sábado, 29 de dezembro de 2018

UM NOVO MAGNIFICAT

O Espírito do Senhor tem asas por cima da Terra
procura entranhas e sangue
para acolher o seu Reino, o lugar 
onde o seu Filho fará entrar na história
dos homens, um ventre de uma jovem
filha da pobreza e do anonimato.
O Espírito do Senhor paira
sobre os estábulos
não é na cidade que achará
o coração da humildade, não
o sentado no trono dos poderosos,
mas o que entenda a língua das estrelas,
tão brancas como as neves,
que ser brancas é tudo o que são.
Para que precisa seria mais ciência
para além da resposta vitralícia,
um Magnifique a minha alma o Senhor?
Rui Miguel Duarte
24/12/18

quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

200 Citações sobre a Paz - Baixe o e-book gratuito


Vivemos em tempos de crescente agitação. A informação, surgindo de todos os lados, ganha ares de avalanche. A violência, seja urbana ou rural, física, simbólica ou virtual, toma os espaços e espalha tristeza e medo, quando não terror.
Neste cenário de acelerada e intensificada agitação e violência, onde encontrar a paz? Sobre que bases e com que ferramentas construí-la?
Neste breve livro, reunimos algumas percepções e pensamentos sobre a Paz, oriundas de pensadores, estadistas, escritores os mais diversos no tempo e no espaço.
O texto que encerra essa seleta demonstra como a paz que almejamos está ao alcance daquele que a busca, e pode, uma vez conquistada, ser irradiada para os outros.
Tenha uma boa leitura!

PARA BAIXAR O LIVRO (FORMATO PDF) PELO SITE GOOGLE DRIVE, CLIQUE AQUI.

domingo, 2 de dezembro de 2018

POESIA EM 500 CITAÇÕES: Algumas das melhores definições e reflexões de todos os tempos sobre a poesia e o poema, o poeta e o fazer poético - Livro gratuito


  


   Além de poeta, esse mal menor, tenho há mais de uma década sido editor de poesia. Ao longo do tempo, vez por outra fui indagado por poetas, sejam iniciados, iniciantes e outros que sequer deram o primeiro verso, mas, temerosos, soltavam questionamentos em busca de rumos e indicações que lhes permitissem o ingresso nessa Pasárgada Total que é a Poesia:

O que é a poesia? O poema? E o poeta?

        Um dos motes para a realização desta antologia de citações é esse: Ofertar, num golpe único, algumas das melhores definições e reflexões sobre o que é a poesia e o poema, o poeta e o fazer poético. Assim poetas, o almirantado, mas também marujos vários: críticos, filósofos, santos e bunda-lêlês aqui estão vaticinando suas assertivas, algumas delas realmente extraordinárias, é preciso dizer. E ainda descemos aos últimos porões do léxico: São 17 os dicionários consultados pelo verbete poesia.
        Um livro de graça. O trigésimo? Após quase vinte antologias poéticas, uma (meta)antologia em prosa sobre a poesia em si, em dó, em lá de bem dalém do Bojador. Sim. Mais uma estrofe quixotesca de meu trabalho de pichador de muros e promotor literário, editor e antologista  de poesia primeiramente. Sei que essa faina frágil, robinhoodiana de piratear sintagmas no Mar dos Ingratos há de me render um dia não a forca mas homenagem  uma estátua, construto de fumaça, na mais imaginarinútil de todas as ilhas do Atol de Utopia. Que seja. Queimo minha nau pelo prazer da ardência e o torpor da fumaça: sou um multiplicador de embriagados. Apesar da ingratidão dos homens e das musas, tudo que sei é esse navegar. Nunca prestei pra mais nada na vida, e para essa ardência em águas me conservou o Deus.
        Bem-vindo a bordo da nau incendiada, marujo. Queime seus pés no tombadilho ardente, produza ar quente para insuflar o que restam das velas e o que você tenha de asas. E encontre, ao tombar o horizonte, aquilo que busca.

