terça-feira, 31 de janeiro de 2012

O Cabo dos Prodígios de Ulisses



Nenhuma outra ilha na corrente do mar Jónico o esperaria, nem Posídon veio, com o mar brilhante na mão, tentar Ulisses. Nem o grito das gaivotas de água funda.

Outro destino Ulisses prosseguia: Ítaca, a ilha soalheira. E ao cabo desse destino, o fim dos prodígios.

O regresso de Ulisses a Ítaca terminou os prodígios, levaria o herói, o “homem astuto”, ao quotidiano pacato, sem história, da sua vida no Lar, e aos silênciosos e também astutos braços de sua Penélope, a artesã que fazia e desfazia o tempo.

Cenas típicas”, como uma partida ou uma refeição sem apetite, um banho na banheira de Circe ou o derramamento de água sobre as mãos, misturadas com cenas de epopeia onde predominou o maravilhoso, numa antecipação de milénios de um realismo fantástico, tudo cessaria à vista de Ítaca.

Mais do que todos os companheiros, “Ulisses era o único que suspirava pelo regresso e pela esposa, detido numa côncava gruta pela veneranda ninfa Calipso, a deusa preclara.” ( Odisseia, trd. Padres Palmeia e Correia, Sá da Costa, 1972)

Mas nem sempre os prodígios foram de puro prazer aventureiro e epicurista. As grutas côncavas de Calipso, sedutora, teriam alguns encantos, assim como o palácio de Circe; mulheres, vinhos e tesouros seriam coisas encantatórias.
Na diegese que Ulisses faz a Alcínoo, a pedido deste, no Canto IX, auto-avalia as suas periécias, assim:

Mas o teu espírito voltou-se para as minha desgraças, / para que eu chore e me lamente ainda mais”. ( Odisseia, Canto IX, pág. 145, Trad. Frederico Lourenço, 2010)


Que coisa deveria contar primeiro? Os prodígios? Mas até estes não foram isentos de desgraça: “Pois muitas foram as desgraças que me deram os Olímpios”.
Homero ao dar-lhe um altar, marca-o também como “o sofredor e divino Ulisses”, no verso 490 do Canto final do seu poema épico.
Na própria identificação a Alcínoo, Ulisses inicia o desenrolar da sua história maravilhosa com uma referência aos seus enganos:

Sou Ulisses, filho de Laertes, conhecido de todos os homens pelos meus dolos”.


Se o início da viagem, a saída de Ítaca rumo a Tróia foi de esplendor e de sucessos, o regresso – imposto por Zeus, diz o herói- foi “doloroso”, porque foi atrasando – como sucedeu aos hebreus a caminho de Canaã – com transtornos, escolhos, tornando ainda distante o Lar.
Mas Ítaca não seria, na diegese da Odisseia, menor do que Odisseu, nem menor que as aventuras prodigiosas que foi vivendo o herói no plano do maravilhoso.

Parafraseando Ezra Pound em “Personae”, Ulisses que já “celebrara mulheres em três cidades, mas era tudo a mesma coisa”, sabia que Ítaca era maior.
Ítaca ou o tão desejado retorno seria o derradeiro prodígio. As lendas mitológicas não se substituiriam à realidade da ilha verde e humilde, da ilha soalheira mas áspera.

Cuentan que Ulises, harto de prodigios,


lloró de amor al divisar su Itaca

verde y humilde. El arte es esa Itaca

de verde eternidad, no de prodigios.

Jorge Luis Borges, no poema Arte Poética, em favor de Ítaca, desvalorizou os prodígios.
O Tirésias da Poesia Contemporânea do Século XX, que inventou “He visto, como ele griego, las urbes de los hombres”, como um manifesto e propositado exagero em relação a Homero e a Ulisses (na Odisseia), sabia que os prodígios eram a erudição de Homero.

Aveiro, 31/1/2012

© J.T.Parreira


segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Baile de Flamenco


Nas tábuas dois toiros negros
batem palmas
solta-se o vento dos tacões alados

e as pernas do bailador
são o rio que desce, uma queda de água
quando destrançam as guitarras o silêncio.

