sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Trem de Tropas, poema de Karl Shapiro


Trem de Tropas

Tradução de Sammis Reachers e Jorge Pinheiro

À nossa passagem a cidade se detém. Os trabalhadores
Levantam seus braços untados e nos saúdam e sorriem.
As crianças gritam como no circo. Os homens de negócios
Observam-nos esperançosos e prosseguem seu caminho medido.
E há mulheres de pé na porta estupefata de suas casas
Que se movem mais suavemente e parecem pedir nosso regresso,
como se uma lágrima que cegara o curso da guerra
Pudesse dissolver de uma vez nosso aço em seu doce desejo.

Fruto do mundo, ai, todos agrupados
pendurados como de uma cornucópia
em total camaradagem, com as caras amontoadas
Para pulverizar a cidade com assobios e olhares lascivos.
Uma garrafa se rompe nos postes
e uns olhos se fixam na rosa sorridente de uma dama,
Esticados como um elástico e estalam e beliscam
a boca desejosa do sabor de um beijo.

E através de horríveis continentes e dias,
nos arrastamos decididos, sujos e ligeiramente bêbados,
os bons maus rapazes de circunstância e azar,
cujos capacetes como cubos golpeiam a parede nua
de onde se retorcem os cadáveres de nossas mochilas
ao lado dos fuzis que só se parecem consigo mesmos.
E a distância se encolhe como um cinto apertado aperta o ombro e o mantém firme.

Eis um baralho de cartas; você que reparte,
dá-me sorte, um par de touros,
a sorte do novato, o valete zarolho
Ouros e copas são vermelhos, mas as espadas são negras e espadas são espadas e paus são trevos-negros
Mas saque-me trunfos, recordações de paz. Isso exige razão e aritmética,
a sorte também viaja e nem todos regressam

Os trens levam aos barcos e os barcos à morte ou aos trens, e os trens à morte ou aos caminhões, e os caminhões à morte, ou os caminhões conduzem à marcha, a marcha à morte ou a sobrevivência que é nossa única esperança;
e a morte nos devolve aos caminhões e aos trens e aos barcos, porém a vida leva à marcha, oh bandeira!, finalmente
o lugar da vida encontrado depois dos trens e da morte -

Brilhante anoitecer das nações depois da guerra.

Do livro SEGUNDA GUERRA MUNDIAL: Uma Antologia Poética (Organização e edição de Sammis Reachers, 2014).

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