quarta-feira, 21 de março de 2012

Fraternidade




Amigo, quando você voltar para o Ceilão, sabe,
aquela namoradinha que você falou em encontrar
Veja lá
Se ela não tem uma irmãzinha pra mim
Pra quando eu sair
Fala pra ela desse teu amigo hondurenho


Se você fizer aquele lance, aquela doideira, sabe
De alistar-se na Legião Estrangeira
Acho isso tão legal e tô contigo meu irmão, mas
Você disse que eles só aceitam soldados profissionais agora
Pois eu tenho um amigo no Quênia, ele falsifica documentos
E eu sei atirar muito bem, já matei um homem em Johannesburgo
Quando sair vou para lá contigo


Mas se você conseguir entrar na Espanha, o Gino falou
Que as coisas lá não tão boas, que o lance agora é Coréia,
América do Sul, Brasil
(pra Honduras não posso voltar)
Mas aqueles seus conhecidos russos, sabe,
Eu posso transportar coisas pra eles, tenho passaporte já
Fale com eles de seu amigo, seu irmão da cadeia


A carta que eu te pedi, não vá esquecer, eu sei, eu sei,
Mas não custa lembrar
É prum amigo, sabe
Eles estão todos casados, só eu
É que não tenho ninguém, fui me meter em treta,
Tu sabe que nunca confiei em mulher, ou confiei demais, mas cansei
Eles se afastaram, mas esse era amigo mesmo, do peito
Ele tem umas casinhas, acho que posso morar de favor
Até as coisas se ajeitarem


Tu vai fazer falta aqui no recreio, isso aqui é uma grande bosta, sabe
Mas fazem-se amigos aqui
Alianças como não vi lá fora
Como nunca vi lá fora, sabe
Quando sair vou ter contigo


Sammis Reachers

2 comentários:

  1. Muito interessante este fio coloquial de discurso poético, uma conversa de um preso para um amigo em liberdade. Direi que enquadro o poema num certo Dirty Realism doseado.
    Gostei.

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  2. Muito me honra sua apreciação, meu amigo. Esse foi daqueles poemas que surgem num instante, já completos, sem tempo para burilar. Um insight enquanto eu lavava minhas roupas...

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