30/1/2012

© J.T.Parreira

O Manifesto Futurista de Marinetti

"Dinamismo di un cane al quinzaglio" (1912). Giacomo Balla.

Escrito por Filippo Tommaso Marinetti e publicado no jornal francês "Le Figaro", em Fevereiro de 1909, o Manifesto Futurista inaugurou um dos mais importantes movimentos artísticos do século XX. Tendo por base os desenvolvimentos tecnológicos de finais do século XIX, a pintura futurista apostava muitas vezes na sobreposição de imagens, imprimindo dinamismo à cena representada. As figuras ameçavam escapar do seu contorno, exaltava-se a velocidade e a força numa tentativa de representar o movimento e, com isso, inaugurava-se uma nova crença estética no seio das artes. 
A primeira grande exposição de pintura futurista teve lugar em Milão, a 30 de Abril de 1911. Daí a três anos, uma grande parcela dos artistas que aderiram ao movimento tornaram-se críticos uns dos outros e alvos da pressão exercida pelo próprio Marinetti. Com a entrada de Itália na I Guerra Mundial, quando declarou guerra à Áustria em Maio de 1915, a maior parte das actividades artísticas sofreu um interregno. Após a Guerra, quando o grupo futurista se reuniu à volta de Marinetti, o movimento e as ideias já não reflectiam a forma de pensar de outrora e o novo futurismo acabaria por ficar ligado ao Fascismo. Contudo, as ideias inovadoras de um BoccioniGiacomo Balla ou Duchamp (sim, esse mesmo, com o "Nu Descendo a Escada"...) seriam aproveitadas para desenvolver alguns dos movimentos artísticos que foram surgindo ao longo do passado século. Ficam as obras e o Manifesto...

Manifesto Futurista

"Então, com o vulto coberto pela boa lama das fábricas - empaste de escórias metálicas, de suores inúteis, de fuligens celestes -, contundidos e enfaixados os braços, mas impávidos, ditamos nossas primeiras vontades a todos os homens vivos da terra:
1. Queremos cantar o amor do perigo, o hábito da energia e da temeridade.
2. A coragem, a audácia e a rebelião serão elementos essenciais da nossa poesia.
3. Até hoje a literatura tem exaltado a imobilidade pensativa, o êxtase e o sono. Queremos exaltar o movimento agressivo, a insónia febril, a velocidade, o salto mortal, a bofetada e o murro.
4. Afirmamos que a magnificência do mundo se enriqueceu de uma beleza nova: a beleza da velocidade. Um carro de corrida adornado de grossos tubos semelhantes a serpentes de hálito explosivo... um automóvel rugidor, que parece correr sobre a metralha, é mais belo que a Vitória de Samotrácia.
5. Queremos celebrar o homem que segura o volante, cuja haste ideal atravessa a Terra, lançada a toda velocidade no circuito de sua própria órbita.
6. O poeta deve prodigalizar-se com ardor, fausto e munificência, a fim de aumentar o entusiástico fervor dos elementos primordiais.
7. Já não há beleza senão na luta. Nenhuma obra que não tenha um carácter agressivo pode ser uma obra-prima. A poesia deve ser concebida como um violento assalto contra as forças ignotas para obrigá-las a prostrar-se ante o homem.
8. Estamos no promontório extremo dos séculos!... Por que haveremos de olhar para trás, se queremos arrombar as misteriosas portas do Impossível? O Tempo e o Espaço morreram ontem. Vivemos já o absoluto, pois criamos a eterna velocidade omnipresente.
9. Queremos glorificar a guerra - única higiene do mundo -, o militarismo, o patriotismo, o gesto destruidor dos anarquistas, as belas ideias pelas quais se morre e o desprezo da mulher.
10. Queremos destruir os museus, as bibliotecas, as academias de todo o tipo, e combater o moralismo, o feminismo e toda vileza oportunista e utilitária.
11. Cantaremos as grandes multidões agitadas pelo trabalho, pelo prazer ou pela sublevação; cantaremos a maré multicor e polifônica das revoluções nas capitais modernas; cantaremos o vibrante fervor nocturno dos arsenais e dos estaleiros incendiados por violentas luas eléctricas: as estações insaciáveis, devoradoras de serpentes fumegantes: as fábricas suspensas das nuvens pelos contorcidos fios de suas fumaças; as pontes semelhantes a ginastas gigantes que transpõem as fumaças, cintilantes ao sol com um fulgor de facas; os navios a vapor aventurosos que farejam o horizonte, as locomotivas de amplo peito que se empertigam sobre os trilhos como enormes cavalos de aço refreados por tubos e o voo deslizante dos aviões, cujas hélices se agitam ao vento como bandeiras e parecem aplaudir como uma multidão entusiasta.

