sábado, 14 de janeiro de 2012

Charles Baudelaire: O Albatroz, em duas traduções




Apresentamos o original deste poema belíssimo, e duas traduções: Primeiro a de Guilherme de Almeida, que julgo superior, e depois a de J.A.Haddad.


L'albatros

Souvent, pour s'amuser, les hommes d'équipage
Prennent des albatros, vastes oiseaux des mers,
Qui suivent, indolents compagnons de voyage,
Le navire glissant sur les gouffres amers.

A peine les ont-ils déposés sur les planches,
Que ces rois de l'azur, maladroits et honteux,
Laissent piteusement leurs grandes ailes blanches
Comme des avirons traîner à côté d'eux.

Ce voyageur ailé, comme il est gauche et veule!
Lui, naguère si beau, qu'il est comique et laid!
L'un agace son bec avec un brûle-gueule,
L'autre mime, en boitant, l'infirme qui volait!

Le Poète est semblable au prince des nuées
Qui hante la tempête et se rit de l'archer;
Exilé sur le sol au milieu des huées,
Ses ailes de géant l'empêchent de marcher


BAUDELAIRE, Charles. "Les fleurs du mal". In:_____Oeuvres complètes. Paris: Robert Laffond, 1980.





O albatroz

Às vezes, por prazer, os homens de equipagem
Pegam um albatroz, enorme ave marinha,
Que segue, companheiro indolente de viagem,
O navio que sobre os abismos caminha.

Mal o põem no convés por sobre as pranchas rasas,
Esse senhor do azul, sem jeito e envergonhado,
Deixa doridamente as grandes e alvas asas
Como remos cair e arrastar-se a seu lado.

Que sem graça é o viajor alado sem seu nimbo!
Ave tão bela, como está cômica e feia!
Um o irrita chegando ao seu bico em cachimbo, 
Outro põe-se a imitar o enfermo que coxeia!

O poeta é semelhante ao príncipe da altura
Que busca a tempestade e ri da flecha no ar;
Exilado no chão, em meio à corja impura,
A asa de gigante impedem-no de andar.



Tradução de Guilherme de Almeida. In: MAGALHÃES JÚNIOR, R. Antologia de poetas franceses do século XV ao século XX. Rio de Janeiro: Gráfica Tupy, 1950.




O Albatroz


Às vezes, por folgar, os homens da equipagem
Pegam de um albatroz, enorme ave do mar,
Que segue – companheiro indolente de viagem -
O navio no abismo amargo a deslizar.


E por sobre o convés, mal estendido apenas,
O imperador do azul, canhestro e envergonhado,
Asas que enchem de dó, grandes e de alvas penas,
Eis que deixa arrastar como remos ao lado.


O alado viajor tomba como num limbo!
Hoje é cômico e feio, ontem tanto agradava!
Um ao seu bico leva o irritante cachimbo,
Outro imita a coxear o enfermo que voava!


O Poeta é semelhante ao príncipe do céu
Que do arqueiro se ri e da tormenta no ar;
Exilado na terra e em meio do escarcéu,
As asas de gigante impedem-no de andar.


Tradução de J.A.Haddad. Ed. Difel, 1958, pág. 90

Um comentário:

  1. O Albatroz

    Muitas vezes os homens da equipagem
    Pegam de um albatroz, vastas aves do mar,
    Que seguem – companheiros indolentes de viagem -
    O navio no abismo amargo a deslizar.

    No convés, se vê preso, pousado a penas
    O imperador do céu, Inábil e envergonhado,
    Deixa lamentavelmente suas grandes asas brancas
    Como remos arrastar ao seu lado .

    Este alado viajante, como è covarde e canhoto!
    Ele antes tão belo, ei-lo o grotesco e feio!
    Um o irrita chegando ao seu bico um cachimbo,
    Outro imita, o enfermo que voava, coxeando!

    O Poeta é semelhante ao príncipe do Ar
    Que do arqueiro se ri e atormenta as tempestadas;
    Exilado na terra no meio das vaias,
    As asas de gigante impedem-no de andar.

    Charles Baudelaire

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