quarta-feira, 15 de novembro de 2017

O Canário Preso, poema de Zenas de Resende Vieira


O CANÁRIO PRESO

Às aves Deus dá o céu, a imensidade,
As verdes florestas, os campos sem fim,
 Os espaços, onde voam à vontade,
As relvas virentes do imenso jardim.
Mas, vil homem mau, egoísta, perverso,
Vendo a liberdade do pobre cantor,
Reduz à gaiola o seu grande universo
E dele se toma veraz opressor.

Assim é, canário, que preso caíste
Na infame gaiola, em que hás de viver!
Ficou solitária a parceira e mui triste,
Cantando outro canto de tédio e gemer.
Não pode esquecer-te, mas canta baixinho,
Lembrando os bons tempos que livres nos ares,
Ao sopro das brisas, contentes no ninho,
Vivíeis juntinhos, sem dor, nem pesares.

Agora cativo, qual vil degradado,
Sem mais esperança de libertação,
Tu arcas sofrido, co'a dor do teu fado,
Sem mais distrações pelo vasto sertão.
Teu vil prendedor, sim, ficou mui contente,
Com o teu murmúrio, ao longo das horas,
Cantando e chorando o teu hino dolente,
As mágoas do peito no canto que choras!

 Zenas de Resende Vieira

Do livro Grão de areia nas praias do mar (Edições Cristãs Editora).

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...