sábado, 11 de agosto de 2012

A Náusea


A Náusea

1942

Num espelho encardido afixado
Numa moldura Luís XIV
Vislumbro em seco recorte
o meu vazio e o vazio
De meu quarto, encardidos

Este charuto, este rosto cansado e míope
É então Jean-Paul Sartre?

Uma semana sem Simone, sem
Notícias, sem concluir uma página sequer
Sorvendo a maresia nauseante
De todo o absurdo, este, o Todo
Absorto em resistir, em construir
Um sentido dentro de uma Europa-
                                                       um-
                                                             quarto-
                                                                         frio

A Guerra freme mas me talha esta sensação
De que o tempo, inábil, esculpe os homens em tédio
Tentando forçar uma neutralidade artificial
Que não existe, não pode existir

Estamos aqui, um triálogo
Entre o Absurdo e o Ego e a Morte,
A Morte monologal


Hoje
ao descer para buscar a correspondência
Vi a filhinha do casal ao lado, os marroquinos
As crianças não costumam sorrir-me,
Mas havia,
Um sorriso constante-teimoso sempre no rosto dela,
Sempre
Como algo vermelho rompendo uma muralha

Por um instante, naquele momento-bouquet
eu vi cores caudalosas lampejarem
Nesta semana cinzenta.

Sammis Reachers
do livro Poemas da Guerra de Inverno

2 comentários:

  1. Muito boa a escolha do poema. É muito difícil encontrar bons blogs de poesia.

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  2. Obrigado pela apreciação, amigo. O livro onde se encontra o poema está disponível para download.

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