Dia
desses me ocorreu uma palavra inusitada. A língua tem disso, vai parindo
palavras para abarcar o novo ou o antigo que precisava ser dito, ou dito
melhor, ou dito em menos espaço. Pois o sonho de toda expressão é resumir-se em
uma palavra, feito um alfabeto que “cresce” até virar ideograma. É de sua
espécie, feito cobra trocando couro.
No
caso que trazemos em questão, seria uma palavra para contrapor a melancolia.
Afinal, que palavra contrapõe melancolia, a prostração melancólica, em nossa
língua? Euforia? Não, deixe a euforia lá, descabelada e se divertindo com as
amigas. A melancolia é mais profunda e resiliente, precisa de uma contraparte a
seu molde. E eis olimpolia. Sim, de Olimpo, aquele monte grego, suposta morada
de deuses ruins (humanos demais). Mas o sentido de solaridade que o termo
Olimpo, olimpiano, e suas variantes derivativas como olímpico trazem, é
incontornável. Assim, olimpolia seria aquele sentimento de positividade não-piegas,
não tóxica (recentemente descobrimos: há toxidade na bobice demasiada, na
bondade mimoseada em paramentos de vulnerabilidade). Olimpolia não é alegria,
que é até mais pura, atávica, mas acabrunhada de fragilidades. É uma virtude a
ser mantida conscientemente, sustentada, um ethos exercitável.
Sejamos
cristalinos: Olimpolia é um otimismo despido das frescuras (opa, um termo quase
proscrito por aí).
Um
estoicismo que sorri. Sim, pois menos resignado, um ponto menos grave.
Uma
euforia disfórica.
Nietzsche,
louco ou antes de enlouquecer, falava de vontade de potência. Olimpolia
seria exercício de potência, e sua contrita, mas firme celebração.
A
skatista que perde o ouro, mas sorri feliz, exulta até (exulta:
exatamente aqui está a olimpolia), com o acerto da adversária/colega.
Jovem, mas senhora de si, do que é maior, plena das/nas coisas mais
importantes. Derrotada, mas senhora de uma outra vitória, difundida na
amplitude.
Como
poeta, acreditei sempre que há palavras escondidas dentro da luz: Olimpolia é
uma das que precisamos. Seja bem-vinda.
Sammis Reachers
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