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sábado, 14 de dezembro de 2024

O poeta, esse “figura” da linguagem - Um poema para aprender figuras de linguagem

 



Poeta já nasce metáfora: nem é homem, é bruma

Detesta comparação: sua carne é tal como purpurina

Casa antíteses, juiz de paz de terra e céu

Dispara metonímias lendo Drummond e Gullar

Mata catacreses ao dar nome ao que não o tem:

Braço de sofá vira espuvelo, assim, na caraça

Celebra paradoxos, esses desconstrutores criativos:

Como encher de vazio um balão vazio?

Faz tudo dialogar em prosopopeias, a caneta chora, o chapéu gargalha

É bicho todo trabalhado na sinestesia: degusta a paisagem, ouve seus aromas

Radical, rima o rumo dos versos em aliteração

É um babaquara da assonância, um papa-vatapá

Desafios opera o poeta em hipérbatos

Faz rir nas onomatopeias, feito garnizé cocoricó

Desce pra baixo do mar molhado em seu submarino, o pleonasmo

É polissíndeto: É alegre e loquaz e terno e carmim

Mas tem lá seus momentos assíndetos: solitário, introvertido, fujão

Viaja em anáforas: se eu voasse, se eu pudesse, se eu sonhasse, se...

“Quero morrer de tanto versejar”, vocifera, hiperbólico

“Ou bater as botas de mui cantar”, solfeja em eufemismo e preciosismo

Dias há em que escreve com a delicadeza de uma mula (opa, contém ironia!)

Outros em que lança os versos pela janela com um lacônico “Que tédio!” em apóstrofe

Nesse jogo de encanta e cansa, o bardo executa sua dança

E nos diverte com sua graça, humano que é, esse figuraça...

 

Criei este poema para ajudar estudantes – do aluno do Fundamental ao concurseiro – a aprender se divertindo e, claro, para ajudar também a professores. Se você curtiu, compartilhe o poema para que ele possa divertir a mais necessitados!


Este poema obteve o segundo lugar nacional no Concurso Paulo Setúbal de Literatura 2024 (Tatuí - SP). Obteve ainda menção honrosa no 47º Concurso Literário Felippe D’Oliveira (Santa Maria - RS).

Assista ao vídeo da premiação e dramatização do poema, no Concurso Paulo Setúbal:




quinta-feira, 25 de abril de 2024

Fanzine SAMIZDAT #7, edição especial: Metapoesia. Baixe o seu!

 


O fanzininho Samizdat, publicação irregular que reúne meus textos (frases, poemas e contos), chegou à sua sétima edição, a primeira de 2024 (não costumam sair muitos por ano...).

O enfoque aqui é a metapoesia, ou seja, a poesia que, nariz em riste, fala de si mesma. Além dos poemas, frases e pensamentos sobre a poesia e o fazer poético compõem a humílima edição.

Você pode baixar o seu exemplar em PDF pelo Google Drive, clicando AQUI.

Tire cópias, distribua. Ajude a cultura fanzineira a sobreviver.

Um dos poeminhas do zine...

domingo, 14 de janeiro de 2024

No que sou, o que sou? Um metapoema

 


No que sou, o que sou?

 

Escrevo éclogas,

disparates feitos

do mijo dos anjos

 

Pássaro, devoro morcegos

sempre à noite,

quando são mais fortes

 

Crio palavras, exempli gratia:

Adjistâncias:

distâncias adjuntas, circumciclovalentes

 

Selado fui fora do cofre:

Outros homens existem,

eu prolifero

 

Narrador que desnarra,

Cacos de chão e céu estou

No que sou;

                     e o que sou?


Sammis Reachers


quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

COMO, (meta)poema de Daniel Glaydson Ribeiro



 COMO


...se ao poema coubesse ainda e apenas
lê-lo, com humana voz sem excesso
no ritmo puro do tempo disperso
como se houvessem raças e antenas,

numa ausência de qualquer artifício,
como se eu detrás duma cortina,
sumisse, e esta língua que imagina
já não fosse a máquina do início.

