O Editor de Poesia
Sou um antologista
lido com volumes dantescos,
homéricos, catastróficos
de poesia
marranos cabalistas de um
Século de Ouro,
americanos movidos a LSD e
mescalina
franceses efeminados
sulamericanos
com ranço de Champs-Élysées
ou com
versariamentos crioulos de Marx
Sim, sou um editor e antologista,
lido
com volumes dantescos
homéricos catastróficos
de VIDA,
marroquina espartana
turcomena cigana mujahedin
explodindo cafés em Berlim
tanques em Pequim
ou silêncios na Revolução
dos Cravos
e deixando estrategicamente
poemas nos bolsos dos cadáveres
como os war poets ingleses
que serão publicados numa
revista qualquer alemã
e que com exclusividade
deitarei ao vernáculo,
ao cotejar com as versões
em castelhano de Tradutor A e Tradutor B
sou um acumulado de livros,
um Índice de enciclopédia ou de camaradas,
uma biblioteca que
esquece-se na semana seguinte
amigo de dores de Camões e
Tasso
de culpa herdada de
Bachmann e Celan,
um acumulado de suicídios
impresso
em tamanho A5 papel pólen
capa 4xcores laminada
sem orelhas como um Van
Gogh num espelho
Lá venho eu pela
estação Cinelândia, sapatos de dândi, chapeleta gauche
roupas de um outsider - só um homenzinho com uma
bolsa enorme de papéis e víveres,
bananas e pão
cristão protestante um
provisório (hiper)hebreu
Tzara triste (des)amparado
em livros
ruminando sobre como
desferir uma cantada Moraesiana-Eluardiana
nas solipsas atendentes da
Biblioteca Nacional
Quanto a esses poetas, amigos
invisíveis de uma criança solitária,
como um Kohélet, um
Salomão que quer manter a paz em seu harém,
amo a grosso modo a todos eles, sem
acepção
os que estão ao meu lado,
co-
navegantes do mesmo zeitgeist
ou os que estão nas
estantes de baixo, ou nas-
cendo nas de cima
Como o estivador de uma
Ode Triunfal ou um contrabandista francês
mercando armas numa guerra africana, trans-
porto-os, e se abraço-os
assim tão forte,
num enlaçar que é como um sorver a minha vida,
é para
continuá-los em celulose,
em bits,
em vocês.
Sammis Reachers
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