Sammis Reachers 

PARA BAIXAR O LIVRO (FORMATO PDF) PELO GOOGLE DRIVE, CLIQUE AQUI.

Compartilhe esse livro com seus contatos e confrades, alunos e professores, partidários e detratores: Por e-mail, redes sociais... Disponibilize-o para download gratuito em seu blog, site, portal. A Poesia há de vencer!


domingo, 25 de novembro de 2018

Jesus e a Música das Esferas



Jesus e a Música das Esferas

      Éramos apenas eu, João e André, com Ele na face norte do monte Shir, defronte ao mar da Galileia. Os demais companheiros permaneceram em Tiberíades, em casa de Zebulom, colaborador judeu egresso do Ponto.
    Sobre o pico do monte, sendo fustigados por fortes ventos, Jesus convidou-nos a sentar. A seguir, abrindo o seu alforje, retirou uma flauta. De minha parte jamais a vira; quedei, como os demais, em abnegado e atônito silêncio. Levou o Rabi a flauta à boca; antes do toque entre lábio e madeira, julguei ter visto um sutil sorriso, que Ele só liberava quando prestes a externar esplendor.
    Quando a música, robusta, estabeleceu-se pelo ar, o ventou apertou. O mar lá embaixo encrespou-se, ondas passaram a estrugir contra as rochas, levantando uma fresca nuvem de gotículas que sobrescalavam até o alto da montanha, borrifando nossas faces. Permanecíamos sentados, enquanto Deus-andarilho tocava sua flauta.
    Houve um hiato na melodia; mas breve o Senhor retomou a música, agora suave e terna. O mar como que silenciou, enquanto multidões de aves marinhas passaram a sobrevoar o mirante em que estávamos, realizando sua marcha perfeita, como as Legiões de César. Absortos, éramos enlevados por seu baile, e curados pela música.
    André sorria maravilhado, tornado à infância pelo deslumbre. João conservava a expressão grave, o susto seco de quem faceara o abismo e a impossibilidade. Aproximou-se ainda mais do Senhor, como sempre fazia em momentos como este. Quando Ele novamente pausou a música, perguntou-lhe:
    — Mestre, é maravilhosa a melodia, e jamais ouvimos nada assim. Sequer já o vimos tocar; por que nos ocultou tal cousa? O Senhor poderia tocá-la para que os demais discípulos, ou mesmo todas as pessoas a ouçam? Dariam nisso mais glórias a Deus!
     O Mestre, que por João nutria perfeita ternura, sorriu.
    — Todo aquele que quiser pode ouvi-la, João; desde que criei esta Terra, a melodia jamais cessou de tocar. Ela respira quando tu respiras, e firma o chão sob teus pés, quando caminhas; ela dá crescimento às plantas e move as esferas. A tudo une e anima; leva a traz minhas ordenanças. Ela é minha Palavra criadora ininterrupta, que existe e subsiste em forma de música. Quando é preciso, como agora, ela recrudesce à forma de palavra de homem, assim como eu próprio esvaziei-me até a forma de filho do homem. Aguce teus ouvidos, ó menor de meus irmãos: Não pode ouvi-la?
   João silenciou, sustentando seu olhar de assombro, agora o dirigindo, inquiridor, para a paisagem.
    — E você, Mateus, pode ouvi-la?
    Deitei-me sobre a rocha; fechei os olhos, como quem se estende sobre a fruição, o devir. Não sentia, como João ou como quem é ferido por um aguilhão, tolhido por cadeias, necessidade de racionalizar. Aleijado na humildade de minha condição de pó, nada respondi ao Mestre - mas num repente o silêncio atmosférico, o próprio silêncio cósmico pareceu ganhar cores em meus ouvidos, numa vibração surda que ia preenchendo dimensões que eu sequer intuíra existir, e como que a tudo completava, ligando, ponto a ponto, a todas as coisas.
    Cerrando com ainda mais força os olhos inundados, sorri.