É da Itália que lançamos ao mundo este manifesto de violência arrebatadora e incendiária com o qual fundamos o nosso Futurismo, porque queremos libertar este país de sua fétida gangrena de professores, arqueólogos, cicerones e antiquários.

Há muito tempo que a Itália vem sendo um mercado de belchiores. Queremos libertá-la dos incontáveis museus que a cobrem de cemitérios inumeráveis.
Museus: cemitérios!... Idênticos, realmente, pela sinistra promiscuidade de tantos corpos que não se conhecem. Museus: dormitórios públicos onde se repousa sempre ao lado de seres odiados ou desconhecidos! Museus: absurdos dos matadouros dos pintores e escultores que se trucidam ferozmente a golpes de cores e linhas ao longo de suas paredes!
Que os visitemos em peregrinação uma vez por ano, como se visita o cemitério dos mortos, tudo bem. Que uma vez por ano se desponte uma coroa de flores diante da Gioconda, vá lá. Mas não admitimos passear diariamente pelos museus, nossas tristezas, nossa frágil coragem, nossa mórbida inquietude. Por que devemos nos envenenar? Por que devemos apodrecer?
E que se pode ver num velho quadro, senão a fatigante contorção do artista que se empenhou em infringir as insuperáveis barreiras erguidas contra o desejo de exprimir inteiramente o seu sonho?... Admirar um quadro antigo equivalente a verter a nossa sensibilidade numa urna funerária, em vez de projectá-la para longe, em violentos arremessos de criação e de acção.
Quereis, pois, desperdiçar todas as vossas melhores forças nessa eterna e inútil admiração do passado, da qual saís fatalmente exaustos, diminuídos e espezinhados?
Em verdade eu vos digo que a frequentação quotidiana dos museus, das bibliotecas e das academias (cemitérios de esforços vãos, calvários de sonhos crucificados, registros de lances truncados!...) é, para os artistas, tão ruinosa quanto a tutela prolongada dos pais para certos jovens embriagados, vá lá: o admirável passado é talvez um bálsamo para tantos os seus males, já que para eles o futuro está barrado... Mas nós não queremos saber dele, do passado, nós, jovens e fortes futuristas!
Bem-vindos, pois, os alegres incendiários com os seus dedos carbonizados! Ei-los!... Aqui!... Ponham fogo nas estantes das bibliotecas!... Desviem o curso dos canais para inundar os museus!... Oh, a alegria de ver flutuar à deriva, rasgadas e descoradas sobre as águas, as velhas telas gloriosas!... Empunhem as picaretas, os machados, os martelos e destruam sem piedade as cidades veneradas!
Os mais velhos dentre nós têm 30 anos: resta-nos assim, pelo menos um decénio mais jovens e válidos que nós deitarão no cesto de papéis, como manuscritos inúteis. - Pois é isso que queremos!
Nossos sucessores virão de longe contra nós, de toda parte, dançando à cadência alada dos seus primeiros cantos, estendendo os dedos aduncos de predadores e farejando caninamente, às portas das academias, o bom cheiro das nossas mentes em putrefacção, já prometidas às catacumbas das bibliotecas.
Mas nós não estaremos lá... Por fim eles nos encontrarão - uma noite de inverno - em campo aberto, sob um triste telheiro tamborilado por monótona chuva, e nos verão agachados junto aos nossos aviões trepidantes, aquecendo as mãos ao fogo mesquinho proporcionado pelos nossos livros de hoje, flamejando sob o voo das nossas imagens.
Eles se amotinarão à nossa volta, ofegantes de angústia e despeito, e todos, exasperados pela nossa soberba, inestancável audácia, se precipitarão para matar-nos, impelidos por um ódio tanto mais mais implacável quanto os seus corações estiverem ébrios de amor e admiração por nós.
A forte e sã injustiça explodirá radiosa em seus olhos - A arte, de facto, não pode ser senão violência, crueldade e injustiça.
Os mais velhos dentre nós têm 30 anos: no entanto, temos já esbanjado tesouros, mil tesouros de força, de amor, de audácia, de astúcia e de vontade rude, precipitadamente, delirantemente, sem calcular, sem jamais hesitar, sem jamais repousar, até perder o fôlego... Olhai para nós! Ainda não estamos exaustos! Os nossos corações não sentem nenhuma fadiga, porque estão nutridos de fogo, de ódio e de velocidade!... Estais admirados? É lógico, pois não vos recordais sequer de ter vivido! Erectos sobre o pináculo do mundo, mais uma vez lançamos o nosso desafio às estrelas!
Vós nos opondes objecções?... Basta! Basta! Já as conhecemos... Já entendemos!... Nossa bela e hipócrita inteligência nos afirma que somos o resultado e o prolongamento dos nossos ancestrais. - Talvez!... Seja!... Mas que importa? Não queremos entender!... Ai de quem nos repetir essas palavras infames!...
Cabeça erguida!...
Erectos sobre o pináculo do mundo, mais uma vez lançamos o nosso desafio às estrelas."

