VELAS PARA O ADVENTO
I - ESPERANÇA
Minha revolução é a minha espera.
Não a de um amanhã, mas de uma hora
Eterna, é a espera de quem quer a
Vinda do Reino para aqui e agora,
Espera que é trazer a nova era,
Ficar que é também ir, mas não embora,
Trazer pra cá, sem pressa, o que coopera
Pr’aquilo que virá e não demora.
Eu sei que a minha espera não é vã,
Pois não é preguiçosa, nem passiva,
É construção urgente do amanhã;
Espera que, operando a espera em mim,
Fabrica a expectativa ativa e viva
Que é obra pra um lugar e hora sem fim.
II -PAZ
Caiu, caiu a Grande Babilônia,
Embora ainda existam tantas torres,
Tantos jardins suspensos sobre horrores,
Embora ainda sejamos sua colônia.
Caiu, caiu a Grande Babilônia,
Embora os seus Nabucodonozores
Ainda tenham seus adoradores,
Caiu, caiu a Grande Babilônia!
Embora a estátua esteja ainda de pé
E pareça mais alta do que é,
Vejam! Vejam! A estátua está do avesso!
Não se deixe enganar por suas vitrinas,
A sua glória é feita de ruínas,
Não tem valor, embora tenha preço.
III - ALEGRIA
Se Deus é tanto mais glorificado
Quanto mais estou nEle satisfeito,
Recebe essa alegria no meu peito,
SENHOR, esse sorriso escancarado.
Essa alegria que Tu tens me dado,
Da qual és o objeto e o sujeito,
É por causa daquilo que tens feito,
Por quem Tu és que tenho me alegrado.
És meu Pastor, de nada tenho falta,
Pois me deste a Ti mesmo de presente,
Em quem minh’alma exulta e a quem exalta.
Por isso é que carrego no meu rosto
Um Aleluia para cada dente,
E um Glória a Deus em meu sorriso exposto.
IV - AMOR O Amor é uma palavra tão bonita... Mas quem pode dizer o que ela diz? Palavra que, calada, ainda grita, E mesmo quando dói, nos faz feliz. Bendita palavra, quando bem dita, O Amor que nos conduz quando condiz, Palavra que não pode ser transcrita Sem transformar quem lê-la vis-à-vis. E como traduzi-la sem traí-la? Sentir o seu sentido, que ecoa No que ela enunciou, anunciou? Somente o Verbo pode traduzi-la: O Amor se conjugou em uma Pessoa, O Amor é uma Palavra que encarnou. *******
Essa é uma série de poemas devocionais, é preciso dizer de partida. É uma série sobre e para o Advento. Ele é sua estrutura: seu tema e sua meta.
O Advento é o período (ou estação) que inicia o calendário litúrgico cristão tradicional, antecedendo imediatamente o Natal, sendo uma espécie de preparação para o Natal .
Compreendendo quatro domingos, o Advento começa no quarto domingo antes do Natal, o que varia entre 27 de novembro e 3 de dezembro, dependendo do ano, e termina na véspera de Natal.
(Nota: Se você está lendo isso nesse ano de 2025 em que escrevo, o Advento começa em 30 de novembro.)
Seu nome vem do latim, adventus, “advento, vinda”, e se refere aos Dois Adventos de Cristo: o primeiro, quando veio como Filho de Maria, nascendo em Belém; o segundo, quando virá sobre as nuvens do céu no Dia do SENHOR.
Ou, mais propriamente, Três Adventos, como explica Tish Harrison Warren em seu livro sobre o Advento:
“Nós, Cristãos, acreditamos, no entanto, não apenas em uma vinda de Cristo, mas em três: a vinda de Cristo na encarnação (os teólogos têm chamado isso de adventus redemptionis , a vinda da redenção), a vinda de Cristo no que a Escritura chama de “os últimos dias”, (o adventus glorificamus, a vinda em glória), e a vinda de Cristo em nosso presente momento, através da obra do Espírito Santo e através da Palavra e do sacramento (o adventus sanctificationis, a vinda das coisas santos ou da santidade). O Advento celebra e mantém unidas todas as três “vindas” de Cristo.”
O Advento é, portanto, um tempo de espera: na graça do Advento presente, lembramos do Advento passado mantendo os olhos no Advento futuro. Meditamos na espera dos antigos para aprendermos a esperar com eles e como eles. Isso dá um novo sentido para o tempo - e esse novo sentido do tempo é inegavelmente poético.
Muitos recursos têm sido utilizados pelos cristãos durante esse período: velas, calendários, lecionários, canções... Eu mesmo tenho me utilizado de alguns devocionais nos últimos anos, como o do John Piper, o da Christianity Today (traduzido para o português todo ano) e o do Advent Project, da Biola University .
Essa série de poemas é pensada como mais um desses recursos.
Cada um dos poemas se relaciona com uma das Quatro Velas da Coroa do Advento, que indicam os quatro temas do Advento: Esperança, Paz, Alegria e Amor. Para quem quiser se aprofundar nesses temas, recomendo essa série de vídeos aqui.
Os poemas têm autonomia estética e falam por si sós, por todo o ano. São poemas, obra artística, estética. A piedade não foi uma desculpa para afrouxar a mão. Pelo contrário: o Mistério do Advento concentra tanto sentido e tanta beleza que desafia aquele que escreve sobre a estação a elevar seus versos à altura do que escreve. Minha expectativa e oração é que cada leitor e leitora encontre em cada poema exatamente isso: beleza e sentido.
Meu convite específico, contudo, é que o leitor e a leitora viva esse período de forma diferente, poeticamente, se permitindo, a cada domingo-poema, ver a beleza e o sentido dessa estação – contra toda a confusão e ansiedade que o comércio, o materialismo e a religiosidade nominal e legalista infundem em nossos dezembros.
Um outro dezembro, com um outro calendário: mais antigo e com mais novidades, mais bonito e mais significativo, com mais valor, embora custe menos – esse é o meu convite.
Bom Advento, Bom Natal. Boa leitura
Luiz Renato de Oliveira Périco vive em São Paulo/SP. Tem poemas publicados em antologias e em revistas literárias. Em livro, publicou Forma Amorfa (1ª edição: Viv Editora, 2021; 3ª edição: do autor, 2024), e kairós (Patuá, 2023).
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