terça-feira, 27 de maio de 2014

[ QUANDO VOLTÁMOS A CASA ]




Fotografia de Robert Capa, 1948


“Quem são estes que vêm voando como nuvens, 
e como pombas às suas janelas?” Isaías, 60,8

Quando voltámos a casa e crescemos
Sobre os nossos pés
Para espreitar as janelas, com algumas teias
Como véus antigos, e entrámos e nos inclinámos
Sobre a mesa de madeira com rugas de solidão
Anos e anos com um silêncio
Sem pão, a nossa casa estava estéril, agora
Começará  a dar frutos, a deitar calor pela chaminé
Vai  começar a acender as janelas.

27-05-2014
© João Tomaz Parreira

terça-feira, 13 de maio de 2014

13 de Maio, poema de Pedro Marcos Pereira Lima


13 de maio
Por mais que nos vejam
Em novelas do horário nobre
Somos presos por engano
Por mais que nos vejam
Nos estádios em transações milionárias
Somos convocados para comermos banana
Na grama
Por mais que nos vejam
Nos palcos trocando palavras
Em raps
Em funks
No rank da ostentação
Morremos nos postes
Debaixo do pau das hostes
De nós mesmos
Por mais que nos vejam
Nos shoppings nos bancos nas ruas
Não somos vistos, somos espionados.
Por mais que nos vejam
Somos invisíveis

domingo, 4 de maio de 2014

HELENA DE TRÓIA




“Helena de alvos braços / Helena, divina entre as mulheres”
Canto III, da Íliada, de Homero



Pela beleza dos teus olhos mil navios
fazem-se ao mar, pelo fogo
que o vento nos teus cabelos despenteia
mil olhos ficaram com insónias


Pelo amor inatingível do teu corpo
mil homens dão o peito à morte
e pelo ouro dos teus lábios, gritam
nas praias de Tróia mil heróis


Pela tua beleza transparente nos vestidos
erram ainda cegos pelos campos
à procura de vestígios.


17-4-2014
João Tomaz Parreira © 


(Imagem: Helena e Páris)

sábado, 3 de maio de 2014

EPODO AO SALMO 139

a J. T. Parreira, com amizade, solidariedade poética e votos de saúde


Alguém lá em cima gosta de mim
alguém lá em cima tem colo de ouro
e braços de estrelas
para os meus cansaços

posso estar no chão e os meus pés
pisarem os céus e os ínferos dos mortos
pode não sobrar de mim mais do que
a voz que grita a ocidente e a oriente
e Alguém aí está e gosta de mim

posso não ter mais do que algas podres
em vez de mãos um seixo túrgido
em vez de uma canção que se atira
contra os tremores de ventos e marés

que claro e imperceptível é
que, ao mostrar-se treva luz,
Alguém gosta de mim

Rui Miguel Duarte
03/05/14
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