sábado, 28 de janeiro de 2012

PICASSO




Picasso dá-nos Coisas
que nos desorganizam os olhos
as linhas correm
paralelas, e depois
separam-se, os rostos
ficam de repente de perfil
Les Demoiselles velhas
uma forma hoje
não é amanhã
Picasso deixa a cabeça
a nossa, irrequieta.
 
J.T.Parreira 

Affonso Romano de Sant'Anna: O Homem e a Letra


Antony Gormley, Standing Matter I, 2001, forged balls bearing, 192 x 47 x 31 cm.

O Homem e a Letra 

Depois de Beranger ter visto seus vizinhos virarem rinocerontes 
depois de Clov contemplar a terra arrasada e comunicar-se 
em monossílabos com seus pais numa lixeira 
depois de Gregory Sansa ter acordado numa manhã 
transformado em desprezível inseto aos olhos da família 
e Kafka não ter entrado no castelo para ele aberto todavia 
depois de Carlito a sós na ceia do ano cavando o inexistente 
afeto no ouro dós salões 
depois de Se Tsuam perder-se não entre as três virtudes 
teologais 
mas num maniqueísmo banal entre o bem e o mal 
depois dos diálogos estáticos de Vladimir e Estragon 
na estrada.de Godot 
depois de Alfred Prufrock como um velho numa estação 
seca contemplando a devastação e incapaz de perturbar o universo 
depois dos labirintos de Teseu, Borges e Robbe-Grillet 
depois que o lobo humano se refugiou transido na estepe fria 
depois da recherche no tempo perdida e de Ulisses perdido 
no périplo de Dublin 
depois de Mallarmé se exasperar no jogo inútil de seus dados 
e Malevitch descobrir que sobre o branco 
só resta o branco por pintar 
depois dos falsos moedeiros moendo a escrita exasperante 
em suas torres devorando o que das mãos de Cronos 
gera e degenera 
depois da morte do homem e da morte da alma 
depois da morte de Deus na Carolina do Norte 
antes e depois do depois 
aqui estou Eu confiante Eu pressupondo EU erigindo 
Eu cavando Eu remordendo 
Eu renitente Eu acorrentado Eu Prometeu Narciso Orfeu 
órfano Eu narciso maciço promitente Eu 
descosendo a treva barroca desse Yo 
sem pejo do passado 
reinventando meu secreto 
                   concreto 
                   Weltschmerz 
Que ligação estranha então havia entre os nós e os nós 
de outros eus 
entre Deus e Zeus 
que estranha insistência que penitência ardente que estúpido 
e tépido humanismo 
que fragilidade na memória que vocação de emblemas 
e carência em mitografar-se 
que projectum árduo e cego que radar tremendo pelas veias 
que vocação de camuflar abismos e flutuar no vácuo 
que reincidente recolocar do vazio no centro do vazio? 

