São
dezessete horas de um domingo de primavera. Cumprindo uma missão agora há pouco
na UERJ do Maracanã, aquele monstro de concreto, ao sair me deparei com os
vazios e desertos de uma cidade grande aos domingos de tarde. Foi instantâneo:
me recordei de quando era rodoviário e solteiro e, ao trabalhar nos domingos,
por vezes ao largar daquele trampo feito de sacolejar e de pessoas, saía
sozinho pelos vazios urbanos de Niterói ou Rio, desarvorada, desavisada e
destemidamente. Sem destino ou maiores objetivos. Que solidão especial, trotando
lotada de melancolia e levando na carroça sua refém apaixonada-pois-adoentada
da Síndrome de Estocolmo, a poesia... Sim, muitos poemas nasceram nessas
andanças. Não, nunca fui assaltado ou indagado. Deus e minha cara de cana (e
minha decana bolsa atravessada nas costas) talvez tenham me guardado.
Outro
detalhe que me traz reflexão é que a melancolia de andar numa mata, campo ou
descampado deserto é diferente da de andar num deserto urbano. Cada qual tem
sua docilidade, mas o campo fala de sentimentos atávicos, instintivos ou
transcendentes do que é puramente humano; já a urbe possui uma "linha de
ansiedade" (é o melhor termo que pude) toda própria, o humano se celebra e
exaure em seus próprios maquinários concretos e simbólicos, num jogo de
topofilia/topofobia que nos faz querer continuar o jogo do ver e do rever, do
estar e do deixar de estar, enquanto somos acolhidos/moídos pelo espaço que
incessantemente nos ressignifica enquanto o ressignificamos. Jogo por sinal tão
caro à corrente da Geografia que me apraz, a Geografia Humanista ou
Fenomenológica.
Divagações
livres, mas as deambulações (deambular é justamente andar à toa) hoje
interditadas a um homem casado.
Bem,
melhor assim.
Sammis Reachers
24/11/24
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