Mostrando postagens com marcador Pablo Neruda. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Pablo Neruda. Mostrar todas as postagens

domingo, 22 de novembro de 2020

PEQUENA AMÉRICA, um poema de Pablo Neruda

 


Pequena América

Quando vejo a forma
da América no mapa,
amor, é a ti que eu vejo:
as alturas do cobre em tua cabeça,
os teus peitos, trigo e neve,
a tua cintura delgada,
velozes rios que palpitam, doces
colinas e prados
e no frio do sul teus pés completam
a sua geografia de ouro duplicado.

Amor, se te toco,
minhas mãos não percorrem
apenas as tuas delícias,
mas ramos e terras, frutos e água,
a primavera que eu amo,
a lua do deserto, o peito
das pombas selvagens,
a suavidade das pedras polidas
pelas águas do mar ou dos rios
e a vermelha espessura
dos matagais onde
a sede e a fome espreitam.
E assim a minha extensa pátria me recebe,
pequena América, em teu corpo.

Mais ainda: quando te vejo reclinada,
em tua pele eu vejo, em tua cor de aveia,
a nacionalidade do meu carinho.
Porque dos teus ombros
fita-me, inundado de escuro suor,
o cortador de cana
de Cuba abrasadora,
e através da tua garganta
pescadores que tiritam
nas húmidas casas do litoral
cantam-me o seu segredo.
E assim ao longo do teu corpo,
pequena América adorada,
as terras e os povos
interrompem meus beijos
e a tua beleza, então,
não só ateia o fogo
que entre nós arde sem cessar,
mas com teu amor me está chamando
e através da tua vida
me oferece a vida que me falta
e ao sabor do teu amor junta-se o barro,
o beijo da terra que me aguarda.

Pablo Neruda, in "Os Versos do Capitão".

sexta-feira, 30 de março de 2012

Túpac Amaru



Túpac Amaru

“Túpac Amaru, sol vencido,
tua glória desgarrada
sabe como o céu no mar
uma luz desaparecida.”
Pablo Neruda, Canto Geral

Neruda, cicatrizes nas alamedas de quartzo,
Um funeral nas pétalas
Funeral de insetos tugidos nas pétalas
Da flor de turmalina da árvore da vida
Sephirot

Tepidez, trovão, máscaras araucárias
Neruda, nunca beijei uma colombiana, quando
Prestes afogaram-me no Amazonas,
Meu obscuro Nilo


Eles vão sair, vão à missa na matriz
Formam um lindo casal
Como a noite e o punhal
Interpolação de asas, secreto voo,
Queda, Neruda, Neruda,
.



Pirata espanhol, pirata francês,
Duro pirata inglês
Pirata português e holandês
Queria dar-vos a morte
Em vosso berço, abrir
Com meu punhal noturno
Os ventres purulentos de tuas raparigas de leite
Romper o telhado sombreado
De vossas casas maternas
Mas são vocês que matam-nos em nosso berço de palha,
Vocês vêm para transformar-nos em Adão.



Neruda, Neruda,
Hoje eu planto coca
Para alinhavar a sanha dos piratas:
Vingo-nos sem alabardas:
Empalo
Seus sonhos em pedras
E linhas dilacerantes de pó.

Sammis Reachers
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...