Que aconteça o humano com todos os seus happenings 
e dadas? 
que para total desespero de mim mesmo e de meus amigos 
I have a strong feeling that the sum of the parts does not 
equal the whole 
e que la connaissance du tout précède celle des parties 
e com um irlandês aprendo a dividir 22 por 7 e achar 
no resto ZERO 
enquanto grito sobre as falésias 
when genuine passion moves you say what you have to say 
and say it hot 
Bêbado de merda e fel egresso da Babel e de onde os sofistas 
me lançaram 
vate vastíssimo possesso e cego guiado pelo que nele há 
              de mais cego 
tateando abismos em parábolas 
açodando a louca parelha que avassala os céus 
diante do todo-poderoso Nabucodonosor eu hoje tive um sonho: 
OOO: INFERNO — recomeçar 
Salute o Satana, "Finnegans reven again!" 
agora sei que há a probabilidade da prova e da idade 
o descontínuo do tímpano e o contínuo 
que de Prometeu se vai a Orfeu e de Ptolomeu se vai 
      a Galileu 
Eurídice e Eu, Eu e Orfeu 
o feitiço contra Zebedeu Belzebu e os seus 


Madness! Madness!" 
sim, loucura, mas não é a primeira vez que me expulsam 
      da República 
loucura, sim, loucura, ora direis 
enquanto retiro os jovens louros de anteontem 


Que encham a casa de espelhos aliciando as terríveis maravilhas 
para que vejam quão desfigurado cursava o filho do homem 
             em seus desertos cheios de gafanhoto e mel silvestre 
que venha o longo verso do humano 
o desletrado inconsciente 
fora os palimpsestos! Mylord é o jardineiro 
eis que o touro negro pula seus cercados e cai no povaréu 
Ecce Homo 
ego e louco 
cego e pouco 
ébrio e oco 
cheio de sound and fury 
in-sano in-mundo 


Madness! Madness! Madness!
Madness
Summerhill
                 Weltschmerz 

— ET TOUT LE RESTE EST LITTÉRATURE


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Eis aí, leitor, um interessante exercício: identificar as miríades de citações literárias que o autor insere na caudal torrente deste texto...

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

CONTÉM: ARMAS PESADAS - Ode à alteridade - Novo livro de poesia de Sammis Reachers


CONTÉM: ARMAS PESADAS
Ode à alteridade

Apresento a vocês meu mais novo livro, um deveras estranho livro de poesia.
Mas de que se trata, com título e subtítulo já tão (ou tão pouco) sutis? Esta é uma história de ação? Sim, um talvezépico sujo. Pois há muito de triller cinematográfico aqui, nesta ficção poética, belicosa história de amor, de perdições e redenções. O discurso poético praticado é experimental: fragmentário, interativo. É um livro para ser lido online, um exercício amplo de hipertexto ou hiperliteratura, um livro que entre as interatividades propostas chega a possuir capítulos secretos (como fases bônus num jogo de videogame). Mas quanto ao teor e o conteúdo total dos experimentalismos, você precisará ler o texto para descobrir. E há muito a ser descoberto.
Cada capítulo/poema é precedido por uma fotografia também de minha autoria, num planeamento gráfico objetivando simbioticamente se integrar e promover (antecipando/amplificando, e mesmo desconstruindo) os subclimas que irrompem aqui e ali no texto, com suas pitadas embaralhadas de noir, (pós?)romântico, romanesco, épico, etc.
O texto pode, pela rudeza e estranheza (a alteridade mesma) do discurso, espantar algum meu irmão na fé acostumado à poesia dita cristã, devocional, embora a mensagem de redenção (ou melhor, de redenções) seja o mote central do poema.
Antes de minha conversão, o experimentalismo era a principal linha poética que eu perseguia, quando editava o fanzine Cardio-Poesia, onde praticava experimentalismos tipográficos e artesanais, como rasuras, colagens, etc., no que muitas vezes era quase um ‘fanzine-objeto’.
Este texto é um (febril, escrito/fotografado/editado em dois meses) exercício, anos e anos depois, de retomar aquela velha veia experimental.

