terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Réquiem Inaugural



Réquiem Inaugural

Num beco em Vitória, Espírito Santo, surpreendido sem armas,
longe da Literatura e de Borges, morreu hoje, neste dia
um de 2013, Marcelo ‘Jamanta’.
Ex matador de aluguel, depois justiceiro, e garimpeiro,
ourives, cigano, bibliófilo e fino falsário de passaportes.
Na revolta dos Ianomâmis em 89 fez a opção pelos cães,
tomou o partido dos índios e matou seis pistoleiros
que estavam a mando da grilagem de terras.
Em Brasiléia, em 98, tomou o Daime, e teve alucinações com
o Aleph borgiano e um pretenso olho paridor do Universo,
sito 300 metros acima da foz do Orenoco,
estranha singularidade que não podia ser vista ou tocada,
mas ao entrar-se em seu campo de ação passava-se a
sê-la, a ser com ela, a ser-se todas as coisas e coisas mais
que ele não sabia explicar nem eu sabia entender,
história que sempre me fascinava.
Morreu sem conhecer a Istambul de séculos sobrepostos,
morreu sem roçar a realidade de sua namorada virtual,
riograndense a quem prometera tantos beijos, quando pudesse vencer
a tanta distância que os separava.
Morreu sem ter morrido onde sonhara morrer:
ao norte frio do orbe, numa floresta de faias.

Este é um Réquiem para um amigo, e me parece algo
de estético empregar o efeito dito eco:

morreu sem ter morrido numa floresta de faias
morreu sem ter morrido numa floresta de faias
morreu sem ter morrido numa floresta de faias
Marcelo Jamanta, num beco escuro de Vitória,
Espírito Santo,
três tiros no peito.

Sammis Reachers (texto e imagem)

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