A porta
Abram-nos, então, a porta e veremos os pomares,
Nós beberemos sua água fria onde a lua deixou
seu rastro.
O longo caminho queima, inimigo dos
estrangeiros.
Nós andamos a esmo sem saber e não encontramos
lugar algum.
Queremos ver as flores. Aqui a sede se abate sobre nós.
Aguardando e sofrendo, eis que nos encontramos diante da porta.
Se for preciso, quebraremos essa porta com
nossos golpes.
Pressionamos e empurramos, mas a barreira é
forte demais.
É preciso definhar, aguardar e olhar de maneira
vã.
Olhamos a porta; ela está fechada, inabalável.
Fixamos nela nosso olhar; choramos sob a
tormenta;
Continuamos a vê-la; o peso do tempo nos faz
esmorecer.
A porta está diante de nós; de que nos serve
querer?
É melhor partirmos, abandonando a esperança.
Jamais entraremos. Estamos cansados de vê-la...
A porta, ao abrir-se, deixou passar tanto
silêncio.
Que nem os pomares apareceram, nem flor alguma;
Apenas o espaço imenso onde estão o vazio e a
luz
Tornou-se repentinamente presente, de lado a
lado, enchendo o coração,
E lavou os olhos quase cegos sob a poeira.
Do livro Pensamentos desordenados sobre o amor de Deus (Vozes, 2020).
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