sábado, 22 de novembro de 2025

Queime-se pelo que é essencial: A parábola do leão solitário

 


A esperteza do leão solitário

Um leão foi aprisionado e levado a um campo de concentração, onde, para seu espanto, encontrou outros leões que lá estavam havia anos, alguns a vida toda, uma vez que ali tinham nascido.

Logo ficou conhecendo as atividades dos leões do campo de concentração. Eles dividiam-se em grupos. Um grupo era formado pelos socializadores; outro montava espetáculos; um terceiro cuidava das atividades culturais, pois seu propósito era preservar os costumes, a tradição e a história dos tempos em que os leões eram livres. Havia grupos religiosos, que se reuniam principalmente para entoar hinos sobre uma selva do futuro, na qual não haveria grades. Alguns grupos atraíam os literários e os artísticos por natureza; outros, ainda, eram revolucionários, reuniam-se para conspirar contra seus captores ou contra outros grupos revolucionários. De vez em quando, estourava uma revolução, um grupo era exterminado por outro, ou os guardas eram todos assassinados e substituídos por novos guardas.

Enquanto procurava conhecer o lugar, o recém-chegado notou um leão que parecia sempre imerso em seus pensamentos, um solitário que não pertencia a nenhum grupo e passava a maior parte do tempo afastado de todos.

Havia algo estranho nele que atraía, ao mesmo tempo, a admiração e a hostilidade de todos. Sua presença provocava medo e insegurança. Disse ele ao recém-chegado:

– Não se junte a nenhum grupo. Esses pobres tolos ocupam-se de tudo, exceto daquilo que é essencial.

– E o que é essencial? – perguntou o recém-chegado.

– Estudar a natureza da cerca.


CASTILHO, Alzira. Como Atirar Vacas no Precipício. São Paulo: Z Edições, 2022.


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