sexta-feira, 28 de agosto de 2015

HAMLET EM ÍTACA








Tecer ou não tecer, eis a questão
O que é mais nobre, esquecer Ulisses
Que os seus olhos despem Circe e as Sereias
Enquanto não regressa dos mistérios
Sofrer as provocações do ciúme e da saudade?
Morrer, dormir, não mais; ou antes com o coração
Nos dedos, nos dedos como armas fazer
E desfazer o fio da teia, dos vestidos
Que a nudez do amor percorre no tear?
Até mergulhar meus olhos nos olhos de Ulisses.

28-08-2015

© João Tomaz Parreira  

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

AINDA ME LEVANTO, de Maya Angelou


Ainda me levanto

Maya Angelou

Podes inscrever-me na História
Em mentiras amargas e retorcidas.
Podes espezinhar-me no chão sujo
Mas ainda assim, como a poeira, vou-me levantar.

Minha impertinência incomoda?
Por que ficas soturno
Ao me ver andar como se tivesse em casa
Poços de petróleo jorrando?

Como as luas e como os sóis,
Como a constância das marés,
Como a esperança alçando voo,
Assim me levanto.

Querias ver-me alquebrada?
Cabeça pensa e olhos baixos?
Ombros caídos como lágrimas,
Enfraquecida de tanto pranto?

Minha altivez o ofende?
Não leve tão a peito assim:
Eu rio como quem minera ouro
Em seu próprio quintal

Podes fuzilar-me com palavras
Podes lanhar-me com os olhos
Podes matar-me com malevolência
Mas ainda assim, como o ar, eu me levanto

Minha sensualidade perturba?
Por acaso te surpreende
Que eu dance como quem tem diamantes
Ali onde as coxas se encontram?

Do fundo das cabanas da humilhação
Me levanto
Do fundo de um pretérito enraizado na dor
Me levanto
Sou um oceano negro, marulhando e infinito,
Sou maré em preamar

Para além de atrozes noites de terror
Me levanto
Rumo a uma aurora deslumbrante
Me levanto
Trazendo as oferendas de meus ancestrais
Portando o sonho e a esperança do escravo
Ainda me levanto
Me levanto

Me levanto

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Uma Didática da Invenção, poema de Manoel de Barros


Uma Didática da Invenção

1.
Para apalpar as intimidades do mundo é preciso saber:

a) Que o esplendor da manhã não se abre com faca
b) O modo como as violetas preparam o dia para morrer
c) Por que é que as borboletas de tarjas vermelhas têm devoção por túmulos
d) Se o homem que toca de tarde sua existência num fagote, tem salvação
e) Que um rio que flui entre 2 jacintos carrega mais ternura que um rio que flui entre 2 lagartos
f) Como pegar na voz de um peixe
g) Qual o lado da noite que umedece primeiro.
etc.
etc.
etc.
Desaprender 8 horas por dia ensina os princípios.

2.
Desinventar objetos. O pente, por exemplo.
Dar ao pente funções de não pentear. Até que
ele fique à disposição de ser uma begônia. Ou
uma gravanha.

Usar algumas palavras que ainda não tenham
idioma.

3.
Repetir repetir – até ficar diferente.
Repetir é um dom do estilo.

4.
No Tratado das Grandezas do Ínfimo estava
escrito:
Poesia é quando a tarde está competente para
dálias.
É quando
Ao lado de um pardal o dia dorme antes.
Quando o homem faz sua primeira lagartixa.
É quando um trevo assume a noite
E um sapo engole as auroras.

5.
Formigas carregadeiras entram em casa de bunda.

6.
As coisas que não têm nome são mais pronunciadas
por crianças.

7.
No descomeço era o verbo.
Só depois é que veio o delírio do verbo.
O delírio do verbo estava no começo, lá
onde a criança diz: Eu escuto a cor dos
passarinhos.
A criança não sabe que o verbo escutar não
funciona para cor, mas para som.
Então se a criança muda a função de um
verbo, ele delira.
E pois.
Em poesia que é voz de poeta, que é a voz
de fazer nascimentos –
O verbo tem que pegar delírio.

8.
Um girassol se apropriou de Deus: foi em
Van Gogh.

9.
Para entrar em estado de árvore é preciso
partir de um torpor animal de lagarto às
3 horas da tarde, no mês de agosto.
Em 2 anos a inércia e o mato vão crescer
em nossa boca.
Sofreremos alguma decomposição lírica até
o mato sair na voz .

Hoje eu desenho o cheiro das árvores.

10.
Não tem altura o silêncio das pedras.

11.
Adoecer de nós a Natureza:
– Botar aflição nas pedras
(Como fez Rodin).

12.
Pegar no espaço contigüidades verbais é o
mesmo que pegar mosca no hospício para dar
banho nelas.
Essa é uma prática sem dor.
É como estar amanhecido a pássaros.

Qualquer defeito vegetal de um pássaro pode
modificar os seus gorjeios.

13.
As coisas não querem mais ser vistas por
pessoas razoáveis:
Elas desejam ser olhadas de azul –
Que nem uma criança que você olha de ave.

