NA CRUZ
"Para ele nascer morri"
Almeida Garrett
Doem-me as mágoas dos homens
os seus dolos ardem-me as têmporas
dos homens nascidos para a morte
a massa do mundo pesa-me
por dentro do ferro
por vós homens, que tendes a transgressão
por norma. Quem entendeu
o que cantava a cítara antiga,
quem entendeu a subida ao monte
em que a faca encontra
rente ao sangue o cordeiro
do silêncio? Quem entendeu
o protesto do profeta até aos abismos?
Para nascerdes é que eu morri
para que o Sol vos risse
é que as Estrelas choraram
Rui Miguel Duarte
25/03/16
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sexta-feira, 25 de março de 2016
domingo, 20 de abril de 2014
RELATO
“Quem acreditou naquilo que ouvimos?”
Livro do Profeta Isaías 53:1
pediram-nos uma palavra
aberta em melodia que falasse
do drama da alegria
do seu breve trânsito pelos velhos mortos
em que foram decompostas as nossas pobrezas
pediram-nos uma memória,
quente, nova que fizessem acreditar
que a memória é símbolo e é carne
pediram-nos um relato
mais vivo e que mais fortemente
arrepiasse a espinha ao silêncio
do que o próprio evento
que contar o espinho ferisse mais
do que o espinho,
porque a mortalha dele é nossa roupa nova
para dia de festa
e o sangue dele o nosso músculo enxuto
contar quanto a pedra caiu à beira do caminho
diante do clamor das mulheres
quanto o dia em que a noite
foi apenas a preparação da manhã
o que temos é só o que ouvimos
porque Ele retornou ao Pai
deixou-nos, contadores
necessário é: para manter
os ouvidos ouvindo
e em desemparo acreditando
e nós contamos
Rui Miguel Duarte
19/04/14
Livro do Profeta Isaías 53:1
pediram-nos uma palavra
aberta em melodia que falasse
do drama da alegria
do seu breve trânsito pelos velhos mortos
em que foram decompostas as nossas pobrezas
pediram-nos uma memória,
quente, nova que fizessem acreditar
que a memória é símbolo e é carne
pediram-nos um relato
mais vivo e que mais fortemente
arrepiasse a espinha ao silêncio
do que o próprio evento
que contar o espinho ferisse mais
do que o espinho,
porque a mortalha dele é nossa roupa nova
para dia de festa
e o sangue dele o nosso músculo enxuto
contar quanto a pedra caiu à beira do caminho
diante do clamor das mulheres
quanto o dia em que a noite
foi apenas a preparação da manhã
o que temos é só o que ouvimos
porque Ele retornou ao Pai
deixou-nos, contadores
necessário é: para manter
os ouvidos ouvindo
e em desemparo acreditando
e nós contamos
Rui Miguel Duarte
19/04/14
domingo, 31 de março de 2013
CELEBRAÇÃO
“Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos saltos e aos pinotes”
Mário de Sá-Carneiro, “Fim”
Quando morri batestes em latas
fizestes do meu corpo o tambor das vossas festas
rompestes em pinotes na seda de acrobatas
ocultastes-me nas costas de uma pedra
ajaezado numa câmara escura
na ausência de um fandango
descurado na concha de um frio chão
Quando nasci de novo bebestes
um brinde de celebração
Quando nasci de novo foi só
uma nova manhã para palpitar
o encontro dos cálices do coração
no sol o rosto lavastes, ao céu quente
aprendestes a nova canção que os astros
de há muito sussurravam
as estrelas cadentes
eram os alegros esparsos
dessa composição por tecer
Rui Miguel Duarte
31/03/2013
segunda-feira, 9 de abril de 2012
HOJE, PÁSCOA
“Iam a correr…”
Evangelho segundo João 20:4
hoje preferimos
deixar o sono dormindo na cama
e correr, correr ao túmulo
porque nos disseram que a morte
havia de si própria fugido
deixámos tudo até o peixe
fazer a sua faina nas brasas
e a fome arder só ao lume
e correr, correr ao túmulo
porque nos disseram que a pedra
havia desertado
hoje preferimos
saltar obstáculos
e mesmo pisar urtigas com ambos os pés nus
porque nos disseram que a vida
conquistara o vento
preferimos ao linho
molhado em aloés
antes molhar as frontes
com a água corrente da vertiginosa pressa
de chegar ao túmulo
o lugar de descansar
do tumulto o coração
9/04/12
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