T.S.Eliot, nasceu em 1888 -tal como Pessoa -para dar um sentido de tragédia à Poesia do século XX, à sua vida e à sua obra, mas algumas décadas depois.
Entretanto a sua existência pretendia ser perfeitamente doméstica e comum. Ao ponto de suscitar a Virginia Woolf umas quantas linhas de piedade estética: «Coitado do Tom – verdadeiro poeta, acho eu; é aquilo que há-de ser considerado daqui a cem anos um homem de génio; e vive assim.»
Parece que Thomas Stearns Eliot vivia o drama de ter casado com uma lady da sociedade londrina, senhora maníaco-depressiva que o fazia passar por entre vitorianas humilhações. E assim ficava subitamente vencido, comovido, trágico e infeliz.
Por esta razão, afirma-se, quiçá de uma maneira simplista e redutora, que a sua obra-prima e um dos poemas maiores do século passado, The Waste Land, tem traços auto-biográficos. Se os têm, em todo o caso eles sublimam-se e passam do terreno do quotidiano para um espaço meta-cultural e meta-histórico, do domínio das mitologias, sobretudo a grega que contribuia para enobrecer os grandes poemas na década de 20.
Às margens do Léman sentei-me e lá chorei… Como se sabe, o Lago Léman fica em Lausanne, e foi perto dele que Eliot escreveu uma parte do poema. Concedendo-lhe, já se vê, um sentido trágico que buscava referentes no Cântico dos exilados hebreus nas margens do Eufrates ou do Tigre.
Era um autor expatriado, culto e jovem, em 1931, e o sentido de tragédia com que estruturara o poema, levando Ezra Pound a torná-lo um Templo mais habitável e aconchegado nos seus somente 433 versos, fazia com que leitores londrinos o lessem por estar a fazer coisas novas. E por ter pensamentos de um neo-iluminismo como nenhum autor de origem rural ( quero dizer norte-americano) os tivera, na Europa, até essa altura. Ainda estavam longe os quase cinco mil versos de Os Cantos ou «as conversas inteligentes» de Pound, não obstante o ano 1915 tivesse assistido à publicação dos primeiros.
Em simultâneo, porém, T.S.Eliot defendia nos seus ensaios o elitismo da cultura. Defendeu, no plano da Estética, o cerebralismo.
Escreveu-se acerca de Eliot que intelectualizou o verso para a poesia se tornar em rigoroso instrumento de análise de um ou mais períodos da História, mas de uma maneira mais simples e telúrica já Walt Whitman fizera o mesmo com uma boa parte dos poemas de «Folhas de Erva».
Ao contrário deste, A Terra Sem Vida é justamente considerado um poema cerebral, repleto de associações de ideias, e representa tudo o que vai na mente do homem contemporâneo, entrevisto paradoxalmente do «interior» dos olhos cegos de Tirésias, a personagem nuclear do Poema, que vê a própria substância da desolação da história.
Todas as referências culturais da magna obra, em fragmentos, como é típico da cultura ocidental ( lemos mais depressa a fragmentada obra de Heraclito do que o volumoso mar divino da Odisseia), todas as intertextualidades, representam no Poema a desintegração da civilização e, diz-se, da civilização da Europa.
He who was living is now dead
We who where living are now dying
With a litlle patience
Poema central na consciencialização estética da crise da cultura moderna, e dos valores morais que iniciaram o seu desmoronamento entre as duas Grandes Guerras, rompe para melhor efeito com o discurso lírico tradicional. O poeta escreve no 430º verso a base estrutural de todo o Poema: «These fragments I have shored against my ruins.»
Here is no water but only rock
Rock and no water and the sandy road
A Terra sem Vida, publicado em 1922 e reduzido aos seus 433 versos por intervenção estético-cirúrgica de Ezra Pound, il miglior fabbro, é já o mundo movendo-se rumo ao caos, embora o Poema comece com a esperança, truncada e enganadora, do mês de Abril ser o mês dos renovos:
April is the cruellest month, breeding
Lilacs out of the dead land, mixing
Memory and desire, stirring
Dull roots with spring rain.
Nenhum comentário:
Postar um comentário