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segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

O NATAL DE CRISTO, poema de Almeida Garrett

 


O NATAL DE CRISTO

 

Verbe incréé, source féconde

De justice et de liberté!

Parole qui guéris le monde.

Rayon vivant de vérité!

De Lamartine, Harm.

 

I

O César disse do alto do seu trono:

“Pereça a liberdade!

Quero contar es homens que há na Terra.

Que é minha a humanidade:”

E, cabeça a cabeça, como reses,

As gentes são contadas.

Procônsules e reis fazem resenha

Das escravas manadas.

Para mandar a seu senhor de todos

Que, um pé na Águia romana.

Com o outro oprime o mundo,

A isto chegara a vil progênie humana.


II

E era noite em Belém, cidade ilustre

Da vencida Judeia.

Que a domada cabeça já não cinge

Com a palma idumeia:

Dois aflitos o pobres peregrines

Cansados vêm chegando

Aos tristes muros, a cumprir do César

O imperioso bando...

Tarde chegaram já não há poisadas.

Que importa que eles venham

Da estirpe de Jessé, e o sangue régio

Em suas veias tenham?

Na geral servidão só uma avulta

Distinção – a riqueza;

Na corrupção geral só uma avilta

Degradação – pobreza.

Os filhos de David foram coitar-se

No presepe entre o gado,

E dos animais brutos receberam

Amparo e gasalhado.

 

III

E ali nasceu Jesus... ali a eterna,

Imensa Majestade

Apareceu no mundo, – ali começa

A nova liberdade.

Cantam-na os anjos que no Céu pregoam

Glória a Deus nas alturas,

E paz na Terra aos homens! –

Paz e glória, Promessas tão seguras

Do Céu à Terra nesta noite santa,

O que é feito de vós?

Jesus, filho de Deus, que ali vieste

Humanar-Te por nós,

Tu que mandaste os coros dos Teus anjos

Aos humildes pastores

Que dormiam na serra – ao pobre, ao poio,

Primeiro que aos senhores.

Que aos sábios e que aos reis, Te revelaste –

Oh! que é delas, Senhor,

Que é das Tuas promessas? Resgatados,

Divino Salvador.

Do antigo cativeiro não seriam

Os homens que fizeste

Livres co sopro Teu, quando os criaste,

Livres, quando nasceste.

Livres pelo Evangelho de verdade

Que em Tua Lei lhes deste.

Livres enfim, pelo Teu sangue puro

Que por eles verteste

Do alto da Cruz, no Gólgota de infâmia

Em que por nós morreste?


IV

Vê, ó filho de Deus! quase passados

Dois milênios já são

Que, esta noite, em Belém principiava

Tua longa paixão;

E o édito do César inda impera

No mundo avassalado.

Os Césares, seu trono – e quantos tronos!

Têm caído prostrados...

Embalde! – as leis iníquas, que destroem

A santa liberdade

Que nesta pia noite anunciaste

A opressa humanidade,

Essas estão em pé. Será que o pacto,

Será que o testamento

Celebrado na Cruz Tu quebrarias.

Senhor, no etéreo assento?...


V

Não, meu Deus, não: eterna é a Palavra,

Eterno é o Verbo Teu

Que, antes do ser dos séculos, nos deste,

Que o mundo recebeu

Nesta noite solene e sacrossanta.

Nós, nós é que o quebramos.

Nós, sim, o novo pacto e juramento

Sacrílegos violamos;

Esaús de Evangelho, nós vendemos,

Com torpe necedade,

Por apetites sórdidos, a herança

Da glória e liberdade,

Por isso os reis da Terra inda nos contam

Escravos, às manadas;

Por isso, em vão, do jugo sacudimos

As cervizes chagadas.

Porque não temos fé, não temos crença,

E a Cruz abandonamos.

Donde somente está, só vem, só fulge

A luz que procuramos.

E os vãos sabedores, esses magos

Que a vaidade cegou.

Não olham para o céu, não vêem a estrela

Que hoje era Belém raiou.


184....


Do livro Flores Sem Fruto (org. de Iba Mendes).


sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

NUIT DE NOËL (Sobre Paul Gauguin, 1902)







Onde a casa tosca se escondia e o feno
Estava sempre quente, não foi aí que Gauguin
Viu o natal. A cena da natividade dos antigos
Mestres conhecia, todos pintavam a manjedoura
Como uma cena celeste, ele revelou
Os animais com a reverência alegre no olhar
Pastoras com olhos polinésios e a neve
Como a lã a cobrir o inverno da Bretanha
Maria e José à porta do abrigo
Com a linguagem extasiada do silêncio
Mostravam o Menino, numa boa-nova tropical.


