COMO
...se ao poema coubesse ainda e apenas
lê-lo, com humana voz sem excesso
no ritmo puro do tempo disperso
como se houvessem raças e antenas,
numa ausência de qualquer artifício,
como se eu detrás duma cortina,
sumisse, e esta língua que imagina
já não fosse a máquina do início.
Tal como a luz do sol ou a da lua
as nuvens, os raios e tempestades
são sublime teatro-transcendência,
a Voz é meu corpo a dançar, eu nua;
língua é ruído de todas vontades,
o poema: barulho-excesso-essência.
(Pulsão de língua, 2021)