Eugene Kaspersky, pai do antivírus homônimo e tido ou havido
como especialista maior do mundo das seguranças e salvaguardas do universo
virtual, asseverou que o vírus partiu de uma cidadezinha chinesa, isolada em pó
e fama nas franjas do deserto de Gobi, onde o governo chino, aquele dos olhos cada
vez maiores, mantém uma de suas bases hacker.
O Times, não o de Londres, o New York, publicou relato de seu
maior jornalista, dois Pulitzers naquele lombo branco e fora de moda, dando
notícia de que tal descalabro cibernético partiu de uma IA (inteligência
artificial) criada nos laboratórios da NSA (National Security Agency, uma das
quatrocentas e doze agências de espionagem norte-americanas, ou quatrocentas e
treze, a contar com a ABIN), IA que tomou “vida própria” e praticou ações “em
benefício da humana espécie”, antes de ser silenciada dos mainframes. A NSA,
claro, nega o fato, como nega qualquer fato.
E eis o fato: No dia 01 de janeiro de 2023 um vírus blended
threats (tipo de vírus que é na verdade um coquetel de diversos códigos
maliciosos, que operam em conjunto), vindo sabe-se lá de onde, aplicou o maior
golpe ou ataque virtual já efetivado na história da internet. Milhões de
pessoas tiveram quase 8,4 bilhão de fotos instantaneamente “desfiltradas”. Sim,
ridiculice das impraticabilidades, ciber-porralouquice: Fotos publicitárias de
repente perderam seu glamour falseabundo, instaladas já nos próprios anúncios
virtuais veiculados por suas agências; anúncios culinários foram dos mais
prejudicados, e a lambada de vara de cilício/silício (você escolhe, afinal o lombo também é seu) não poupou do universal McDonalds
à nossa Giraffa’s, magoando ainda, numa igualação de classes jamais sonhada por
Marx ou Bakunin, os altos mestres da culinária: No mesmo dia 01, apenas quatro
horas depois da deflagração do vírus, nada menos que seis altos cozinheiros
listados no topo do Guia Michelin suicidaram-se. E duro golpe se abateu,
igualmente, sobre o comércio de corpos humanos, o virtual e agora globalizado
meretrício: Milhares de books fotográficos (ou menus) foram
literalmente deflorados de suas fantasias photoshopadas.
Uma impossibilidade completa e ilógica, mas aconteceu.
A desgraça, aí iniciada, seguiu penetrando os motéis e chats
de que é feita a micro história: Namoros virtuais, dos rascunhados aos já
prestes (aqueles já com passagens compradas, pois janeiro é período de férias!)
foram repentinamente suspensos pela sub-reptícia revelação da face verdadeira
de muchachos, muchachas e sambarilovis que valiam-se de filtros, às vezes em
sua carga máxima, para diluir rugas, dinamitar estrias, clarear dentes, encobrir
olheiras, harmonizar enfim a despojada/renegada naturalidade de suas faces e
corpitchos.
Grandes artistas viram o pedestal ruir de sob seus pés de
pégaso ou gazela; fotógrafos afamados foram lançados de volta ao lugar-comum do
populacho Iphonizado.
O Instagram, criação espetaculosa do brasileiro Mike Krieger
e seu sócio Kevin Systrom, hoje em posse do decadente Mark Zuckerberg, o
repetidor de caras e camisas, lançou as ações da META num nimbo mais profundo
que a Deep Web, ao perder num único dia setenta milhões de usuários.
PCs, laptops, aparelhos móveis: o vírus, que já está sendo
chamado de RSW (Reality Shock Wave, ou onda de choque de realidade),
tomou e manietou aparelhos até daqueles que jamais utilizaram um programa de
fotos ou tratamento de imagens. Soturno aguarda, fênix de código binário, com
seus cacetetes e espadas verdadificadores afiados, pronto para desmascarar a
primeira tentativa de falseio.
E pensar que o vírus, dormente há meses segundo o velho
Kaspersky, foi acionado por um gatilho singelo, que seu cruel programador havia
preparado: Quando da utilização dos filtros por mais de quinhentos milhões
de usuários ao mesmo tempo. Culpa dos festejos de Reveillon.
Moral da notícia, fictícia como um filtro Clarendon (aquele
primeiro, o mais bonito) do Instagram: Viva mais, fotografe menos. E se for
filtrar, filtre a água e as amizades, pois os tempos são liquidamente maus,
photoshopadamente #fúteis.
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