Nota ao leitor desavisado: Caro leitor, claro está que a situação aqui relatada jamais aconteceu, sendo uma perfeita ficção. Tão ficção que o palco onde transcorre a ação, um monte Shir (do hebraico, música), jamais existiu.

Sammis Reachers

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

100 Frases de Martin Luther King em livro gratuito



Neste ano de 2018 rememoramos os cinquenta anos da morte de Martin Luther King. Nascido em Atlanta, no estado da Geórgia, Martin Luther King Jr. (1929 – 1968) foi um pastor protestante e ativista político norte americano. Sua cruzada em favor dos direitos civis dos negros e pobres fez dele uma das mais importantes vozes de protesto e luta por justiça do século XX.
Seus esforços não se limitaram ao combate às práticas de discriminação racial: King foi defensor dos direitos das mulheres, opositor da guerra do Vietnã e militou ainda por melhores salários e condições de trabalho para a população de baixa renda.
Graduado em sociologia e teologia, com doutorado nesta última, King sempre foi um hábil artesão da palavra, e seus discursos são ricas peças de exortação e motivação.
Sua grande força moral, que lhe rendeu o Prêmio Nobel da Paz (1964), recebeu influência do princípio da não-violência de Mahatma Gandhi e principalmente dos ensinos de Jesus Cristo. Por sua vez, seu exemplo e suas palavras impactaram e continuam a influenciar pessoas em todos os cantos da Terra.
Confira, nas páginas a seguir, um pouco da riqueza do pensamento de Martin Luther King Jr.  E, no texto ao fim deste volume, entenda a origem da irrefreável esperança e sede de justiça que tornaram King um gigante.

PARA REALIZAR O DOWNLOAD DO LIVRO (EM PDF) PELO GOOGLE DRIVE, CLIQUE AQUI.



domingo, 21 de outubro de 2018

O Livro e o Prazer da Leitura em 400 Citações - Um livro capital


O livro é a porta para o que é o homem, o que é humano. É o testemunho máximo de nossa história e evolução, raízes e anseios – e nosso alcance. Faltam-nos palavras para descrever o livro. Bem, este é justamente um dos motivos desse livro sobre o livro (e sobre a leitura): coligir reflexões as mais diversas sobre o nosso amigo de todas as horas, bem como sobre o prazer que a leitura proporciona, oriundas de autores, tempos e culturas os mais variados.
A reflexão sobre o livro e o incessante e multiforme incentivo à leitura precisam estar na base, no “chão” da cultura, para que o edifício se erga e sustenha. Afinal, o livro é o objeto cultural elementar.
Pais e educadores, leitores e escritores, livreiros, editores, políticos, jornalistas – profissionais e amantes do livro e qualquer um preocupado com os destinos da educação e do próprio país encontrarão aqui um ferramental de boa e urgente reflexão. “Munições” para lembrarmos, celebrarmos e promovermos a cada dia mais a Sua Excelência, o Livro.

Sammis Reachers

O livro encontra-se à venda apenas pela livraria AMAZON. Você pode adquirir o seu clicando AQUI.

sexta-feira, 12 de outubro de 2018

O QUE DISSE CAIM A ADÃO A LESTE DO PARAÍSO






O que Caim podia dizer ao pai sou mau herdei de ti
A observância da dúvida, a transfiguração do que era
Antes apenas a polpa do bem e do mal
Sou um homem que luta contra serpentes
Que querem minar os meus frutos da terra
Porque não se fechou o teu palato à doçura do desejo
Sei que seria belo o estremecimento de amor
Ao ver a mão da mãe trazer-te um belo fruto
Eu estava de longe a apreciar o vosso desvelo
O amor com que amastes Abel, o meu irmão sim
Esse era bom a menina dos vossos olhos eu não
Já não quero amor de espécie alguma
Embora Deus peregrine comigo na terra de Node

