A esperteza do leão solitário
Um leão foi aprisionado e
levado a um campo de concentração, onde, para seu espanto, encontrou outros
leões que lá estavam havia anos, alguns a vida toda, uma vez que ali tinham
nascido.
Logo ficou conhecendo as
atividades dos leões do campo de concentração. Eles dividiam-se em grupos. Um
grupo era formado pelos socializadores; outro montava espetáculos; um terceiro
cuidava das atividades culturais, pois seu propósito era preservar os costumes,
a tradição e a história dos tempos em que os leões eram livres. Havia grupos
religiosos, que se reuniam principalmente para entoar hinos sobre uma selva do
futuro, na qual não haveria grades. Alguns grupos atraíam os literários e os
artísticos por natureza; outros, ainda, eram revolucionários, reuniam-se para
conspirar contra seus captores ou contra outros grupos revolucionários. De vez
em quando, estourava uma revolução, um grupo era exterminado por outro, ou os
guardas eram todos assassinados e substituídos por novos guardas.
Enquanto procurava
conhecer o lugar, o recém-chegado notou um leão que parecia sempre imerso em
seus pensamentos, um solitário que não pertencia a nenhum grupo e passava a
maior parte do tempo afastado de todos.
Havia algo estranho nele
que atraía, ao mesmo tempo, a admiração e a hostilidade de todos. Sua presença
provocava medo e insegurança. Disse ele ao recém-chegado:
– Não se junte a nenhum
grupo. Esses pobres tolos ocupam-se de tudo, exceto daquilo que é essencial.
– E o que é essencial? –
perguntou o recém-chegado.
– Estudar a natureza da
cerca.
CASTILHO, Alzira. Como
Atirar Vacas no Precipício. São Paulo: Z Edições, 2022.

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