Leia, indique, compartilhe em seus círculos, redes sociais. E me diga o que achou, escreva para esclarecer alguma dúvida. Estou aqui.
O livro possui 43 páginas, em pdf.

Para baixar o livro, CLIQUE AQUI.
Leia online no Scribd AQUI.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

FÁTUOS

“Abria-se a noite como uma romã”
José Eduardo Agualusa, in Milagrário Pessoal, p. 108.


um fogo sem artifícios
estrelas pálidas e ululantes
no céus como só olhos de aves
as poderiam espalhar

estendidos na frescura dos beirais
escorre dos lábios o oiro
a que habituaste a rosa,
o que tens para nos dar
agora ó noite ardente,
rubra nas velas
que se acendem remotas
no rufar das cigarras

senão a explosão dos teus dedos
como grãos de romã?

26/01/12


Kaddish profano para Paul Celan


Às vezes um rosto, todas as manhãs
do fundo do espelho
vem despedir-se de mim
por vezes cego, começa a abrir-se
ao acender da luz
que vem do tecto e enche o espelho
Também aparecem os meus ombros
e estremecem
sacodem os fios da noite
Algo me acusa de estar vivo
aos cinquenta anos
judeu sobrevivente
aos nomes dos meus pais.

25/1/2012

Poema inédito de J.T.Parreira

Jorge Luis Borges - O poeta declara sua nomeada



O poeta declara sua nomeada

O círculo do céu mede minha glória,
As bibliotecas do Oriente disputam os meus versos,
Os emires me procuram para me encherem de ouro a boca,
Os anjos já sabem de cor meu último zéjel.
Meus instrumentos de trabalho são a humilhação e a angústia;
Oxalá eu tivesse nascido morto.

Do Diván de Abulcasim el Hadrami (século XII)

in O Fazedor (DIFEL, 1984)


Depois de o poeta ser definido por Pound (aqui) e Baudelaire (aqui), é a vez de Borges dizer o que é um poeta. Das três, ainda fico com esta, terrível, de Borges.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Manifestos Literários: Baixe os Manifestos Surrealista e Dadaísta



Iniciamos, com este post, a concretização de uma das propostas do Mar Ocidental, que é a publicação de alguns dos principais Manifestos Artístico-literários. 

Já de início, disponibilizamos dois dos principais, que tiveram grande impacto sobre as artes do século XX, e cuja influência se faz sentir até os dias de hoje: O Manifesto Dadá de 1918, de Tristan Tzara, e o Manifesto Surrealista, de André Breton, de 1924. Os textos estão em arquivos para download (formato pdf).

Manifesto Dadá - Para baixar CLIQUE AQUI.


Manifesto Surrealista - Para baixar CLIQUE AQUI.

