primum uiuere deinde philosophari
primeiro vivamos depois filosofemos
primeiro sejamos devedores do recobro
das árvores depois da mutação da tormenta
primeiro escondamos a vergonha
antes
de entrarmos nos salões de sermos mestres
que
cospem a esmola e a pisam
primeiramente
sentemo-nos no degrau que ocupa Lázaro
primeiro
aprendamos o tremor
que
há um calafrio que é volátil
e
tem rosto de Medusa que os seus cabelos
mordem
e o seu olhar cria em nós estátuas
primeiro
aprendamos que há uma espada
que
ceifa a raiz e o eco do medo
primeiro
bebamos o vinho
na
estação e fora da estação
conheçamos
que todas as cores têm
matizes
notas no âmago da candura
primeiro
agarremos o sonho
passeemos
nele todo por dentro
enquanto
o vento o traz e o leva
primeiro filosofemos depois poetemos
com a boca do abismo à beira dos olhos
é aí que descobrimos
que há asas à beira de nós
pés seguros nas mãos rijas dos anjos
contudo são a terra que nos dá
as flores para o nosso contentamento
primeiro amemos depois vivamos
Rui Miguel Duarte
18/01/2015
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