11/10/2018
© João Tomaz Parreira




quinta-feira, 11 de outubro de 2018

HAIKU







As lanças em riste

na ramagem das palmeiras

combatem o vento




25-09-2018
© J.T.Parreira

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Magia e Milagre da Palavra


As palavras pesam. Talvez porque sejam a mais genuína invenção humana. Os papagaios não falam, apenas repetem. Não escapam de seus limites atávicos. Curioso é organismo humano não possuir um órgão específico da fala. O olho é a fonte da visão, como o ouvido, da audição. A língua facilita a deglutição, como a traqueia, a respiração. No entanto, a ânsia de expressar-se levou o ser humano a conjugar mente e boca, órgão da respiração e da deglutição, para proferir palavras.
“No princípio era o Verbo”, reza o prólogo do evangelho de João. Deus é Palavra e, em Jesus, ela se faz carne. O mundo foi criado porque foi proferido: “E Deus disse: ‘Haja a luz’ e houve luz”, conta o autor do Gênesis.
Vivemos sob o signo da palavra. Unir palavra e corpo é o mais profundo desafio a quem busca coerência na vida. Há políticos e religiosos que primam pela abissal distância entre o que dizem e o que fazem. E há os que falam pelo que fazem.
A palavra fere, machuca, dói. Proferida no calor aquecido por mágoas ou ira, penetra como flecha envenenada. Obscurece a vista e instaura solidão. Perdura no sentimento dilacerado e reboa, por um tempo que parece infinito, na mente atordoada pelo jugo que se impõe. Só o coração compassivo, o movimento anagógico e a meditação livram a mente de rancores e imunizam-nos da palavra maldita.
Machado de Assis ensina que as palavras têm sexo, amam-se umas às outras, casam-se. O casamento delas é o que se chama estilo.
A palavra salva. Uma expressão de carinho, alegria, acolhimento ou amor, é como brisa suave que ativa nossas melhores energias. Somos convocados à reciprocidade. Essa força ressurrecional da palavra é tão miraculosa que, por vezes, a tememos. Orgulhosos, sonegamos afeto; avarentos, engolimos a expressão de ternura que traria luz; mesquinhos, calamos o júbilo, como se deflagrar vida merecesse um alto preço que o outro, a nosso parco juízo, não é capaz de pagar. Assim, fazemos da palavra, que é gratuita, mercadoria pesada na balança dos sentimentos.
Vivemos cercados de palavras vãs, condenados a uma civilização que teme o silêncio. Fala-se muito para dizer bem pouco. Nas músicas juvenis abundam palavras e carecem melodias. Jornais, revistas, tevê, outdoors, telefone, correio eletrônico – há demasiado palavrório. E sabemos todos que não se dá valor ao que se abusa.
Carecemos de poesia. O poeta é um entusiasmado, no sentido grego deen + theós = com um deus dentro. Como sublinha Platão no Ion, nele fala a divindade, o Outro. Em linguagem psicanalítica, fala o inconsciente. Como Orfeu, o poeta desce à noite dos infernos para recuperar Eurípides, o fantasma do desejo.
Nossa lógica cartesiana faz do palavrório uma defesa contra o paradoxo. No entanto, sem paradoxo não há arte. O belo é irredutível à palavra, mas só a palavra expressa a estética. O silêncio não é o contrário da palavra. É a matriz. Talhada pelo silêncio, mais significado ela possui. O tagarela cansa os ouvidos alheios porque seu matraquear de frases ecoa sem consistência. Já o sábio pronuncia a palavra como fonte de água viva. Ele não fala pela boca, e sim do mais profundo de si mesmo.
Há demasiado ruído em nós e em torno de nós. Tudo de tal modo se fragmenta que até a hermenêutica se cala. Hermes, o deus mensageiro, já não nos revela o sentido das coisas, mormente das palavras, que se multiplicam como vírus que esgarça o tecido e introduz a morte.
Guimarães Rosa inicia Grandes sertões, veredas com uma palavra insólita: “Nonada”. Não nada. Não, nada. Convite ao silêncio, à contemplação, à mente centrada no vazio, à alma despida de fantasias.
Sabem os místicos que, sem dizer “não” e almejar o Nada, é impossível ouvir, no segredo do coração, a palavra de Deus que, neles, se faz Sim e Tudo, expressão amorosa e ressonância criativa.
Frei Betto

domingo, 30 de setembro de 2018

A CONVERSÃO A CAMINHO DE DAMASCO, DE CARAVAGGIO (1600)