14.
Poesia é voar fora da asa.

15.
Aos blocos semânticos dar equilíbrio. Onde o
abstrato entre, amarre com arame. Ao lado de
um primal deixe um termo erudito. Aplique na
aridez intumescências. Encoste um cago ao
sublime. E no solene um pênis sujo.

16.
Entra um chamejamento de luxúria em mim:
Ela há de se deitar sobre meu corpo em toda
a espessura de sua boca!
Agora estou varado de entremências.
(Sou pervertido pelas castidades? Santificado
pelas imundícias?)

Há certas frases que se iluminam pelo opaco.

17.
Em casa de caramujo até o sol encarde.

18.
As coisas da terra lhe davam gala.
Se batesse um azul no horizonte seu olho
entoasse.
Todos lhe ensinavam para inútil
Aves faziam bosta nos seus cabelos.

19.
O rio que fazia uma volta atrás de nossa casa
era a imagem de um vidro mole que fazia uma
volta atrás de casa.
Passou um homem depois e disse: Essa volta
que o rio faz por trás de sua casa se chama
enseada.
Não era mais a imagem de uma cobra de vidro
que fazia uma volta atrás de casa.
Era uma enseada.
Acho que o nome empobreceu a imagem.

20.
Lembro um menino repetindo as tardes naquele
quintal.

21.
Ocupo muito de mim com o meu desconhecer.
Sou um sujeito letrado em dicionários.
Não tenho que 100 palavras.
Pelo menos uma vez por dia me vou no Morais
ou no Viterbo –
A fim de consertar a minha ignorãça,
mas só acrescenta.
Despesas para minha erudição tiro nos almanaques:
– Ser ou não ser, eis a questão.
Ou na porta dos cemitérios:
– Lembra que és pó e que ao pó tu voltarás.
Ou no verso das folhinhas:
– Conhece-te a ti mesmo.
Ou na boca do povinho:
– 
Coisa que não acaba no mundo é gente besta
e pau seco.
Etc.
Etc.
Etc.

Maior que o infinito é a encomenda.

domingo, 16 de agosto de 2015

O HÓSPEDE





(Quadro de Vermeer)


Aquele hóspede chamou a atenção do povoado.

Ninguém conseguiu ficar indiferente à passagem de Jesus por ali.

Os milagres e a forma eloquente dos seus discursos abriam as bocas de espanto, o que Ele fazia acontecer e dizia, corria velozmente nos lábios de todo o povo.

Mas foi Marta quem teve o privilégio de o hospedar em sua casa.

Como boa anfitriã que era não queria descurar nenhum pormenor para a melhor e mais acolhedora recepção ao Mestre.

Após a casa devidamente limpa e as coisas no seu lugar, iniciou os preparos da refeição. Seleccionou as melhores carnes, as melhores ervas aromáticas para o tempero, o melhor vinho, e é claro que não esqueceu a sobremesa. O pormenor da sobremesa era importante. Teria de ser preparada com todo o requinte e muito carinho.

Sim, porque para fazer uma boa sobremesa é indispensável um toque de carinho e muita ternura. Dir-se-á até que o doce perde o sabor se não tiver uma boa pitada de amor.

Para isso, Marta contava com a preciosa ajuda de Maria, para a elaboração de um almoço tão requintado.

Havia tanto trabalho a fazer ainda, mas… Maria não se aproximava para a ajudar.

Em vez disso mantinha-se na sala escutando os ensinos de Jesus.

A irresponsabilidade da irmã arreliava Marta, abeirou-se da porta e acenou-lhe para que esta se aproximasse. Absorta como estava aos pés das palavras do hóspede especial, Maria nem se apercebeu que a sua irmã a chamava.

Marta teve que ir ter com ela e em surdina disse-lhe:

- Maria que fazes aqui sentada aos pés de Jesus, quando há ainda tanto trabalho para fazer?

- Escuto o Mestre, minha irmã, e suas sábias palavras, que tanto falam ao meu coração – respondeu-lhe Maria.

- Ora, ora Maria deixa-te de desculpas e vem ajudar-me. Palavras que falam ao coração, pois sim – disse Marta com um ar arreliado – queres esquivar-te ao trabalho não é verdade?

Maria olhou indignada para Marta e com tristeza disse:

- Não sejas injusta para comigo Marta, sabes bem que sempre te ajudo e nunca me nego a nenhum serviço, porque haveria de o fazer hoje? Se ficasses aqui um pouco a escutar o Mestre verias como tenho razão naquilo que digo.

As duas irmãs tinham diferenças de opinião sobre o aprender e a azáfama do quotidiano, entre viver de acordo com o que se deve aprender de Jesus e o cumprir meras tarefas diárias. O que é eterno e o que tem apenas vinte e quatro horas. Isso as distinguia.

- Maria, Maria tenho imenso trabalho para fazer, e não quero atrasar-me na preparação do almoço, queres tu que o Mestre fique com má impressão nossa, vendo que somos más anfitriãs? - Disse Marta com alguma tristeza na voz.

