com Janota. Saiu e descarregou tudo no pátio. Pega isso aqui Pedrão, leva pra cima.
Depois perguntei ao Pedrão, que parada era aquela. Liga não Guil, são umas peças que o Queixinho arrumou.
Poxa Janota, cê falou que não rolava treta. Liga não Guil, parei mesmo, mas essa tava muito barato, e o Queixinho tava dependendo...

Sabe, o acaso, assim como o azar, não existe. Mas ambos armam ciladas. O esquema das peças era grande, o dia era mau, a casa caiu em cascata.
Queixinho era cunhado de Luizão, um PM safado lá do Batalhão de São Cristóvão. O PM arrumava as peças, elas eram simplesmente retiradas do depósito de carros apreendidos pela polícia, os carros que ficavam lá abandonados pelos donos, que não podiam mais arcar com as multas e taxas. Queixinho era um dos encarregados de se desfazerem das peças, revendendo-as onde desse.

O comandante do 4°BPM fora exonerado, e novo comandante do Batalhão de Luizão resolveu acabar com a farra, que já era de conhecimento de quase toda a hierarquia. As batidas da Civil e da Corregedoria da PM foram simultâneas em vários lugares.

Chegaram miseravelmente na hora do almoço, antes das 13h00. Eu sabia que era a bronca das peças. Só estávamos eu e o Pedrão no ferro-velho. Eu iria rodar no artigo 180, Receptação, e possivelmente no 288, Formação de Quadrilha. Isso não era nada. Mas a vergonha para Natércia, não, ela me salvara do abraço de todos os satanases deste e do outro inferno. Essa vergonha, essa decepção, nunca! Pulei do parapeito da janela, ainda com a boca cheia do frango da marmita. Entrei no carro de Janota, que tinha ido almoçar em casa, a pé. Essa vergonha ela não iria passar. Gritos, tiros, para-brisa traseiro detonado à bala. O azar não existe, mas arma ciladas. Entrei em casa, eles não estavam me perseguindo. Era sábado, ela estava em casa. Deveria estar em Irajá na casa da mãe, mas estava em casa. Mas eles estavam me perseguindo. Antes de eu começar a explicar, antes de eu conseguir colecionar em meu coração as palavras que ofereceria à mulher de minha vida, eles arrombaram a porta. Ela estava parada, com o telefone sem-fio na mão, me perguntando o que tinha acontecido, por que eu estava lívido. Ela deveria estar na casa da mãe. O primeiro que arrombou a porta disparou.

Depois alegou que confundiu o telefone com uma arma, olhou para os cabelos curtos dela e achou que era um homem, e estava armado. Disse que não teve opção.

*   *   *   *   *   *   *   *

Por um milagre, ou um encadeamento de milagres, escapei de ser preso. Já se passaram oito anos. Casei-me e tive um filho, Viktor, esse garotão aqui no meu colo. Estou aqui neste culto da Assembléia de Deus em Guadalupe, a pregação de hoje foi sobre Jó, seus amigos e o perdão, e eu lembrei-me de Natércia. “Sociedades se constroem com perdão”, era a frase com que ela iniciava e terminava as seções de terapia coletiva, era a  máxima e o mote da psicóloga que amei. E isso foi sendo fincado nas pedreiras dos corações de toda aquela molecada perdida, palavras na brita, mantra a puxar o comboio de tudo o mais que ela nos ensinou.

Até hoje esforço-me em realizar esta máxima. Agora que encontrei a Cristo, entendo a eficácia equalizadora do perdão.

Por vezes creio firmemente que perdoei, e tenho certeza e paz; mas por vezes meu coração recorda e endurece até a morte. Não me vinguei, mas fui fundo no rastro dos porcos, pus uma mão na maçaneta da portinhola do inferno: descobri até onde o policial morava, viciado de merda, tinha duas famílias, duas vadias que prestavam-se ao papel. Cheguei a apontar uma pistola na cabeça de Queixinho. E o traíra do Janota, quando rodou bateu pros meganhas que eu sabia e participava do esquema. Ia incendiar-lhe a casa, crianças, o cão e tudo, mas não me vinguei de ninguém, não matei nenhum deles.

