Veio de longe, chegou o Menino que veio de longe
do ventre da mulher. Chegou um homem
que pelo frio do estábulo gemeu
as sílabas profundas de um vagido.
Chegou um menino
que deslocou o centro do céu para o mundo
Chegou de longe Deus, a carne nua
com um coração humano, igual ao meu
igual nas artérias e nas veias a qualquer judeu
e com deltas
onde o sangue desagua.
18/12/2013
© J.T.Parreira
(Imagem do Facebook - Desert-rose)
“Não era ainda o tempo das manhãs lavadas”
Ruy de Carvalho
Não havia ainda lugar
para pendurar as manhãs, nem sol
que arredondasse a ponta do dia
à ponta da noite
havia o vazio, um eco do fundo
do abismo
Não era ainda o tempo das manhãs
de revestir de pérolas a fronte das rosas
Deus passeava sobre o que havia
de ter a beleza das suas mãos
quebrado o silêncio original.
© J.T.Parreira
La neige quand elle
tombe
tombe oblique sur le visage qui un fil
laisse à la peau, dévoile le manteau
creuse les toits, force le vent
à la danse sur le fil quand elle monte descendant
constant en une mélodie
oblique
c’est pour cela, pour ce manteau
sans couture
qu’elle est un étonnement nocturne
en passant par les campanules
où les troncs se
déclinent
à la danse
qu’elle est l’expression la plus sublime
du dessein céleste
Rui Miguel Duarte
5/12/13