- Porque diria o Mestre que somos más anfitriãs minha irmã? Acaso achas que o Mestre está preocupado com isso? Não estará Ele mais preocupado com o estado do teu coração e da tua alma? - Tentava Maria fazer compreender a Marta.

- Mas que tens tu hoje Maria, que ainda não me disseste nada com sentido? É claro que o Mestre espera que o sirvamos com o melhor… – E a propensão de Marta para entender as coisas do espírito, começava a ceder.

- Disseste bem minha irmã. – Interrompeu-a Maria. - Mas acredita que o melhor para o Mestre, não é o almoço que com tanta azáfama estás a preparar.

No decorrer desta pequena discussão entre ambas, Jesus ia avaliando aquilo a que cada uma dava prioridade.

Finalmente, Marta resolveu pedir auxílio ao Mestre na certeza de que Ele a ajudaria, a repreender a sua irmã. Pois já estava cansada de argumentar e não entendia porque razão não obtinha nenhum resultado.

- Marta, Marta estás afadiga e ansiosa com muitas coisas. Mas uma só é necessária: e Maria escolheu a melhor parte, a qual não lhe será tirada. - Respondeu-lhe Jesus, marcando cada palavra com a sua voz mansa, mas firme, como um favo de mel.

Marta ficou sem palavras.

Para grande surpresa sua, Jesus não só não atendeu ao seu pedido, como em vez de repreender a sua irmã, repreendeu-a a ela.

Silenciosa e pensativa, regressou aos seus afazeres.

Bailavam agora na sua mente muitas perguntas, devido ás palavras do Mestre.

-Que queria Ele dizer com “uma só é necessária”? – Pensou, pensou e só as coisas terrenas acudiam à sua mente perplexa.

Acaso o trabalho não é necessário? Se ambas permanecessem sentadas aos pés de Jesus quem faria o serviço? Eram as questões mais naturais que agora bailavam dentro das suas ideias sobre o assunto.

Maria, apercebendo-se da agitação em que se encontrava a sua irmã, dirigiu-se-lhe:

- O Mestre não censurou a tua dedicação e o teu zelo ao trabalho. O problema é que tu procuraste ser-lhe útil sem primeiro buscares compreender o que Ele deseja de ti. Minha boa irmã se a nossa alma e o nosso coração estiverem vazios do amor de Deus e do seu ensino, que proveito tiraremos nós da azafama desta vida?

Marta sorriu ao ouvi-la.

© Florbela Ribeiro  

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

OS OLHOS DE DEUS


“Os olhos do Senhor estão em todo o lugar”
Prov, 15:3


Os olhos de Deus estão em todos
Os pardais, em todos os ventres grávidos
Onde as nações crescem, Deus não se esquece
Da sua criação, os seus olhos estão nos detalhes
Deus não tira os seus olhos do centro da terra
E dos seus altos fornos, os seus olhos calculam
E guardam a extensão dos oceanos, no fundo
Dos Himalaias, o olhar de Deus assegura o equilíbrio
Basta-Lhe um olhar para encolher e multiplicar
O universo, Deus não tem anos-luz
Os olhos de Deus estão na hora de ponta
No caos matemático do tráfego aéreo, os olhos de Deus
Podem contar as estrelas, e mesmo tão pouco
Não se perdem entre os nossos cabelos.

13-08-2015
© João Tomaz Parreira

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Degelo, um conto de Sammis Reachers


Degelo

Sammis Reachers

      Por ser um Pregador da palavra, fui ressuscitado.

      Eles utilizam o termo ‘reiniciado’, mas tanto faz.