Com os braços procurando suster

O peso do céu, Saulo sente a humilhação

Como Estevão um dia sob as pedras

Todo o silêncio se estendeu e a voz

Vem do firmamento que se abre de repente

Saulo, Saulo, por que me persegues, e um jorro

De luz como um vento a abrir uma janela

Não era uma voz de seda, nem colérica

Como as vozes que emergem dos homens

Era a pergunta

De quem ainda tinha feridas de ferro nas mãos

E sinais de uma coroa ardente de espinhos.



29/09/2018
© João Tomaz Parreira


terça-feira, 18 de setembro de 2018

A VALSA, DE CAMILLE CLAUDEL (1892)





O homem e a mulher estão os dois
Numa só carne, fechados num só amor
Aqui é o silêncio que transcende
O movimento, pisam ou flutuam na água
Da música derramada pelo chão
Um só vento rodopia nos dois corpos
Tudo à volta
Até as coisas móveis se detêm
A eternidade perdura nos poucos minutos da canção.


17/09/2018
© João Tomaz Parreira

terça-feira, 11 de setembro de 2018

Carta à Árvore



CARTA À ÁRVORE

Sammis Reachers

Torre transterna,
                          Transuterina
Verde malha de açambarcar
Estaca que a vida finca
Patamarizado playground,
                                        Estação clorofila
Biopilar da paz

Terramáter véu
Usina alquímica
A nutrir o sistema-Terra

Obrigado eternamente obrigado
Por alimentar-nos
De proteção e pão
Por verdecer para que não
                                          Ressecássemos
Nós seus vorazes algozes agradecemos
Por nos servir
De berço,
                 Púlpito
       E esquife
Perdoa-nos a nós os desgalhados entes
Nós a raça kamikaze de sem plumas
E sem clorofila



Do livro Árvore - Uma Antologia Poética (baixe gratuitamente AQUI).

sábado, 25 de agosto de 2018

Saudação às Árvores, poema de Henry Van Dyke



SAUDAÇÃO ÀS ÁRVORES

Henry Van Dyke
Tradução de Sammis Reachers

Muitas árvores são encontradas na floresta,
E toda árvore para seu uso é boa:
Algumas pela força da raiz retorcida,
Algumas pela doçura da flor ou da fruta;
Algumas para abrigar contra a tempestade,
E algumas para manter a pedra da lareira quente;
Algumas para o telhado, e algumas para o feixe,
E algumas para um barco para enfrentar o fluxo -
Na riqueza da madeira desde o início do mundo
As árvores ofereceram seus presentes ao homem.

Mas a glória das árvores é mais do que seus dons:
É uma bela maravilha da vida que se eleva,
De uma semente enrugada em um torrão de terra,
Uma coluna, um arco no templo de Deus,
Um pilar de poder, uma cúpula de prazer,
Um santuário de música e uma alegria de se ver!
Suas raízes são as enfermeiras dos rios em nascimento;
Suas folhas estão vivas com o sopro da terra;
Elas abrigam as moradas do homem; e elas se dobram
Sobre seu túmulo com o olhar de um amigo amoroso.

Eu acampei na floresta sussurrante de pinheiros,
Eu tenho dormido na sombra de oliveiras e videiras;
Nos joelhos de um carvalho, ao pé de uma palmeira
Encontrei um bom descanso e o bálsamo do sono.
E agora, quando a manhã doura os galhos
Do olmo na porta da minha casa,
Eu abro a janela e faço saudações:
“Deus abençoe os teus ramos e alimente a tua raiz!
Viveu antes, vive depois de mim,
Tu, árvore antiga, amigável e fiel.”