Tal como a luz do sol ou a da lua
as nuvens, os raios e tempestades
são sublime teatro-transcendência,

a Voz é meu corpo a dançar, eu nua;
língua é ruído de todas vontades,
o poema: barulho-excesso-essência.

(Pulsão de língua, 2021)

Acesse o canal literário do autor, no Youtube: 


quarta-feira, 1 de setembro de 2021

SOBRE UM POEMA - Herberto Helder




Sobre um poema

 

Um poema cresce inseguramente

na confusão da carne,

sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,

talvez como sangue

ou sombra de sangue pelos canais do ser.

 

Fora existe o mundo. Fora, a esplêndida violência

ou os bagos de uva de onde nascem

as raízes minúsculas do sol.

Fora, os corpos genuínos e inalteráveis

do nosso amor,

os rios, a grande paz exterior das coisas,

as folhas dormindo o silêncio,

as sementes à beira do vento,

- a hora teatral da posse.

E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.

 

E já nenhum poder destrói o poema.

Insustentável, único,

invade as órbitas, a face amorfa das paredes,

a miséria dos minutos,

a força sustida das coisas,

a redonda e livre harmonia do mundo.

 

- Em baixo o instrumento perplexo ignora

a espinha do mistério.

- E o poema faz-se contra o tempo e a carne.


sexta-feira, 3 de abril de 2020

Definição com um senão



Definição com um senão


Poesia, fuga
perfeita



a

bordo

de

um

ô n i b u s

v   a   z   i   o


Sammis Reachers

domingo, 2 de dezembro de 2018

POESIA EM 500 CITAÇÕES: Algumas das melhores definições e reflexões de todos os tempos sobre a poesia e o poema, o poeta e o fazer poético - Livro gratuito


  


   Além de poeta, esse mal menor, tenho há mais de uma década sido editor de poesia. Ao longo do tempo, vez por outra fui indagado por poetas, sejam iniciados, iniciantes e outros que sequer deram o primeiro verso, mas, temerosos, soltavam questionamentos em busca de rumos e indicações que lhes permitissem o ingresso nessa Pasárgada Total que é a Poesia:

O que é a poesia? O poema? E o poeta?

        Um dos motes para a realização desta antologia de citações é esse: Ofertar, num golpe único, algumas das melhores definições e reflexões sobre o que é a poesia e o poema, o poeta e o fazer poético. Assim poetas, o almirantado, mas também marujos vários: críticos, filósofos, santos e bunda-lêlês aqui estão vaticinando suas assertivas, algumas delas realmente extraordinárias, é preciso dizer. E ainda descemos aos últimos porões do léxico: São 17 os dicionários consultados pelo verbete poesia.
        Um livro de graça. O trigésimo? Após quase vinte antologias poéticas, uma (meta)antologia em prosa sobre a poesia em si, em dó, em lá de bem dalém do Bojador. Sim. Mais uma estrofe quixotesca de meu trabalho de pichador de muros e promotor literário, editor e antologista  de poesia primeiramente. Sei que essa faina frágil, robinhoodiana de piratear sintagmas no Mar dos Ingratos há de me render um dia não a forca mas homenagem  uma estátua, construto de fumaça, na mais imaginarinútil de todas as ilhas do Atol de Utopia. Que seja. Queimo minha nau pelo prazer da ardência e o torpor da fumaça: sou um multiplicador de embriagados. Apesar da ingratidão dos homens e das musas, tudo que sei é esse navegar. Nunca prestei pra mais nada na vida, e para essa ardência em águas me conservou o Deus.
        Bem-vindo a bordo da nau incendiada, marujo. Queime seus pés no tombadilho ardente, produza ar quente para insuflar o que restam das velas e o que você tenha de asas. E encontre, ao tombar o horizonte, aquilo que busca.

Sammis Reachers 

PARA BAIXAR O LIVRO (FORMATO PDF) PELO GOOGLE DRIVE, CLIQUE AQUI.