      Paretástase. O nome do problema. Não o meu: morri ou penso que morri em 2.057, num acidente num quartel militar da União Europeia, onde eu era capelão. Uma explosão: só me lembro disso. Eles me relataram o resto: fui congelado numa câmara criogênica à espera de ser revivido, quando pudessem recriar in vitro órgãos para substituir os meus que foram comprometidos pela explosão.   
      Décadas se passaram. E eu, juntamente com uma dezena de outros militares que haviam sido congelados, ficamos à deriva no Tempo, esquecidos num bunker subterrâneo, sub-vivos apenas pelo fato de o complexo ser autogerenciado energeticamente, o que garantia seu funcionamento sem a interferência humana.
      Mas voltemos à paretástase. Uma disfunção cromossômica, uma anomalia surgida no DNA alterado de toda uma cidade-estado. Efeito colateral causado por uma mutação induzida: para suportar as radiações gama, decorrentes da passagem do cometa Astianax C1b, em 2.129 o Naga Bei de Berlitz (um tipo de senhor feudal, comum nas cidades-estado e ligas citadinas surgidas na Europa depois do quase esfacelamento da civilização), resolveu alterar geneticamente toda a sua população, na época uns treze mil seres humanos, além de animais e híbridos. O objetivo era que eles suportassem as radiações sem a necessidade de trajes especiais, pois todo o tetra-amianto requerido para a fabricação de tais trajes estava alocado na China, e o Império Chinês, fragmentado e conturbado em seus próprios conflitos, não o vendia para ninguém. O pouco tetra-amianto que havia, era fruto de contrabando.
      O Naga Bei imaginava, além de garantir a sobrevivência de sua população fora dos edifícios e túneis, melhor capacitar suas tropas para atacar alguns adversários mais indefesos.
      O plano deu certo: as mutações mostraram-se eficazes, a radiação gama passou a ser de alguma maneira metabolizada pelos organismos. Mas apenas dois anos depois surgiram, como numa epidemia, os múltiplos casos de paretástase. As células mutantes passaram a rejeitar algumas monoaminas, substâncias/moléculas fundamentais para a manutenção da vida. Os cientistas do Bei não conseguiam reverter o processo inicial de mutação, e nem impedir o avanço da nova enfermidade.
      As Ligas Hanseáticas (a caricatura que restou de um organismo governante transnacional na Europa), cientes do problema, resolveram instalar uma ainsterdome, um tipo esquisito de domo ou barreira tecnobiológica, capaz de marcar, rastrear e eliminar (via biodrones) qualquer forma de vida. Neste caso, todos os habitantes de Berlitz foram marcados e isolados, impedidos de deixar o perímetro da cidade. A mutação era retransmitida de pais para filhos, e era de ordem das Ligas que ela não se espalhasse. Também não era do interesse das Ligas ajudar como fosse a população de Berlitz; seu líder era considerado persona non grata entre seus pares.
      Aos cidadãos cerceados de Berlitz, restou uma sinistra perspectiva: apenas aproveitar como pudessem os meses de vida restantes, enquanto eram aniquilados pela degenerescência genética.
      O Bei, homem antes pragmático e estrategista de excelência, estranhamente entregou-se a um soturno definhar: passou a viver uma vida de dissolução, gastando a metade de cada dia nas druggegs, os ‘ovos’ de realidade supra-virtual, onde o usuário poderia viver ‘outra vida’. Ao menos até lhe acabarem os créditos.
      Num dia menos cinzento, ocorreu a um de seus assistentes, burocrata com sanhas de erudição e agora inundado pela melancolia, falar-lhe do Rabi, do velho Rabi rejeitado por Israel. A princípio o Bei escarneceu do assistente, pois afinal isso era hora de ressuscitar as velhas religiões? Poderiam fazer algo por eles?
      Mas dois dias depois o mesmo assistente trouxe o Livro. O Bei assustou-se: era um livro de verdade, uma relíquia ainda feita de papel! Passou a lê-lo, a princípio com desdém, mas depois com certa contrafeita sofreguidão. Então era isso o cristianismo? Confuso por vezes, mas por vezes valorosamente simples. Passou a acessar os poucos textos e vídeos sobreviventes no Terminal. Não muitas coisas restaram, em termos de arquivos eletronicamente armazenados, após a detonação da Grande Bomba de Pulso Eletromagnético.
      O Bei achou as informações poucas. Mandou seu assistente procurar por mais livros de papel. Pesquisando por livros nos subterrâneos de Berlitz, o assistente encontrou o bunker. Pesquisando nos arquivos da câmara criogênica, ele encontrou algo que talvez surpreendesse o seu Bei: Não livros de papel ou arquivos eletromagnéticos ainda intactos, mas um pregador. Sim, um sacerdote ou shamã ou ministro cristão da corrente dita luterana, congelado logo abaixo deles, numa biocâmara (contra todas as probabilidades) ainda ativa.
      E assim, por ser um pregador do Evangelho, eu fui ressuscitado.

II

      A Bíblia de papel, ele deu-a para mim. Passei os seis primeiros dias isolado em sua fortaleza, apenas em contato com o próprio Bei, médicos e alguns de seu séquito.
      No curto e cansado tempo livre de minhas noites, quando já não precisava dar atenção ao Bei, dedicava-me à oração, e a assimilar informações sobre os feéricos e terríficos eventos históricos decorridos desde minha ‘morte’ em 2.057; também buscava estudar e compreender, na medida do possível, as novas tecnologias.
      Nunca iria imaginar, e tenho certeza de que nenhum de meus coetâneos, que a história do mundo seria tão atribulada, afigurando-se tão sobremaneira negra e sem sentido, àquela altura. Sempre acreditei que o Anticristo viria ainda no século XXI. Tudo estava tão encaminhado...
      Quanto ao Bei, não foi senão no quarto dia após minha ressurreição que o Espírito Santo arrebentou-lhe as muitas trancas do coração, e ele, crendo, fez a confissão pública de Cristo. No sétimo dia pôs-me a pregar para seus funcionários. De uns trezentos que ele reuniu num salão, mais de duzentos saíram logo nos primeiros vinte minutos. Os demais ficaram até o fim: preguei durante hora e meia. Fiz o apelo: trinta e nove mãos levantaram-se.
      No dia seguinte o Bei pôs-me para falar ao vivo nos waysies (os telefones neurais do futuro, ou melhor, de agora), para toda a população sitiada. Houve ampla rejeição; mas algumas boas dezenas de almas achegaram-se.
      Iniciei então uma pequena igreja. Nos derradeiros meses seguintes, muitos outros se juntaram ao Corpo de Cristo nascente.
      O Bei convertera-se realmente; para faci
litar-me o trabalho, deu-me acesso à omnirede, um tipo de rede social a partir de onde era possível conhecer em diversos detalhes a cada uma das pessoas da cidade, pois fui logado na conta do próprio Bei, ou seja, a conta do administrador. Tive algum receio quanto à ética disto; a omnirede permitia-me vivenciar até alguns sentimentos e emoções dos usuários. Mas as almas precisavam ser salvas, exortava-me o Bei; não havia tempo. Eu não repetiria o erro cometido tantas e tantas vezes pela Igreja, que tardava em utilizar as tecnologias nascentes para a propagação do Evangelho, deixando por largo tempo seu monopólio para Satanás. Deus me perdoe se errei.