Do livro Árvore - Uma Antologia Poética (baixe gratuitamente AQUI).


quinta-feira, 23 de agosto de 2018

CARTA QUE UM JUDEU PODERIA TER ESCRITO EM BIRKENAU




Lembra-te de mim de vez em quando

Mesmo que seja só quando alguém

Perguntar por que desapareci no ar

diz-lhe simplesmente

Que não rejeitei meu nariz judeu, nem

Mesmo sem saber da minha tribo o nome

Rasguei no coração os livros de Moisés

Nem deixei de salmodiar às portas da morte

diz que o meu silêncio há-de ser

Uma torre que chegará ao céu

diz que estou órfão, um nome sem feições

Que um lento veneno

Entrou no sangue da nossa família

diz-lhe que com as minhas cinzas

Podem desenhar meu nome

Ainda que o rio Vístula as tenha

Levado de espuma em espuma.


25/11/2017
©  João Tomaz Parreira

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

VAGÃO JOTA






“Só se fores no Vagão Jota…disse”.  –“Atão vamos nesse…”

“- Homem, isso é pràs bestas – e riu”

Virgílio Ferreira, “Vagão “J”



Parece um acordeão enorme a tocar nos carris

A toada da morte, nas linhas atarefadas da Europa

O Reich poupa os recursos das viagens

Com Vagões J escuros por fora e por dentro

Sem lâmpadas para nem os olhos tactearem

A dor de todos, nem o sol indirecto

Rompe com uma pequena poeira iluminada

Os Vagões Jota correm

Empilhados de mugidos de tristeza.




16/08/2018
© João Tomaz Parreira



domingo, 5 de agosto de 2018

ÁRVORE Uma Antologia Poética - Livro gratuito


        


        O termo grego ανθολογία (antologia), significa “coleção ou ramalhete de flores”. Daí o latim florilegium. O termo florilégio encaixa-se bem ao presente trabalho, onde procurou-se coligir poemas sobre a árvore, esse centro e pilar da hera.
        E foi sorvendo de outas antologias, e ainda de livros individuais, revistas e websites, que coligimos aqui este singelo ramalhete de poemas sobre a árvore. Adicionamos ao volume uma pequena seleção de frases sobre o tema, e, em arremate, publicamos o texto integral (vertida sua grafia ao português hodierno) do poema A Destruição das Florestas, do múltiplo Manuel de Araújo Porto-Alegre (1806 – 1879). O poema, que veio à luz em 1845, é um significativo e precoce exemplo de consciência ambiental em nossa literatura.
        Uma antologia temática é uma chance sempre de a poesia penetrar em espaços outros que não os estritamente circunscritos aos apreciadores de poesia. Como antologista, confesso que prefiro, por motivos óbvios, trabalhar com temas ainda não contemplados, os quais infelizmente são muitos em nossa língua. Já assim fizemos em trabalhos como Segunda Guerra Mundial – Uma Antologia Poética; Breve Antologia da Poesia Cristã Universal e Amor, Esperança e Fé – Uma Antologia de Citações, só para citar alguns trabalhos. Assim, qual a vantagem (ou vantagens) de debruçarmo-nos, agora, sobre uma outra antologia da árvore, já que nossa literatura possui obras neste viés? Acreditamos em algumas. A primeira, é de ordem da amplitude espaço-temporal: a coleta de um número significativo de textos, abarcando autores, se em sua maioria brasileiros ou lusos, também de outras literaturas do globo, e alguns deles de produção posterior às seletas precedentes; a segunda, por suprimento de lacuna, visto que os predecessores são livros esgotados já de há boas décadas; e, por fim, nossa motivação principal: a democratização do conhecimento proporcionada por um livro que já nasce eletrônico e gratuito, o que permite um acesso fácil, amplo e permanente ao seu conteúdo. Afinal, em tempos em que “Meio Ambiente” alcançou o status de tema transversal a perpassar o ensino de todas as disciplinas escolares, auxiliar educadores em seu esforço para incutir o reconhecimento e a valorização deste ser áulico e basilar da Natureza, a árvore, naqueles corações sob sua jurisdição, torna-se nosso objetivo mais urgente.
        Além do elogio da árvore, presta-se aqui uma homenagem a nossos poetas de agora e de ontem, e de certa forma um serviço à literatura lusófona, pois toda antologia literária é antes de tudo isso - um serviço prestado a uma literatura e ao universo de seus usuários.
        Este é um livro gratuito. Como amante das árvores e da literatura, como professor e como antologista, é um prazer ofertar este livro a todos, com votos de que ele possa ser compartilhado livremente, para que alcance os fins a que se propõe.
                               
