(...) As situações de contato cultural abrem assim a via aos questionamentos. Fazendo descobrir outros códigos e outros sistemas de regras, convidam ao questionamento das bases do universo no qual se vive. Em face ao perigo de uma eventual subversão, a reação pode ser, ao inverso, a de se fechar no seu próprio sistema e condenar aqueles com os quais está se confrontando — é a lógica dos fundamentalismos.
Nas sociedades onde a cultura é bastante diversa e aberta para que apareçam os grupos especializados na manipulação de seus aspectos abstratos, filosóficos, científicos, religiosos ou artísticos, o desenraizamento faz freqüentemente parte das técnicas de base da formação dos indivíduos: desde a Renascença, as elites europeias foram iniciadas, ao mesmo tempo, na sociedade de seu tempo, e na língua e na cultura da Grécia e da Roma antigas. A frequentação da Bíblia oferecia um terceiro pólo de distanciamento. A plasticidade da cultura ocidental, sua capacidade de mudar de códigos, de regras ou de normas sem perder sua unidade e sua inspiração profundas deve-se, sem dúvida, a este fato.
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