22/12/2017

© João Tomaz Parreira 

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

NATAL

não é quando um homem quiser
o Natal, nem quando qualquer outro homem fizer
quantas estrelas inquietas
seriam necessárias para reconduzir
magos e poetas ao mistério do Conselheiro
na dimensão de pequenas mãos
quantos concertos de anjos
e acordes de flautas de pastores
para acompanharem
os vagidos frágeis de Deus na faringe
de um Menino, Natal

foi quando Deus quis e sonhou
que o Príncipe da Paz fosse menor
do que um rei
foi quando Deus quis que passou
pelo sonho de profetas
um Menino
o Maravilhoso coberto de panos
de linho de rejeição

que um Menino, num sopro único, nasceu
como todos os meninos, que são
o despojo da dor das suas mães

foi quando Deus encheu o tempo
foi então que a palpitação das galáxias
descansou à espreita desse momento
que é o princípio de tudo em flor

Rui Miguel Duarte
23/12/2014

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

No Máximo, Seis Versos - Poemas Breves, Bíblicos & Outros, novo e-book de J.T.Parreira

De todas as chamadas nove artes, é na Poesia que mais justificadamente se pode asseverar que menos é mais. A concisão, a precisão do corte e do entalhe, só fazem amplificar o poder comunicante do texto, só podem elevá-lo.

       Nos versos aqui coligidos, versos irmanados pela brevidade, João Tomaz Parreira dá vazão ao seu caudal de metáforas condensadas, à tessitura precisa, que em seu rigor vezes lembra o Hermetismo italiano no que ele tinha de melhor, a explosão/maximização das cargas expressivas do poema ao nível microscópico. E em tal labor engendra a quase perfeição poética, como neste fulgurante A Tentação, onde o Cristo jejuante é tentado no deserto pelo Adversário, que lhe oferece as nações da terra:

Na ponta do precipício, no gume
do ar,  nos seus olhos Ele guardou
antes o azul do que os reinos
ao fundo do mundo.

       E assim sucedem-se, ao longo de todo este breve volume, as pequenas cápsulas de alumbramento, lances minimalistas de poesia não apenas cristã mas variada em sua temática, em suas cores, porém fulcralmente uma poesia imantada, que aponta de maneira indelével para o norte, para o Cordeiro.

       A boa poesia é como a alta culinária, onde a pequena porção concentra uma profusão de surpreendentes sabores, um buquê de amoráveis aromas que podem fascinar até no prato (e tema) mais prosaico. É assim a poesia de JTP: culinária d’alma, capaz de envolver, satisfazer e elevar os paladares mais exigentes e experimentados.

A todos os leitores, bon appetit!

Sammis Reachers, editor

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quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

CHEGOU O MENINO



Veio de longe, chegou o Menino que veio de longe
do ventre da mulher. Chegou um homem
que pelo frio do estábulo gemeu
as sílabas profundas de um vagido.

Chegou um menino

que deslocou o centro do céu para o mundo

Chegou de longe Deus, a carne nua

com um coração humano, igual ao meu
igual nas artérias e nas veias a qualquer judeu
e com deltas
onde o sangue desagua.


 18/12/2013
 
© J.T.Parreira

(Imagem do Facebook - Desert-rose)

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

OS QUE VIRÃO NOS CAMELOS



“Os que virão nos camelos”
Jorge de Lima


 


Os que vêm nos camelos
navegam na luz branda do luar
têm visões no deserto
quando o sol derrama no horizonte
as águas ilusórias

também bebem
dos espelhos da água mais profunda
vêm de vales estuantes
os que virão nos camelos
quando a viagem terminar os seus vestidos
serão trapos do tempo, não importa
pois trazem presentes
e seguem a estrela indispensável
e vão em busca da glória
do Menino.

© J.T.Parreira

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

OS PASTORES DE BELÉM


“…Vamos beijar os pés nus
do que semeia nos céus …
Gomes Leal, “Os Pastores”

traziam cajados e liras afiadas
nos fins de tarde
conheciam a música as rugas do campo
conheciam como o sol e as estrelas
se sucediam nas horas
e faziam sombra nos cajados
esta era a música que dedilhavam:
o som branco
tinindo na lã

na voz dos anjos uma canção nova,
um salmo ao que semeia nos céus
e cujos pés nus
acabaram de ser
colhidos da terra

Rui Miguel Duarte
27/12/12
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