domingo, 22 de janeiro de 2012

ALGUNS LIVROS ESSENCIAIS PARA A POESIA


DAILOR VARELA
Durante vários séculos a poesia era uma questão de rimas, métricas e desvairadas e românticas inspirações. Até que poetas como Mallarmé, Maiakovski, Pound desmistificam a natureza inspiradora da poesia.
Insistiram que a matéria prima da poesia era a Linguagem. “Sem forma revolucionária não há arte revolucionária” disse Maiakovski.
Sua sábia conclusão foi uma espécie de bússola para todos os movimentos de vanguarda poética que surgiram após a inquietação e criatividade de Maiakovski, sem duvida o ícone dos “Signos em Rotação” das vanguardas. A partir daí vários livros essenciais foram escritos sobre a poesia e suas “oficinas” de Linguagem.
O próprio Maiakovski escreveu “Como fazer versos?” Outros livros essenciais:
“A dignidade da poesia” de José Lezama Lima. O autor cubano, uma das maiores autoridades no Neo- Barroco na Literatura Latino Americana reuniu neste livro uma série de estudos sobre Rimbaud, Mallarmé. Navega com extrema lucidez sobre temas como “do aproveitamento poético”, “as imagens possíveis”, “a dignidade da poesia” além de um longo estudo sobre Vallery. Outro livro essencial é “A poética da Agoracidade” de Sonia Guedes do Nascimento.
É resultado de uma tese de mestrado do programa de pós-graduação da PUC de São Paulo apresentada em novembro de 1990. Indispensável é também “A arte da Poesia” de Pound onde ele diz que “obviamente não é fácil ser um grande poeta”.
Os textos críticos dos concretistas Augusto de Campos, Décio Pignatari e Haroldo de Campos escritos de 1950 a 1960 resultaram no livro “Teoria da Poesia Concreta”, imperdível navegação para quem pretende atravessar o mar da poesia.
O poeta processo Álvaro de Sá escreveu em 1977 “Vanguarda, Produto de Comunicação” que é um estudo profundamente lúcido sobre o poema processo e suas vertentes.
O poeta T.S.Eliot escreveu “De poesia e poetas” e “A essência da poesia”  que o poeta Ivan Junqueira define muito bem como “uma mostra luminosa da monumental erudição de um dos grandes poetas, dramaturgos e críticos do século”.
A bibliografia em torno da arte poética tem livros indispensáveis como “Arte e Palavra” , resultado de um Fórum de Ciência e Cultura realizado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro que aconteceu na década de 80. No livro uma frase do músico de vanguarda John Cage: “poesia não é ter nada a dizer e dizer: não possuímos nada”.
Antes de rabiscar enluarados poemas, ler estes livros citados e outros sobre arte poética é certamente uma lição obrigatória para quem pretende ser POETA.

PASSEIO DOMINICAL

No domingo chega-se tarde ao trabalho
as mães atrasam-se nos beijos que dão
aos filhos, de rostos luminosos de maçã
os passos atrasam-se
numa meticulosa triangulação de ar
uma perna que sucede ao chão
e este a outra perna

no domingo entra o jardim
pela crianças dentro
— que bom que hoje está soalheiro,
mas mesmo que neve
as ruas dançam em perfeita comunhão
no coração que guardam no olhar

no domingo suja-se louça de porcelana

chora a pele no choque contra a outra pele
como o amor do mar com a rocha
primacial, portentoso

no domingo é o vento que envolve
os braços e todos levanta em uníssono
num cântico raro
nos corações ao alto
a Deus nas alturas

23/01/12

Pensamentos sobre Leitura


Por Al Mohler (Editora Fiel)

Eu realmente não me recordo de um tempo em que eu não apreciasse ler livros. Sei que eu era ávido para aprender a ler e rapidamente me vi imerso no mundo dos livros e da literatura. Isso pode ter sido um tipo de sedução, e o discípulo cristão deve estar sempre alerta para conduzir seus olhos para livros que merecem a atenção de um discípulo de Cristo – e existem muitos desses livros.

Como Salomão nos exortou: “Não há limite para fazer livros” (Ec 12.12). É impossível ler tudo o que existe, e nem tudo o que existe merece ser lido. Digo isso com o objetivo de me opor ao conceito de que qualquer pessoa, em qualquer lugar, pode dominar o conteúdo de tudo quanto lê. Eu leio muito, e boa parte do tempo em que estou acordado é dedicado à leitura. A leitura devocional para o benefício espiritual é uma parte importante do dia, e ela começa com a leitura das Escrituras. Em se tratando de administração do tempo, não sou muito ortodoxo. Para mim, a melhor hora para gastar tempo na Palavra é tarde da noite, quando tudo está quieto e tranqüilo, e estou com a mente alerta e bem acordado. Isso não acontece quando levanto pela manhã e tenho que me esforçar para encontrar cada palavra na página ou fazer qualquer outra coisa.

Eu leio muitos livros no decorrer de uma semana. Sou consciente do quanto posso prosperar em erudição e do estímulo intelectual que recebo através da leitura. Como minha esposa e família diria, posso ler quase em todo o tempo, em qualquer lugar, em quaisquer circunstâncias. Sempre carrego um livro comigo, e sou conhecido por separar alguns momentos para ler enquanto o semáforo está fechado. Não, eu não leio enquanto estou dirigindo – apesar de admitir que, às vezes, isto é uma tentação. Eu levava livros para os eventos esportivos do ensino médio, quando eu tocava na banda. (E havia uma porção de vaias e gozações!) Lembro-me dos livros...e você, lembra dos jogos?

