alba de luz somnolienta
Octavio Paz, “Tu nombre”
Parte de mim, lume aceso sobre as quimeras
quando a treva dá por trás
e já não tenho para que lado abrir
a aurora
quando a treva dá por trás
e já não tenho para que lado abrir
a aurora
sem ele
tudo é sono: a luz e a sombra,
a espera e o alcance, a fome e o estar saciado
tudo é sono: a luz e a sombra,
a espera e o alcance, a fome e o estar saciado
não há fruto que amadureça,
é para sempre verde, imóvel e instante
é para sempre verde, imóvel e instante
sem ele
o vento sibila até quebrar os mastros
o vento é todo o território da realidade
que a própria terra leva, desfeita
o vento sibila até quebrar os mastros
o vento é todo o território da realidade
que a própria terra leva, desfeita
sem ele
os meus órgãos envelhecem, a minha pele
dissipa com os fogos-fátuos,
é um húmus com o húmus
os meus órgãos envelhecem, a minha pele
dissipa com os fogos-fátuos,
é um húmus com o húmus
sem ele
o néctar não acha abelha
para o seu poema
o néctar não acha abelha
para o seu poema
sem ele
tenho espinhos na coroa
tenho espinhos na coroa
mas com ele
os espinhos têm rosas
os espinhos têm rosas
Rui Miguel Duarte
21/01/18
21/01/18