III

      Neste mundo fundado na instabilidade, não sei por quem, muito menos onde e quando será lido este relato, se é que alcançará leitores. Mas creio ser sumamente necessário explanar um pouco sobre as tecnologias e o panorama histórico que encontrei em Berlitz, e no mundo que a abriga. Por onde começar?
      Talvez pelo mais significativo, a omnirede. A omnirede era um tipo de ciber-psico rede social, quase uma rede telepática, mas operada por implantes neurais. Esses implantes neurais eram os waysies, os ‘celulares’ implantados em cada pessoa, ao completar doze anos. Eles permitiam a comunicação por áudio, imagens e até rudimentos do que se poderia chamar de sentimentos das pessoas, possibilitando interessantíssimas trocas empáticas, de uma maneira que não sei ainda explicar.
      Trafegar com acesso de administrador na omnirede era algo assustador: sentia-me como Deus perscrutando as almas dos homens. E perdi o sono, e perdi a fome por dias seguidos; o embate ético era um tormento em meu coração... Mas o Naga Bei estava certo: aquelas almas precisavam de ajuda, conhecendo-as eu poderia compreendê-las em toda a sua cosmovisão, seus medos e terrores mais primais, e saberia contextualizar a mensagem redentora para cada qual. Elas não dispunham do tempo frouxo onde se desenlaçam as sutilezas. O Bei queria que eu pregasse como quem golpeia.
      De dia eu pregava o quanto podia; à noite investigava as almas, febril em minha imersão, minha pulsão amorosa de poder alcançar cada coração, cada uma daquelas ovelhas genética e pneumatologicamente despedaçadas. Eu vivia à base de supressores de sono, pois não havia muito tempo, pois o tempo de Deus é sempre hoje.
      O dinheiro em Berlitz não era totalmente eletrônico e individualizado, como em meu tempo; havia derivado (mas prefiro o termo involuído) para um tipo de cartão de dados, sem bio identificação e legalmente pertencente ao portador, os nastorasts, cujo valor titular era limitado. Não acedia a contas em bancos ou algo parecido, não era sequer um ‘cartão de crédito’ na acepção de meu tempo: cada cartão tinha os dados de valoração financeira inseridos ou ‘carregados’ em si, fixos e não reembolsáveis em caso de qualquer problema. Os valores poderiam ser inseridos em terminais situados na Casa Governamental, edifício onde se localizava não apenas o corpo governante da cidade, mas também muitos dos serviços públicos vitais. O Naga Bei atuava como ‘banqueiro’ ou controlador do sistema de cartões, que eram também aceites em outras cidades-estado circunvizinhas.
      Os híbridos eram seres humanos mutantes, a quem foram acrescidos genes de animais, aprimorando características que se queria ressaltar, como tamanho, força e acuidades sensitivas (tato, olfato, visão etc.). Sua criação e proliferação estavam proibidas na maioria dos países e cidades-estado civilizadas e até nos ajuntamentos que poderíamos considerar semi ou pós-civilizados. Os que havia em Berlitz eram refugiados, abrigados ali pela clemência e também pelo senso de oportunidade do Naga Bei, que usava alguns em seu exército.
      Quanto à História e sua sucessão de desgraças, por onde começar? Primeiramente, deu-se o que já em meu tempo se assinalava prestes a acontecer: o governo da Terra foi unificado nas mãos de um Governo Global.
      Mas entre todas as desditas que este mundo suportou desde meu congelamento até aqui, o mais tétrico e significativo é o fato de que houve uma Revolução Cultural Global, conhecida por O Alinhamento, promovida pelo Governo Mundial, e que assumiu características de guerra civil (armada em muitos casos, noutros apenas ‘cultural’) em diversos países (ou entes federados, como passaram a ser chamados desde que o mundo foi unificado em 2.071), apenas para varrer as religiões do mapa. O argumento do Corpo Governante era de que elas eram “fontes infinitas de conflitos, eterno freio ao progresso humano”.
      Entre mortos e mortos para sempre, a revolução saiu-se vencedora.
      Os resultados foram variados em cada ponto da aldeia global. As mais prejudicadas, dentre todas aquelas ditas grandes religiões, foram o hinduísmo, que foi extinto, e o cristianismo, que desapareceu não de países, mas de continentes inteiros. Incluindo, inacreditavelmente, a Europa, seu segundo berço e antigo bastião. O islã sofreu reveses em diversos países, sendo extinto da África. Mas persiste em partes da Ásia e Oceania, e em minúsculos bolsões isolados no norte europeu. O budismo, restrito a esparsos focos dispersos pelo centro e sudeste asiático, sobreviveu apenas em sua corrente il’jiyan, forma sincrética que funde elementos do budismo e do islã, e que sequer existia em meu tempo, ou melhor, no tempo de minha primeira vida.
      E o Governo Mundial por trás desta cruzada anti-religião colheu o que semeou: em menos de meio século a coesão mundial sob a égide de um único governo esfacelou-se, e guerras de independência pipocaram por todo o orbe, atingindo até as colônias espaciais.
      O preço pago foi um retorno da barbárie, cujo ápice negro deu-se com a detonação da Bomba de Pulso Eletromagnético de que já falei. Foi detonada por russos a partir da Lua, num último suspiro para tentar deter a avalanche atômica de que eram alvo por parte do Emirado da Chechênia, num dos eventos tardios da Guerra Transeuropeia, uma das muitas guerras que afloraram com a implosão do Governo Mundial. Mas a arma era potente demais; todo o planeta foi atingido. Em escala catastrófica, equipamentos foram inutilizados, informações armazenadas perderam-se. Num cenário já de décadas de hecatombe, impossível calcular quantos morreram apenas pelos eventos provocados pela detonação do aparato russo. Isto deu-se há seis anos atrás; neste momento em que me encontro, a humanidade está em pleno esforço de recuperação dos efeitos da bomba. E os embates bélicos generalizados ainda persistem, em macro e micro escalas, impossíveis de mapear num mundo nova e completamente fragmentado.