Algumas Sugestões Inicias:
1. Mantenha projetos regulares de leitura. Organizo minhas estratégias de leitura em seis categorias: teologia, estudos bíblicos, vida na igreja, história, estudos sobre culturas e literatura. Sempre tenho alguns projetos em andamento, em cada uma dessas categorias. Seleciono livros para cada projeto, e os leio de capa a capa em um determinado período de tempo. Isso me ajuda a ter disciplina em minhas leituras e me mantém trabalhando em diversas áreas.

2. Trabalhe com porções maiores das Escrituras. Estou terminando uma série de exposições no livro de Romanos, pregando versículo após versículo. Tenho pregado e ensinado diversos livros da Bíblia nos últimos anos e planejo minhas leituras de modo a continuar progredindo. Estou passando para o livro de Mateus, coletando informações e seguindo em frente – ainda não planejei mensagens específicas, mas estou lendo para absorver o máximo possível de obras valiosas a respeito do primeiro evangelho. Leio constantemente obras de teologia bíblica e estudos exegéticos.

3. Leia todos as obras de alguns autores. Escolha com cuidado, mas identifique alguns autores cujos livros mereçam sua atenção. Leia tudo o que eles escreveram, observe como suas mentes trabalham e como desenvolvem seus pensamentos. Nenhum autor pode completar seus pensamentos em um único livro, não importando o quão extenso seja.

4. Adquira uma coleção grande e leia todos os volumes. Sim, invista nas obras de Martinho Lutero, Jonathan Edwards e outros. Estabeleça um projeto para si mesmo e leia toda a coleção. Gaste tempo nisso. Você ficará surpreso em ver que chegará mais longe do que espera, em menos tempo do que imagina.

5. Permita-se ler algo por entretenimento e aprenda a apreciar a leitura através de livros agradáveis. Gosto de muitas áreas da literatura, mas realmente amo ler biografias e obras históricas, em geral. Além disso, aprecio muito a ficção de qualidade e obras literárias conceituadas. Quando garoto, provavelmente descobri meu amor pela leitura através desse tipo de livro. Sempre que possível, separo algum tempo, a cada dia, para fazer esse tipo de leitura. Viva com um pouco de emoção.

6. Faça anotações em seus livros, sublinhe-os; mostre que são seus livros. Os livros são feitos para serem lidos e usados, e não colecionados e mimados. Abra uma exceção para aqueles livros raros dos antiquários, aqueles que são considerados tesouros por causa de sua antiguidade. Não deixe marcas de caneta em uma página antiga, nem use um marcatexto em um manuscrito. Invente o seu próprio sistema ou copie-o de alguém, mas aprenda a dialogar com o livro, com uma caneta na mão.

Gostaria de escrever mais sobre este assunto, mas preciso continuar minhas leituras. Retornarei a ele mais tarde. Por agora: Tolle, lege!

sábado, 21 de janeiro de 2012

sucesso

preciso de alguma coisa
que vá
mais longe do que eu

e que me leve
para sempre
agarrado ao pescoço da
vida

uma coisa
impalpável,
vagarosa e fosforescente

maior
que a própria morte

com a boca
pendurada
na cabeça da eternidade

que profetize sonhos
e
alentos

um rastejante
bicho da seda
com cores de borboleta

sôfrego
de tudo

e que me explique
para além
de mim

(mar) 16/01/12

Os teóricos da poesia moderna



Na Wikipédia podemos encontrar a oportuna lista abaixo, referente a alguns dos ditos teóricos da poesia moderna. Como este Mar Ocidental tem também o objetivo de ser um mar de aprendizados, apresentamos esta lista. Há nomes faltando, outros provavelmente não deveriam aí constar, mas... evitemos polêmica. Há muito a se apreender e aproveitar.

A

B

C

E

G

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