Compartilhe esse livro com seus contatos e confrades, alunos e professores, partidários e detratores: Por e-mail, redes sociais... Disponibilize-o para download gratuito em seu blog, site, portal. A Poesia há de vencer!


terça-feira, 22 de maio de 2018

Sobre Poesia, texto de Vinícius de Moraes


SOBRE POESIA

Não têm sido poucas as tentativas de definir o que é poesia. Desde Platão e Aristóteles até os semânticos e concretistas modernos, insistem filósofos, críticos e mesmo os próprios poetas em dar uma definição da arte de se exprimir em versos, velha como a humanidade. Eu mesmo, em artigos e críticas que já vão longe, não me pude furtar à vaidade de fazer os meus mots de finesse em causa própria - coisa que hoje me parece senão irresponsável, pelo menos bastante literária. 

Um operário parte de um monte de tijolos sem significação especial senão serem tijolos para - sob a orientação de um construtor que por sua vez segue os cálculos de um engenheiro obediente ao projeto de um arquiteto - levantar uma casa. Um monte de tijolos é um monte de tijolos. Não existe nele beleza específica. Mas uma casa pode ser bela, se o projeto de um bom arquiteto tiver a estruturá-lo os cálculos de um bom engenheiro e a vigilância de um bom construtor no sentido do bom acabamento, por um bom operário, do trabalho em execução. 

Troquem-se tijolos por palavras, ponha-se o poeta, subjetivamente, na quádrupla função de arquiteto, engenheiro, construtor e operário, e aí tendes o que é poesia. A comparação pode parecer orgulhosa, do ponto de vista do poeta, mas, muito pelo contrário, ela me parece colocar a poesia em sua real posição diante das outras artes: a de verdadeira humildade. O material do poeta é a vida, e só a vida, com tudo o que ela tem de sórdido e sublime. Seu instrumento é a palavra. Sua função é a de ser expressão verbal rítmica ao mundo informe de sensações, sentimentos e pressentimentos dos outros com relação a tudo o que existe ou é passível de existência no mundo mágico da imaginação. Seu único dever é fazê-lo da maneira mais bela, simples e comunicativa possível, do contrário ele não será nunca um bom poeta, mas um mero lucubrador de versos. 

O material do poeta é a vida, dissemos. Por isso me parece que a poesia é a mais humilde das artes. E, como tal, a mais heróica, pois essa circunstância determina que o poeta constitua a lenha preferida para a lareira do alheio, embora o que se mostre de saída às visitas seja o quadro em cima dela, ou a escultura no saguão, ou o último long-playing em alta- fidelidade, ou a própria casa se ela for obra de um arquiteto de nome. E eu vos direi o porquê dessa atitude, de vez que não há nisso nenhum mistério, nem qualquer demérito para a poesia. É que a vida é para todos um fato cotidiano. Ela o é pela dinâmica mesma de suas contradições, pelo equilíbrio mesmo de seus pólos contrários. O homem não poderia viver sob o sentimento permanente dessas contradições e desses contrários, que procura constantemente esquecer para poder mover a máquina do mundo, da qual é o único criador e obreiro, e para não perder a sua razão de ser dentro de uma natureza em que constitui ao mesmo tempo a nota mais bela e mais desarmônica. Ou melhor: para não perder a razão tout court. 

Mas para o poeta a vida é eterna. Ele vive no vórtice dessas contradições, no eixo desses contrários. Não viva ele assim, e transformar-se á certamente, dentro de um mundo em carne viva, num jardinista, num floricultor de espécimes que, por mais belos sejam, pertencem antes a estufas que ao homem que vive nas ruas e nas casas. Isto é: pelo menos para mim. E não é outra a razão pela qual a poesia tem dado à história, dentro do quadro das artes, o maior, de longe o maior número de santos e de mártires. Pois, individualmente, o poeta é, ai dele, um ser em constante busca de absoluto e, socialmente, um permanente revoltado. Daí não haver por que estranhar o fato de ser a poesia, para efeitos domésticos, a filha pobre na família das artes, e um elemento de perturbação da ordem dentro da sociedade tal como está constituída. 