Mas como disse, cheguei a dar meio giro na maçaneta da porta. Dois anos depois de perder Natércia, conheci uma menina, no mesmo dia em que ia matar o policial. A história é longa, sei que você está curioso. Aquele dia foi mesmo um filme. Mas o que importa é que ela deu-me alento, me carregou pra igreja, me fez voltar a estudar. A poucos metros de minha vingança, perdoei o homem que havia cancelado minha família, a única que tive, e um milagre, ou um encadeamento deles, levou-me (poucos metros adiante!) até aquela que seria uma outra família para um homem sem qualquer esperança e nada a perder, mas, ainda que renitentemente, disposto a acreditar no perdão.

Hoje eu tenho minha vida, meus livros, minha esposa e meu filho. Prestei vestibular pra Psicologia e Sociologia, passei em Sociologia, me formo este ano. Continuo com minha fome de paraíso, que hoje é silenciada pelas promessas de Cristo, meu do tesouro mapa e salvo-conduto para a Paz. Descobri (ou confirmei) que não existe acaso ou azar: há erros e acertos, há crimes e castigos, ação e reação. E há o perdão, a quebra dessas cadeias, a mão de Deus equalizando as coisas, a única forma de vencer.

Ela sabia.

Sammis Reachers

sexta-feira, 5 de abril de 2013

ANNE SEXTON TUDO EM MIM É UM PÁSSARO


 
 
"Tudo em mim é um pássaro.
Adejo com todas as minhas asas."
(Anne Sexton, poeta americana, 1928-1974)

 
 
A sua vida começa pelo fim
não é fácil
livrarmo-nos da morte, os fumos
do escape a cegarem seus olhos
com as lágrimas
Escrevia cartas de censura a Sylvia Plath
porque lhe roubara a morte, arrastando-se
primeiro ao seu regaço
a morte que estava pegada à sua pele
que respirava, escondida, dentro dela
da beleza dos seios, bebendo-a
como o leite da aurora.

1/4/2013

© J.T.Parreira
 


terça-feira, 2 de abril de 2013

Oito poetas evangélicos reunidos num livro gratuito - Antologia Águas Vivas Volume 3



O Projeto Águas Vivas teve início em 2009. Ele nasceu com a ideia de divulgar a boa produção de poetas evangélicos contemporâneos, do Brasil e de Portugal, estreitando os laços entre autores e leitores, através da democratização do conhecimento que o livro eletrônico e gratuito proporciona. E ainda incentivar a produção, a um tempo insuflando conteúdo e ampliando o espaço de publicação, tão escasso na seara literária evangélica, notadamente em sua vertente dedicada à ars poetica.

Uma das estratégias aqui adotadas é consorciar a participação de autores já de alguma maneira consagrados, ao lado de iniciantes que representam desde já boas promessas literárias. E mais que uma antologia de poesia evangélica, esta é uma antologia de poetas, pois, embora a poesia francamente cristã seja o carro chefe desta seleta, damos destaque também a textos de temática diversa, conforme a livre expressão dos autores.


No segundo volume, que veio a lume em 2011, estão antologiados os poetas: Antonio CosttaFlorbela Ribeiro,Fabiano MedeirosFlávio AméricoJorge PinheiroNorma Penido e Rui Miguel Duarte.

E agora, dando voz e continuidade à doce fruição de águas vivas que é a poesia, reunimos a literatura de oito autores: os brasileiros Francisco Carlos MachadoGeorge Gonsalves,Heloísa ZachelloJohn Lennon da SilvaJulia LemosSilvino Netto e Sol Andreazza, e o lusitano Manuel Adriano Rodrigues.

Que os versos de nossos irmãos, irmãos esses oriundos das mais diversas cores denominacionais do Protestantismo, e usuários de variados estilos de escrita, possam tocar as cordas do coração de cada leitor, entoando juntos a música (a um só tempo) devocional/sentimental/intelectual/estética, que, dentre todas as ditas Nove Artes, só a Poesia pode orquestrar.

Para leitura online ou download no site Scribd, CLIQUE AQUI.
Para download pelo site 4Shared, CLIQUE AQUI.

*Caso tenha dificuldades em fazer o download, por favor, solicite-me o envio por e-mail: sammisreachers@ig.com.br

**Você pode redistribuir (sempre gratuitamente) este e-book entre seus amigos e contatos, bem como reproduzir este post em seu site, blog ou outra mídia, sem necessidade de prévia autorização.


Sammis Reachers, organizador.
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