domingo, 22 de novembro de 2020

PEQUENA AMÉRICA, um poema de Pablo Neruda

 


Pequena América

Quando vejo a forma
da América no mapa,
amor, é a ti que eu vejo:
as alturas do cobre em tua cabeça,
os teus peitos, trigo e neve,
a tua cintura delgada,
velozes rios que palpitam, doces
colinas e prados
e no frio do sul teus pés completam
a sua geografia de ouro duplicado.

Amor, se te toco,
minhas mãos não percorrem
apenas as tuas delícias,
mas ramos e terras, frutos e água,
a primavera que eu amo,
a lua do deserto, o peito
das pombas selvagens,
a suavidade das pedras polidas
pelas águas do mar ou dos rios
e a vermelha espessura
dos matagais onde
a sede e a fome espreitam.
E assim a minha extensa pátria me recebe,
pequena América, em teu corpo.

Mais ainda: quando te vejo reclinada,
em tua pele eu vejo, em tua cor de aveia,
a nacionalidade do meu carinho.
Porque dos teus ombros
fita-me, inundado de escuro suor,
o cortador de cana
de Cuba abrasadora,
e através da tua garganta
pescadores que tiritam
nas húmidas casas do litoral
cantam-me o seu segredo.
E assim ao longo do teu corpo,
pequena América adorada,
as terras e os povos
interrompem meus beijos
e a tua beleza, então,
não só ateia o fogo
que entre nós arde sem cessar,
mas com teu amor me está chamando
e através da tua vida
me oferece a vida que me falta
e ao sabor do teu amor junta-se o barro,
o beijo da terra que me aguarda.

Pablo Neruda, in "Os Versos do Capitão".

terça-feira, 10 de novembro de 2020

"Excessos Milenares", versão em português do premiado livro de Dennis Ávila, em download gratuito

 


Prezados leitores, temos satisfação de oferecer, em download gratuito, a versão em português do livro "Los excessos millenarios", livro pelo qual o poeta hondurenho-costarriquenho Dennis Ávila Vargas obteve o prestigioso Prêmio Internacional de Poesia em sua VII Edição, entregue durante os Encontros de Poetas Ibero-Americanos em Salamanca, na Espanha.

O texto a seguir foi escrito pelo poeta A. P. Alencart, coordenador literário do prêmio.

Salamanca é uma ponte poética reconhecida com a América Latina. Isso inclui - em pé de igualdade - Portugal e aquele país-continente chamado Brasil. Um prémio como o Prémio Internacional de Poesia ‘Pilar Fernández Labrador’, que não atribui nenhum Euro, sabe premiar quem confia na sua credibilidade e prestígio.

Outro dos vários ‘prêmios’ deste prestigioso prêmio de Salamanca, é a tradução do livro vencedor para a língua de Camões, Pessoa, Jorge Amado ou José de Alencar, este último um dos grandes romancistas do romantismo brasileiro. Cito porque tenho a honra de fazer parte dessa linhagem nordestina.

Pois bem, não existe uma pandemia que mitigue ou frustre o que é oferecido nas bases da convocação. Agora apresentamos o livro com a tradução de “Los excessos millenarios”, de Dennis Ávila. Foi protagonizada por Leonam Cunha, jovem poeta brasileiro (nordestino do estado do Rio Grande do Norte), advogado e aluno de doutorado na Universidade de Salamanca.

O prólogo do livro traz a assinatura de Álvaro Alves de Faria, um dos mais notáveis ​​poetas da atualidade no Brasil e que Salamanca homenageou há treze anos.

A pintura da capa do livro, pelo segundo ano consecutivo, é do artista cubano-espanhol Luis Cabrera Hernández, professor da Escola de Gravura da Casa de la Moneda de España. Um mestre nessas lutas.

O livro saiu com o selo editorial do Centro de Estudos Ibéricos e Americanos de Salamanca (CEIAS) e, para além de uma edição em papel de tiragem limitada, possui esta versão digital que pode ser descarregada gratuitamente de qualquer parte do mundo. A edição espanhola foi editada pelo Conselho Provincial de Salamanca, em cuidadosa edição.


PARA BAIXAR O LIVRO, CLIQUE AQUI.


segunda-feira, 2 de novembro de 2020

A PAZ INQUIETA, um poema de Pedro Casaldáliga


 A paz inquieta

Dá-nos, Senhor, aquela PAZ inquieta
Que denuncia a PAZ dos cemitérios
E a PAZ dos lucros fartos.

Dá-nos a PAZ que luta pela PAZ!
A PAZ que nos sacode
Com a urgência do Reino.
A PAZ que nos invade,
Com o vento do Espírito,
A rotina e o medo,
O sossego das praias
E a oração de refúgio.
A PAZ das armas rotas
Na derrota das armas.
A PAZ do pão da fome de justiça,
A PAZ da liberdade conquistada,
A PAZ que se faz “nossa”
Sem cercas nem fronteiras,
Que é tanto “Shalom” como “Salam”,
Perdão, retorno, abraço…
Dá-nos a tua PAZ,
Essa PAZ marginal que soletra em Belém
E agoniza na Cruz
E triunfa na Páscoa.

Dá-nos, Senhor, aquela PAZ inquieta,
Que não nos deixa em PAZ!


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