sexta-feira, 31 de março de 2017

ALMOÇO NO TOPO DE UM ARRANHA-CÉUS




Como folhas presas no mesmo ramo
procurando no topo o lugar
 do sol.  Enquanto no solo
pequenos seres
raspam no chão o musgo, procuram
ganhar o dia,  correndo sob o mistério.
Vários rostos do mesmo inteiro ramo,
só quando o ocaso desce, saem das alturas
e se misturam na multidão.

31-03-2017

© João Tomaz Parreira  

quarta-feira, 29 de março de 2017

VIGÍLIA


Foto: Catherine Leroy, Vietnan, 1967


Senhor, partiram tão tristes
Os seus olhos, tão raiados de sonhos
Ainda há pouco punham a vida em dia.

Falávamos de planos, um cigarro
Ardia como única chama dos lábios,
Falávamos da primeira mulher
Que amamos, tão longe o nosso coração.

De Deus falamos às vezes, tão longe
Entre nuvens, aonde quer que fossem
Só os nossos passos cortavam o silêncio.

Agora os seus olhos partiram e só
Têm as minhas lágrimas, que me golpeiam
As pálpebras. O sol tropical é um pobre
Fantasma ele também entre a névoa matinal.

29-03-2017

© João Tomaz Parreira

sábado, 25 de março de 2017

E-book PASSAGEM: A poesia de Newton Messias


Prefácio

A poesia de Newton Messias é a verbalização de sua ampla humanidade: ora ferida (& exposta), ora oferta amiga, contundente em sua busca de paz e equalização, justiça e misericórdia. Frutos que ela quer e possui, e, em seu amor resiliente, avança semeando-os em todas as escalas, fundando suas próprias territorialidades semióticas.
Seu verso ora livre, ora liberto em rimas, tem o toque desconcertante e álacre da poesia marginal; alma e musicalidade são o tônus de suas composições, onde toda uma herança de modernos faz-se ouvir, ruído de fundo, eco a perpassar sua prosódia prenhe de linguagens mestiçadas. Filho e andarilho do mesmo chão pernambucano que um Cabral de Mello Neto e um Manoel Bandeira, encontramos em Newton um poeta feito, que trabalha a palavra com a perícia com que dedilha seu violão (é professor da violão clássico no Conservatório Pernambucano de Música).
Sua poesia não se alheia, refém de vazios alumbramentos, mas firma sua voz no cotidiano, percebendo e decompondo(-se) (n)o zeitgeist, o espírito de seu tempo, como neste trecho dePaz moderna:
após desejar bom dia em trinta grupos do whatsapp
saiu calado sem cumprimentar ninguém

depois de assinar um avaaz contra a corrupção
estacionou na vaga de idoso (...)

Sua fé é a crença dos alforriados da religiosidade, dos que depositam em Cristo o somatório de tudo o que são – fraquezas e dons, sucessos e angústias – enfastiados pelo moroso amor e a célere corrupção que faz descarrilhar do verdadeiro cristianismo a tantas das instituições ditas cristãs.
É um prazer segredar ao leitor que este pequeno volume, para parafrasear o título de um famoso livro de Mário Quintana, é um Baú de (alegres) Espantos, uma aprazível seleta de poesia das mais vivazes, audazes e comunicantes de empoderamento, empoderamento em amor, que tenho lido nos últimos tempos.

Sammis Reachers

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quarta-feira, 15 de março de 2017

Novo livro de J.T.Parreira: Sou Lázaro e Vou Recomeçar


Em seu mais novo e-book, o estimado poeta João Tomaz Parreira, com sensibilidade e singularidade emblemáticas, nos apresenta uma reunião de poemas tendo por eixo temático esta personagem ímpar das escrituras, Lázaro, (protó)tipo de todo homem que se achega a Cristo.

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domingo, 12 de março de 2017

O CAMINHO PARA EMAÚS

Conversávamos pensativos sobre as coisas
Que aqueles dias nos traziam, os prodígios
Que acabavam, por terra
Quase o terceiro dia, a noite
Na palma das nossas mãos vazias
Até que sem nenhum gesto grandioso
Senão o do instante, Alguém
Se aproximou a um passo de distância
Dos nossos olhos cegos
E sabia, esse Estranho, tudo o que sabia
Deus veio à nossa mente.


09-07-2014

©  João Tomaz Parreira

sexta-feira, 10 de março de 2017

O Judeu Eterno, poema de Iaacov Cahan


O JUDEU ETERNO

Um Judeu errante encontrou certa vez um homem
com um machado na mão, o trajo sujo de sangue.
O Judeu murmurou: "Deus!" e para trás deu um pulo.
O homem também se assustou, o seu rosto fez-se escuro.
"Por que erra você por aqui, Judeu?" disse ele.
O Judeu sentenciou: "Deus permanece sempre".
O homem gritou furioso: "O que é que você murmura?"
O Judeu replicou: "Deus é juiz, faço anúncio".
Ele brandiu seu machado, golpeou o Judeu no rosto.
O Judeu caindo gritou: "Deus vinga o que está morto!"
Ora quando o mesmo homem um dia se foi à praia,
Deparou-se-lhe o Judeu quando ia de um lado a outro.
Aturdido ele gritou: "Mas como, você ainda vive!"
Deu-lhe o Judeu a resposta: "No Senhor subsisto".
Agarrou ele o Judeu, jogou-o dentro da água.
O Judeu afundou e não proferiu palavra.
Ora quando o mesmo homem um dia saiu para a caça
encontrou ele o Judeu, esperando-o, cara a cara.
Danou-se ele e berrou: "Com vida sempre você!"
"Com auxílio do Senhor!" respondeu-lhe o Judeu.
Ele fez pontaria, acertou-lhe um projétil no peito
o Judeu caiu; e caindo invocou seu Deus.
Aquela noite o homem sonhou. E que sonho foi que teve?
Ante ele estava o Judeu. Vivo, aparentemente.
Ele o fitou com agudez, e murmurou uma vez outra:
"Deus vê o que se passa, Ele é juiz como outrora".
Ele saltou para o agarrar, ele brandiu o seu punho.
O Judeu se ergueu no ar e se desmanchou entre o fumo.
Pela manhã ele escutou as suas batidas à porta.
Pela tarde ainda o viu, defronte, dando passadas.
Ele voltou nos seus sonhos. Ele até hoje ainda volta.
Ele perturba o seu sono, seus vagares, assim falam.
Que poder nele se oculta? Que segredo se veda?
Ele tem Deus nos seus lábios, na sua ascensão e sua queda.

Tradução de Zulmira Ribeiro Tavares

In Quatro Mil Anos de Poesia (Org. de J. Guinsburg)

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