quarta-feira, 9 de abril de 2014

MANHÃ DE DEUS, poema de J.G. de Araujo Jorge


 MANHÃ DE DEUS

(Passeio pelas matas Friburguenses)

Por estas densas matas, povoadas
de silêncios e sombras, de mistérios,
de águas livres e puras, sussurrantes,
ainda há um ar de Criação... de Paraíso.

Por estes chãos sem trilhas, entre réstias
de sol pintando em luz a tela úmida,
entre águas, tinhorões, pedras e líquens
as pegadas de Deus ainda estão frescas.

Deus passou por aqui, talvez há pouco:
sua sombra ainda envolve estes silêncios,
sua luz, põe vitrais pelas folhagens,
sua voz ainda escorre nestas águas.

Sua presença se percebe ainda
nesse ar inicial, solene e intenso,
nesse ar de antemanhã, quase alvorada,
antes da vida despertar, da luz.

Sua presença se percebe ainda
Em rumores difusos, em sussurros,
que dão palpitação à terra e à mata
antes dos cantos, do rufar das asas.

As pegadas de Deus ainda estão frescas
seu hálito ainda embaça a terra e o espaço,
e para os animais e as águas livres
o homem, parece, ainda não foi criado.

  (  J. G.  de Araujo Jorge   in
    "Canto à Friburgo"   - 1961 )

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