domingo, 26 de agosto de 2012

Dois poemas de Francisco Carlos Machado


  
 IV
  
Madrugada...
Uma voz súbita vinda de outro quarto,
me aconselha:
- Vai dormir rapaz,
isso não tem futuro.
Calo-me. O que hei de fazer?
Não me existe sono
e a poesia se revela a mim.



Um Pinheiro

Cresce dentro de mim
um pinheiro:
calmo, incógnito, fugaz.
Encovado entre artérias,
suas raízes espalham-se
em cada veia do meu corpo.
Alimentando-se da seiva criada
e formada no sistema de emoções. 
Fixando assim, uma existência profunda,
no lirismo mortal e sensível da minha alma.
                         
Esse pinheiro, rusticamente me ocupa,
declarando que não mais a mim pertenço.
Que seu tronco e galhos, suas folhas pontiagudas,
formará milenar paisagem natalícia 
na geografia vital das experiências da existência.
Renegando ou não a força simples e poderosa
que o faz crescer altívolo dentro de mim.

Verasmente milenar?
Tornar-se-á milenar esse pinheiro em mim?
Suportaria o mistério das ventanias vindas constantes,
ameaçando sua ascensão e vitalidade?
As mudanças súbitas e excêntricas
de humores circundantes nas artérias?
E as diferenças latentes, agitações perturbadoras
dos ofícios diurnais e silenciosos das noites?

Um pinheiro, em um dia vitalício
foi encovado dentro de mim.
Não em um canto, mas no meu coração.
Para contar histórias, derramar lágrimas apreensivas,
saudosistas e melancólicas.  
Produzindo pinhos de poesia, felicidades e renúncias. 
Pregando profundo que nunca se vive sozinho.

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