IV

      Ao cabo de seis meses, todos os humanos e híbridos de Berlitz morreram. Foi terrível acompanhar a morte de toda uma sitiada cidade; foi ainda mais horrível sobreviver. Devido à omnirede, eu conhecia de certo modo ‘pessoalmente’ a todas aquelas pessoas, como já disse. Preferia ter morrido no gelo criogênico a ter conhecido esta gigantesca desolação. Mas o que digo?! Senhor, perdoa-me. Se este foi o método assustador que lhe aprouve utilizar para recriar sua Igreja, quem sou eu para questionar?
      Vaguei por dias inteiros acompanhando os roboservs em sua busca por cadáveres para a cremação.
      Treze mil duzentas e doze pessoas e sessenta e seis híbridos. Cujas almas senti sendo deslogadas enquanto navegava pela omnirede.            
      Há dezenas de anos, todos os que eu conhecia morreram, enquanto eu permanecia no gelo, aprisionado entre a vida e a morte. Agora, mais uma vez em minha vida, todos os que eu conhecia morreram, e o que me contém é um vácuo, a amargura embriagada do absurdo, que sorri e me abraça.
      Estou só. Só contigo, meu Pai Silencioso.
      Há uma tecnologia em Berlitz que permite a inserção de metadados diretamente na pele, um tipo de ‘tatuagem’ nanoeletrônica. Você pode acessar os dados de qualquer dessas tatuagens de dados usando um tipo de aplicativo dos waysies. Peguei um dos equipamentos tatuadores numa loja abandonada, programei-o e o fiz tatuar o nome de todos eles em meu antebraço direito, o nome das treze mil duzentas e setenta e oito almas que o Senhor confiou em minhas mãos. Ovelhas transgênicas por quem darei um dia conta. E também os neuro-élans de todos eles, ou seja, o conjunto de informações sociais e vitais, sentimentos e ideias, um ‘resumo ontológico’ daquela pessoa, que a omnirede salvava ou fazia o backup quando da morte de um usuário. Meu Deus, como explicar isso? É como uma ‘fagulha’ de uma alma humana, um rascunho de imortalidade. Conforme a programação, a inserção feita pela máquina em minha pele assumiu o formato de um signo cruciforme, uma estilizada cruz.
      Entre salvos e condenados, tantas almas... Em meio a tanta tecnologia, almas mortas pela tecnologia. Tecnologia que prometera salvá-los. Mortas tão rápido. 