Sammis Reachers

Para baixar o livro (224 págs., em formato PDF) pelo Google Drive, CLIQUE AQUI.


quarta-feira, 25 de julho de 2018

SOB O TECTO DA CAPELA SISTINA





Não estás longe, estás à distância de um dedo
Sei onde estás, isso é o mais importante
Do que qualquer religião possa dizer
Não estás longe, meus dedos não se perderiam
Mesmo que contassem as estrelas
Encontro-Te onde estás
E faz toda a diferença, a minha voz
Sabe o caminho, os meus olhos fecham-se
E não se perdem, aqui comigo mesmo
Entre coisas que com o tempo se desnudam
Lentamente escrevo este poema
Com os ossos a doerem, sigo o teu perfume
Como a abelha que suga o mel
Como a andorinha que sabe sempre onde está.


22/07/2018
© João Tomaz Parreira

terça-feira, 17 de julho de 2018

ACUSO









Porque tive fome, e deste-me pão negro com bolor
Tive sede, e conspurcaste a água
Sendo estrangeiro, deixaste-me sem cama
Estando nu, não me vestiste
Senão com roupa transparente na neve
E vi os companheiros
Irem nus para a morte, estive enfermo e
Procuraste no meu corpo a causa
Ancestral porque deveria morrer
Estive na prisão e o meu corpo recebeu o teu ódio
Com a regularidade do sol e da noite
Tudo o que me fizeste e a um destes pequeninos
Acuso-te, foi a um Deus que fizeste
E em verdade te digo que te conheço.


09/05/2018 
© João Tomaz Parreira 


(Foto da libertação de Buchenwald, 1945)

segunda-feira, 16 de julho de 2018

Destino, poema de Cecília Meireles


DESTINO

Pastora de nuvens, fui posta a serviço
por uma campina desamparada
que não principia e também não termina,
onde nunca é noite e nunca madrugada.

(Pastores da terra, vós tendes sossego,
que olhais para o sol e encontrais direção.
Sabeis quando é tarde, sabeis quando é cedo.
Eu, não.)

Pastora de nuvens, por muito que espere,
não há quem me explique meu vário rebanho.
Perdida atrás dele na planície aérea,
não sei se o conduzo, não sei se o acompanho.

(Pastores da terra, que saltais abismos,
nunca entendereis a minha condição.
Pensais que há firmezas, pensais que há limites.
Eu, não.)

Pastora de nuvens, cada luz colore
meu canto e meu gado de tintas diversas.
Por todos os lados o vento revolve
os velos instáveis das reses dispersas.

(Pastores da terra, de certeiros olhos,
como é tão serena a vossa ocupação!
Tendes sempre o indício da sombra que foge...
Eu, não.)

Pastora de nuvens, esqueceu-me o rosto
do dono das reses, do dono do prado.
E às vezes parece que dizem meu nome,
que me andam seguindo, não sei por que lado.

(Pastores da terra, que vedes pessoas
sem serem apenas de imaginação,
podeis encontrar-vos, falar tanta coisa!
Eu, não)

Pastora de nuvens, com a face deserta,
sigo atrás de formas com feitios falsos,
queimando vigílias na planície eterna
que gira debaixo dos meus pés descalços.

(Pastores da terra, tereis um salário,
e andará por bailes vosso coração.
Dormireis um dia como pedras suaves.
Eu, não.)


Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...