segunda-feira, 3 de agosto de 2020

O NÃO NASCIDO, poema de G. K. Chesterton


O NÃO NASCIDO
Se as árvores fossem altas e a relva curta
Como num conto louco
Se aqui e além um mar fosse azul
Quebrando uma monótona palidez                                       

Se um fogo fixo pairasse no ar
Para me aquecer ao longo de todo o dia
Se um cabelo farto e verde crescesse em grandes colinas
Eu saberia o que fazer

Encontro-me na escuridão; sonhando que existem
Grandes olhos frios ou bondosos
E ruas sinuosas e portas mudas
E homens vivos para além (delas)

Que venham as nuvens da tempestade: é melhor uma hora,
E que se vão para chorar e lutar,
Do que todas as eras em que reino
Nos impérios da noite.

Penso que se me dessem licença
Para neste mundo aparecer
Eu seria bom ao longo de todo o dia
Em que eu estivesse neste mundo encantado

Não ouviriam de mim uma palavra
De egoísmo ou de escárnio
Se eu ao menos pudesse encontrar a porta,
Se eu ao menos tivesse nascido. 
Tradução  António Campos e Anália Carmo

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