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sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

“THE TIMES” ou a Montanha contra o Modernismo

 
O diário londrino “The Times” foi uma montanha difícil, dura de escalar pelos poetas das duas primeiras décadas do Século passado.
Existem, pelo menos, dois poemas de autores diferentes que ...o exprimem, cada um à sua maneira, com a sua própria poética.
Este brevíssimo trabalho radica apenas na substância desses poemas e constitui-se como um “ensaio” comparativo entre as poéticas que visavam a importância que tinha, ou parecia ter no caso de Campos, no ínicio do século passado, um jornal de referência, victoriano, como “The Times”. Este mesmo que em 1920 apoiou uma campanha anti-semita, afirmando que os judeus eram o maior perigo do mundo.
Deixamos a leitura como uma proposta deleuziana dos afectos e dos desafectos.

ÁLVARO DE CAMPOS

“The Times”

Sentou-se bêbado à mesa e escreveu um fundo
Do “Times”, claro, inclassificável, lido...,
Supondo (coitado!) que ia ter influência no mundo...
…...............................................................................
Santo Deus!... E talvez tenha tido!

(16-8-1928)

Fernando Pessoa, através do seu heterónimo mais sensacionista, subjectivo e modernista, parece nutrir algum afecto pelo jornal londrino e por um desconhecido articulista que escreveria coisas já lidas, sem novidade, sem classificação, supondo influenciar o mundo porque se tratava de um jornal de referência. Neste breve poema, claro e também inclassificável, existem sensações, perceptos e afectos – diria Deleuze. O leitor “recebe” uma imagem de um jornalista, ébrio, imagina-o a escrever sob pressão: um problema que o aflige, um desgosto, ou apenas como um truão bêbado num divertimento, e sente por ele simpatia.


EZRA POUND

Let us deride the smugness of “The Times”
so much for the gagged reviewers,
it will pay them when the worms are wriggling in their vitals
these are they who objected to newness

Vamos ridicularizar a presunção do “Times”
(…) e dos seus críticos amordaçados
(…) estes são aqueles que à novidade se opuseram.

© Versão nossa

Este poema de EP é outra coisa, é uma diatribe. Integra-se na história do Modernismo poético europeu, levado a cabo pelo poeta norte-americano. No Modernismo caberiam outros sub-movimentos, como o chamado Vorticismo, o turbilhão de imagens no poema, que a Inglaterra vitoriana, romântica, não entenderia, vítima do tradicionalismo e das suas armadilhas medievais. O próprio Pound escreveria no primeiro nº de Blast que “ o vortex é o ponto máximo da energia”.
Ora entendeu o jornal “The Times” em obstaculizar o movimento, através de críticas, pelos vistos, “fretes literários”, que o futuro autor de “Lustra” ou de “The Cantos” não deixaria passar incólume e atacaria com acutilância e laivos de humor negro. Uma vingança. Esses “críticos amordaçados” é como se estivessem mortos já e isto era a sua lápide: “os vermes a contorcer-se nos seus órgãos vitais”.
A crítica, pelo que podemos intuir no poema de Pound “ Salutation the Third”, não seria isenta, nem construtiva, provavelmente nem do âmbito literário.
O que o jornal atacava era a “Modernidade” e chamava-lhe “insana”, do outro lado do Atlântico o “The New York Times”, em Agosto de 1914, também se fez eco da mesma crítica em desfavor do Modernismo e do movimento Vorticista.
Assim, os versos de Pound publicados na efémera revista BLAST, acometiam contra ambos.


© João Tomaz Parreira

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Poema de Ezra Pound: Soiree





 
Ao saber que a mãe escrevia versos,
E que o pai escrevia versos,
E que o filho mais novo estava numa editora,
E que o amigo da segunda filha estava
a iniciar uma novela,
O jovem expatriado Americano
Exclamou:
“Ó que ramo danado de inteligências!"

© Versão de J.T.Parreira

sábado, 7 de janeiro de 2012

Ezra Pound sentado em Veneza


“Um poeta está sentado na Holanda”
Herberto Helder


Embora pese a ondulção da água
do Canal Central, o poeta procura
no silêncio do bolso ruído de moedas
um papel
atravessado por palavras, um calor
para as suas velhas mãos? À sua volta
ignoram-no os olhares. E.P.
está sentado com o rosto em pregas
em Veneza, gôndolas atravessam
as sombras dos palácios
e as casas se inclinam para o fundo
e estão fixas
no manejar das águas

J.T.Parreira

http://poetasalutor.blogspot.com/2012/01/ezra-pound-sentado-em-veneza.html

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Da "Usura", sobre o Canto XLV, de Ezra Pound

Com usura os fantasmas dos mercados

por detrás da máscara

terão casas de boa pedra

cada notação como um bloco de letras esculpido

mês a mês riscará gráficos

do coração de um país frágil

até à linha recta

Com usura o rating é a arte

do poder classificar por baixo

Piero della Francesca ou Van Gogh

como lixo

até mesmo La Calunnia de Boticelli descerá

profundamente

Com usura o pão seca, com usura

caem as montanhas como cinza

com usura, as linhas ficam tortas

mesmo sem a escrita de Deus.


5/1/2012
Inédito de J.T.Parreira


"With Usura" dito  por Ezra Pound

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Ezra Pound: E assim em Nínive



"Sim! Sou um poeta e sobre minha tumba
Donzelas hão de espalhar pétalas de rosas
E os homens, mirto, antes que a noite
Degole o dia com a espada escura.

"Vê! não me cabe a mim
Nem a ti objetar,
Pois o costume é antigo
E aqui em Nínive já observei
Mais de um cantor passar e ir habitar
O horto sombrio onde ninguém perturba
Seu sono ou canto.
E mais de um cantou suas canções
Com mais arte e mais alma do que eu;
E mais de um agora sobrepassa
Com seu laurel de flores
Minha beleza combalida pelas ondas,
Mas eu sou um poeta e sobre minha tumba
Todos os homens hão de espalhar pétalas de rosas
Antes que a noite mate a luz
Com sua espada azul.

"Não é, Raana, que eu soe mais alto
Ou mais doce que os outros. É que eu
Sou um Poeta, e bebo vida
Como os homens menores bebem vinho."

Tradução de Augusto de Campos
Do livro: Poesia/Ezra Pound; introdução e notas de Augusto de Campos, Hucitec/ Ed. Univ., 1993, SP/DF
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