Diz-se que o poeta é um criador, ou melhor, um estruturador de línguas e, sendo assim, de civilizações. Homero, Virgílio, Dante, Chaucer, Shakespeare, Camões, os poetas anônimos do Cantar de Mío Cid vivem à base dessas afirmações. Pode ser. Mas para o burguês comum a poesia não é coisa que se possa trocar usualmente por dinheiro, pendurar na parede como um quadro, colocar num jardim como uma escultura, pôr num toca-discos como uma sinfonia, transportar para a tela como um conto, uma novela ou um romance, nem encenar, como um roteiro cinematográfico, um balé ou uma peça de teatro. Modigliani - que se fosse vivo seria multimilionário como Picasso - podia, na época em que morria de fome, trocar uma tela por um prato de comida: muitos artistas plásticos o fizeram antes e depois dele. Mas eu acho difícil que um poeta possa jamais conseguir o seu filé em troca de um soneto ou uma balada. Por isso me parece que a maior beleza dessa arte modesta e heróica seja a sua aparente inutilidade. Isso dá ao verdadeiro poeta forças para jamais se comprometer com os donos da vida. Seu único patrão é a própria vida: a vida dos homens em sua longa luta contra a natureza e contra si mesmos para se realizarem em amor e tranquilidade.


domingo, 23 de julho de 2017

Geometria dos Ventos, poema de Rachel de Queiroz


Geometria dos Ventos

Eis que temos aqui a Poesia,
a  grande Poesia.
Que não oferece signos
nem linguagem específica, não respeita
sequer os limites do idioma. Ela flui, como  um rio.
como o sangue nas artérias,
tão espontânea que nem  se  sabe como foi escrita.
E ao mesmo tempo tão elaborada - 
feito uma flor na sua perfeição minuciosa,
um cristal que se  arranca da  terra
já dentro da geometria impecável 
da sua lapidação.
Onde se conta uma história, 
onde se vive um delírio; onde a condição humana exacerba,
até à fronteira da loucura, 
junto com Vincent e os seus girassóis de fogo,
à sombra  de Eva Braun, envolta no mistério ao
                                                  mesmo  tempo
fácil e insolúvel da sua tragédia.

Sim, é o encontro com a Poesia.

domingo, 15 de maio de 2016

O menino que carregava água na peneira - Manoel de Barros


O menino que carregava água na peneira
Tenho um livro sobre águas e meninos.
Gostei mais de um menino
que carregava água na peneira.
A mãe disse que carregar água na peneira
era o mesmo que roubar um vento e
sair correndo com ele para mostrar aos irmãos.
A mãe disse que era o mesmo
que catar espinhos na água.
O mesmo que criar peixes no bolso.
O menino era ligado em despropósitos.
Quis montar os alicerces
de uma casa sobre orvalhos.
A mãe reparou que o menino
gostava mais do vazio, do que do cheio.
Falava que vazios são maiores e até infinitos.
Com o tempo aquele menino
que era cismado e esquisito,
porque gostava de carregar água na peneira.
Com o tempo descobriu que
escrever seria o mesmo
que carregar água na peneira.
No escrever o menino viu
que era capaz de ser noviça,
monge ou mendigo ao mesmo tempo.
O menino aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.
Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.
O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor.
A mãe reparava o menino com ternura.
A mãe falou: Meu filho você vai ser poeta!
Você vai carregar água na peneira a vida toda.
Você vai encher os vazios
com as suas peraltagens,
e algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos!
Manoel de Barros

domingo, 29 de novembro de 2015

Retorno a Porto das Caixas


Retorno a Porto das Caixas

Sou um escritor,
Um escandalizado pela palavra
E eles querem que eu seja claro e fluídico
E lhes traga paz

Sou um escritor,
Um amputado de útero
E eles esperam que eu corra,
Corra para apontar-lhes o caminho

Sou um escritor,
Um pretenso mestre do entalhe a frio em papel
Que entalha as dúvidas antes que elas me empalem, crucifiquem
E eles, os fiéis da fome, esperam que eu lhes traga os pães frescos das respostas

Sou um escritor,
Um capturado-enquanto-fugia
Pelo frio lá fora
E eles, ternos,
Esperam que eu os aqueça

Os não-escandalizados, os não-mutilados, os que não duvidam:


Eles, os que escaparam do frio.

