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sexta-feira, 17 de junho de 2022

Sísifo e Afrodite, ou a fábula do amor líquido

  


Na fábula, dez anos após Zeus ter punido Sísifo com a missão de rolar eternamente a enorme rocha montanha acima, apenas para vê-la despencar do alto e ter que recomeçar a movê-la, Afrodite, entre curiosa e apaixonada (e não é a paixão uma curiosidade exacerbada e mórbida?) disfarçou-se de humana e, escondida de seu pai Zeus, veio ter com o herói ou derrotado ladrão dos falsos deuses.

– Homem de grande força, gostaria de ter alguém para lhe acariciar nesta noite, revigorando sua masculinidade enquanto você rola esta enorme pedra? perguntou, lânguida, a deusa vestida em tênues trajes.

... Não, minha bela jovem. Posso empurrar esta pedra por toda a eternidade, se assim for necessário. Mas confesso que gostaria de ter alguém, alguém que permanecesse para além de uma noite, e se assentasse sob aquele pé de zimbro e dissesse, de quando em vez, com um sorriso terno: "Você está indo bem, e eu estou aqui contigo. Continue."

Conta Homero ou Plutarco ou Borges ou mesmo Bolaño (pois a lenda perdeu-se como a memória dos deuses quedos), que a deusa dúbia, sonsa e fulminante, incapaz de constância, ou de oferecer TÃO POUCO, transmutou-se à sua forma célica e, contrafeita e incendiada, tornou ao Olimpo, o Olimpo dos frios vencedores.

Sammis Reachers


Este conto faz parte do livro Fabulário Índigo. Disponível em formato impresso (aqui) e e-book (pela Amazon, aqui).


domingo, 5 de julho de 2015

EURÍDICE






 “De pé nas lages da entrada do Hades
Orfeu curva-se a uma rajada de vento” 
 -Czeslaw Milosz



foi o amor um perigo mortal, tanto como foi belo
Orfeu estar de novo defronte do rosto de Eurídice,
depois de vencer o vento, ninguém pode
nem os deuses podem contra o amor
pensava Orfeu.

ousou assim entrar na morte e trazer a amada
amaciando o coração do Hades,
com os cristais do portal da vida quase à mão.

mas como a morte tem os seus caminhos,
foi o desejo que fez Orfeu perder-se
a olhar para trás, e assim perder para sempre
o objecto do amor.   


23-06-2015

© João Tomaz Parreira 

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Crepúsculo dos Deuses: Ragnarök


Um Dia feito da escuridão
de todos os dias
o Dia em que Odin-o-exaurido
será devorado pelo lobo Fenris,
Thor-do-trovão tombará sobre o cadáver
da serpente-sem-fim, Iormungand


Você é um dos homens
eleitos pelo deus, guerreiro?
Afie pois os dois caminhos de sua espada,
as duas asas de seu machado firme
e caia como vaga sobre o conflito:
será tudo em vão,
pois ao fim e ao cabo
como a Ordem venceria o Caos?

Mas você terá combatido,
você terá deveras combatido
e não foi afinal para isso e para este Dia,
ó boneco de pó predestinado,
que o pai Odin criou os homens?


Sammis Reachers

domingo, 24 de fevereiro de 2013

THE MYTH THAT CAME TRUE


                                                A C. S. Lewis

desde a primeira tarde do primeiro dia
da primeira hora irrompeu o som cavo
de histórias antigas, já antigas
quando foram contadas

pela voz do pregoeiro o raio de sol
trazia cores de um novo dia o rasto
de um novo século, o altar falava
em nome de um Cordeiro de carne e sangue

o papel em que o mito foi inscrito
era a folha que declarava
que depois da pedra o ramo daria o fruto

Rui Miguel Duarte
24/02/13

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

THOR ODINSON



THOR ODINSON

URSS, 1941

Para Rui Miguel Duarte

Noturno, nigromante irmão
tua blitzkrieg, tua encouraçada traição
 rompe sobre meus pântanos gelados,
minhas extensões de
desconsolo e sesmarias de cismas

- Eia!, antigo amigo: acelere vossa marcha
de antiterno anticristo
eu já incendiei meus celeiros
para iluminar a chegada de teu cortejo
já arregimentei minhas crianças
para fábricas e fronts...
Expandi minhas aberturas
como uma cortesã, para saciar
com meu rubro (abr)aço
a solidão de teus soldados

Filho de Ymir, meu meio-irmão
traga célere-impávido
teu peito ávido
até o aguilhão forjado
de meu sangue congelado,
curvada Foice, meu estendido
punhal de frio.

Loki meu irmão,
fabulário de ardis, vem:
traga a tepidez mumificada de teu rosto
de encontro ao trovão de meu Martelo.

Ao que vencer, Midgard.

Este poema deveria ter entrado no livro Poemas da Guerra de Inverno, mas seu rascunho acabou ficando 'perdido' no bloco de notas de meu telefone celular, e só agora o reencontrei e pude trabalhá-lo melhor. Ofereço-o ao amigo Rui Miguel Duarte, entusiasta de primeira hora de meus poemas de guerra. Utilizei as conhecidas personagens da Mitologia Nórdica para configurar alemães e soviéticos. Loki, filho do Gigante do Gelo Ymir, foi adotado por Odin, pai do deus do trovão, Thor, tornando-se assim meio-irmão deste, no reino celestial de Asgard. Com o tempo, revelou sua face ardilosa, traindo seu irmão. 'Midgard' é o que chamamos de planeta Terra... Quanto à metáfora da Foice e do Martelo, está por demais patente, mas cabe lembrar aos muito muito jovens leitores que eram (são) símbolos do Comunismo.
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