V

      E agora, o que fazer, Senhor? Pergunta retórica, pois sempre soube a resposta, ela foi descongelada comigo, e a bem da verdade foi ela mesma que me congelou e descongelou. Foi-me dada esta nova chance. Há um propósito e um tempo, seja um luminoso ou um maldito tempo, para todas as coisas debaixo do sol. Eis-me aqui, Senhor, no coração tecno-anárquico do caos, sob os olhares espantados da Morte-que-se-recusa-a-me-tocar, eis-me aqui... Esperava renascer num Milênio de gozo e paz junto a Ti, mas fui revivido num mundo apocalíptico, numa Europa tecnofeudal e arrasada. Não apenas num continente em ruínas, mas numa humanidade em ruínas.
      Sinto-me como o apóstolo Paulo, sou-lhe anuviado um tipo; a luz que ele viu no caminho de Damasco eu vi na explosão em nossa base militar; o Ananias que lhe abriu os olhos, eu encontrei no Bei. Os três anos que ele passou no deserto da Arábia, são os 70 anos que passei em êxtase criogênico.
      Recolho o que posso em nastorasts (os referidos cartões-dinheiro deles), alguns víveres, carrego as baterias de uma grande fluomoto e vou para fora. As barreiras das Ligas Hanseáticas terão que deixar-me passar, pois examinarão meus genes e ficará patente meu estado de ser humano ‘puro’, ou ‘base’, como eles dizem.
      Nesta Europa desolada, onde as perseguições islâmicas de fins do século XXI e as posteriores perseguições culturais globais anti-religião, somadas à Guerra Transeuropeia, destruíram até os edifícios e monumentos que remetiam ao cristianismo, nela segarei. Não há mais igrejas lá fora, ao menos não neste continente. A que fundei aqui, nasceu e morreu em seis meses. Sou a Ekklesia de um homem só. Como ekklesia, faço o que devo: vou para fora.


      Mas, porventura darão crédito à minha pregação?

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

O Brasil na Segunda Guerra: Três poemas de Nelson de Godoy Costa


EXPEDICIONÁRIO

Eu tenho de você, pracinha brasileiro,
Tamanho orgulho que não cabe no meu peito,
Por isto se extravasa nestes versos.

Preciso confessar-lhe uma fraqueza.
Essa fraqueza é minha imensa glória.
Eu tive inveja de você!

Eu que nunca invejei coisa alguma no mundo;
Que desprezei a fama, a glória literária,
Que nunca dei sequer a menor importância
Às riquezas do mundo e às vaidades da vida,
Eu tive inveja de você!

De você que eu não sei como se chama!

Nem me importa saber seu nome de família,
Se eu leio com os olhos marejados
De orgulho e de emoção em sua braçadeira
O seu nome: - Brasil
Eu quis partir como você partiu!

E a mágoa de ficar, apenas foi curada
Pela consciência do dever que estou cumprindo.

Eu, também, legionário brasileiro,
No sacerdócio santo a que entreguei a vida
Sou soldado de um exército invencível!

Minha existência a todo o instante é oferecida
Em holocausto ao grande ideal. E eu sinto
A glória de lutar, de viver, de morrer
Cada dia em favor da grande causa.

Eu também sou soldado brasileiro,
Como você, expedicionário, vitorioso!
E tenho me empenhado a fundo na batalha
Para vencida a guerra alicerçar a paz.

Glória a você, meu grande irmão! Meu bravo!
Meu grande herói! Extraordinário herói!
Soldado brasileiro!



SOLDADO CAMPINEIRO

Este poema, homenagem do autor, então pastor em Campinas, ao expedicionário campineiro foi lido pelos locutores de rádio várias vezes e muito declamado por jovens campineiras nos salões em festa.

Quando você partiu entre lágrimas quentes
De saudade, de orgulho e de emoção,
Eu bem sei que através da névoa de seus olhos
Brilhou, encantadora, a esplêndida visão
Da volta triunfal
À cidade natal.

Você partiu levando no seu peito
O grande ideal do moço brasileiro.
E sob o céu distante de outras terras
Mostrou ao mundo inteiro
Que o Brasil não é ninho de cobardes,
Mas é pátria de heróis.

Que toda a sua História
Bem se pode narrar numa palavra apenas,
E essa palavra é Glória!

Por isso é que você regressou triunfante!

E se custou chegar o dia da partida
Para os campos da luta, onde, valente,
Você deu tudo quanto tinha pela pátria,
E para onde teve pressa de partir,
Com que custo, depois do Dia da Vitória
Alvoreceu o instante do regresso,
Da volta triunfal
À cidade natal!

Gigantescos transportes sobre o oceano
Conduziram-no à pátria vitoriosa,
À pátria que você glorificou.

Rio de Janeiro! Paulicéia engalanada
Multidões em delírio ovacionando
O filho herói que volta à grande pátria.
E através de seus olhos marejados
Você teve a visão esplendorosa
Da cidade natal,
De onde partiu soldado,
Para voltar glorificado
Extraordinário herói em volta triunfal.

Os mesmos braços que o abraçaram na partida
Hão de abraçá-lo ardentes na chegada.
Os mesmos olhos que choraram de tristeza
Hão de chorar agora de alegria.
E o mesmo coração o coração de sempre,
O coração que não cessou de amar
Continuará pulsando venturoso.
E há de estreitá-lo carinhosamente,
Soldado campineiro,
Quando você chegar
À terra campineira,
Ao seu querido lar.


O SOLDADO BRASILEIRO QUE FICOU

(Para que a Pátria viva, ele morreu)

Num cemitério silencioso de Pistóia
Você ficou sonhando eternamente
Seu grande sonho de imortalidade.
É cemitério de uma pátria irmã,
Por isto, embora nossa dor seja tamanha,
Não o deixamos numa terra estranha.