Sammis Rechers

terça-feira, 28 de outubro de 2014

SALMO 137 EM LINGUAGEM MODERNA





Pusemo-nos a chorar sobre nós mesmos
Os nossos vestidos rasgaram-se, entretanto
Nos ramos as harpas entrelaçavam folhas
Nos salgueiros o amor com as feridas
Nas margens do Quebar, o quanto
Peso pode ter o pranto ?
No microscópio as lágrimas, a angústia
Hoje dos hebreus à luz da física quântica.


 28-10-2014


© J.T.Parreira


 

sábado, 16 de agosto de 2014

(Con)Descendência


(Con)Descendência

O amanhã trará outros poetas
munidos de novas ferramentas & aparatos

mas moídos pela mesma
porcaria de melancolia

como gado morto é moído
para salsichas

homens sendo mortos e
depois nomeados: poetas

moídos para livros, como gado degolado.

16/08/2014

Sammis Reachers

domingo, 9 de junho de 2013

O Editor de Poesia


O Editor de Poesia

Sou um antologista
lido com volumes dantescos, homéricos, catastróficos
de poesia
marranos cabalistas de um Século de Ouro,
americanos movidos a LSD e mescalina

franceses efeminados sulamericanos
com ranço de Champs-Élysées ou com
versariamentos crioulos de Marx

Sim, sou um editor e antologista, lido
com volumes dantescos homéricos catastróficos
de VIDA,
marroquina espartana
turcomena cigana mujahedin
explodindo cafés em Berlim tanques em Pequim
ou silêncios na Revolução dos Cravos

e deixando estrategicamente poemas nos bolsos dos cadáveres
como os war poets ingleses
que serão publicados numa revista qualquer alemã
e que com exclusividade deitarei ao vernáculo,
ao cotejar com as versões em castelhano de Tradutor A e Tradutor B

sou um acumulado de livros, um Índice de enciclopédia ou de camaradas,
uma biblioteca que esquece-se na semana seguinte
amigo de dores de Camões e Tasso
de culpa herdada de Bachmann e Celan,
um acumulado de suicídios impresso
em tamanho A5 papel pólen capa 4xcores laminada
sem orelhas como um Van Gogh num espelho

Lá venho eu pela estação Cinelândia, sapatos de dândi, chapeleta gauche
roupas de um outsider - só um homenzinho com uma bolsa enorme de papéis e víveres, 
bananas e pão
cristão protestante um provisório (hiper)hebreu
Tzara triste (des)amparado em livros
ruminando sobre como desferir uma cantada Moraesiana-Eluardiana
nas solipsas atendentes da Biblioteca Nacional

Quanto a esses poetas, amigos invisíveis de uma criança solitária,
como um Kohélet, um Salomão que quer manter a paz em seu harém, 
amo a grosso modo a todos eles, sem acepção
os que estão ao meu lado, co-
navegantes do mesmo zeitgeist
ou os que estão nas estantes de baixo, ou nas-
cendo nas de cima

Como o estivador de uma Ode Triunfal ou um contrabandista francês 
mercando armas numa guerra africana, trans-
porto-os, e se abraço-os assim tão forte, 
num enlaçar que é como um sorver a minha vida, 
é para continuá-los em celulose, 
em bits, 
em vocês.

Sammis Reachers

sábado, 27 de outubro de 2012

Moby Dick - Um ensaio do princípio



"A meditação e a água encontram-se para sempre
intimamente ligadas"
Herman Melville



O meu nome é Ismael. Catão lançou seu corpo
sobre a ponta da espada, eu
tranquilamente vou para o mar. Nenhum amor
me prende à terra firme, a parte aquática do mundo
é que me chama. Chega ao meu coração
como um aroma. É o modo
que tenho de fugir ao suicídio, sempre
que a alma é um nevoeiro espesso
e se fecha como um Novembro brumoso
Chega a altura de voltar
com pressa para o mar. Antes que dê
por mim a seguir o rasto aos funerais, a arrancar
na cidade os chapéus aos transeuntes, a cair
no tédio de já nem conseguir rir-me do espelho
Preciso de um espelho marinho, onde lance os olhos
do topo de um mastro. Uma só gota de mar
é colírio para evitar a noite nos meus olhos.

27/10/2012


© J.T.Parreira
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