No supremo esplendor de sua mocidade,
Quando a Vida acenava as mais lindas promessas,
E você era todo intensa vibração
De espírito, de cérebro, de músculos,
Você imolou-se em prol da Pátria grande e livre!

Por isto mesmo a Pátria-mãe jamais o esquece!
Ajoelha-se e soluça compungida,
- Olhos em pranto, coração em prece, -
Porque você não era apenas uma vida,
Mas expressava na existência esplendorosa,
A vida eterna de milhões de brasileiros!

O cemitério silencioso de Pistóia
Em cada sepultura encerra um monumento!
Cada túmulo fala! E, à eloquência suprema
Os próprios céus se curvam para ouvir
Da grandeza, do ideal, do amor e da bravura,
Com que você, soldado brasileiro
Mostrou ao mundo inteiro
A sua envergadura
E o valor sem igual da terra onde nasceu!

Se é certo que você não veio juntamente
Não marchou lado a lado
Com seus irmãos heróis, mas ficou sepultado
Sob outros céus, sobre outras terras de além mar,
Seu sepulcro sagrado é o maior desafio
Às gargantas da morte e às potências do mal!
E mais do que soldado hoje você é herói!
Mais que herói, é imortal!


Do livro Vida (São Paulo: Imprensa Metodista, 1952).

domingo, 2 de agosto de 2015

AMPLITUDE, Revista Cristã de Literatura e Artes para download



AMPLITUDE é uma revista de cultura evangélica, com foco principal em ficção e poesia. Mas nosso leitmotiv, nosso motivo de ser e de existir, é a arte cristã em geral: Transitamos por música, cinema, fotografia, artes plásticas e quadrinhos. Publicamos artigos, estudos literários, crônicas e resenhas.
      Nossa intenção diz respeito àquela despretensiosa excelência dos humildes. Nosso porto de partida e porto de chegada é Cristo. Nosso objetivo é fomentar a reflexão e a expressão, AMPLIAR visões, entreter com valores cristãos, comunicar a verdade e o belo e estimular o engajamento artístico/intelectual entre nossos irmãos.
Nosso preço é nenhum: a revista circula gratuitamente, no democrático formato pdf.
      AMPLITUDE, revista cristã de literatura e artes, nasce como um espaço inter ou não-denominacional aberto à criação daqueles que por tanto tempo foram silenciados pela visão oblíqua e deturpada do velho status quo que via nas expressões artísticas algo menor, indigno ou mesmo inútil ao cristão ou à igreja.  Um fórum para os que tem-se visto alienados de veículos de expressão, de formas de publicar/expor/comunicar, de interagir entre pares, e para além dos pares.
      Esta revista nasce com dois anos de atraso, desde a gestação da ideia de uma revista dedicada fundamentalmente à nossa literatura, em conversações com o poeta e escritor lusitano J.T.Parreira. Porém, projetos outros impediram naquele momento a concretização da ideia.
      Como a focalização de nossas lentes recai fundamentalmente sobre a ficção e a poesia, esta edição inaugural chega com força total: são oito contos. Na poesia, contamos com nomes consagrados como o próprio J.T.Parreira, Israel Belo de Azevedo, Joanyr de Oliveira, Gióia Júnior e outros, aliados a novos nomes de excelente produção.
      O anglicano George Herbert, uma das figuras centrais dos assim chamados poetas metafísicos ingleses, inaugura a seção Jardim dos Clássicos.
      Marcelo Bittencourt apresenta sua história em quadrinhos Pobre Maria, encantando com seu texto e sua arte.
      Na seção de entrevistas, iniciamos com Veronica Brendler, idealizadora do Festival Nacional de Cinema Cristão.
      As artes plásticas são contempladas na seção Galeria, que abre suas portas com a obra de Rafaela Senfft, que também comparece com o artigo A arte moderna e a cosmovisão cristã.
      E vamos aos contos: O saudoso Joanyr de Oliveira, verdadeiro patrono da (boa) literatura evangélica, faz-se presente com o conto A Catequese ou Feliz 1953, onde o autor revisita os porões da ditadura brasileira, inspirado em eventos autobiográficos. J.T.Parreira comparece relatando sobre as crises ontológicas de Pedro, em Os Pronomes; e ainda o fino humor de Judson Canto em Uma mensagem imprópria; um singelo conto de Rosa Jurandir Braz, Você aceita esta Flor?; Célia Costa com o brevíssimo O que poderia ter sido, sobre o que poderia ter sido naquele Jardim de possibilidades; Margarete Solange Moraes com o pungente Filhos da Pobreza; este humilde escriba comparece com um conto de ficção científica, Degelo, ambientado em futuro(s) distópico(s); e Hêzaro Viana, fechando a edição com um forte e terno conto, Por Amor, em 12 páginas de ótima prosa.
      Confira ainda as seções: Notas Culturais, com pequenos flashes sobre o que rola na cena cultural cristã (e fora dela); Hot Spots, abarcando a cada edição citações da obra de um grande autor; Parlatorium, com citações diversas de autores de ontem e de hoje; e Resenhas, abarcando livros, música, cinema et al.

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