sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

01/01/2023: O Atentado do Vírus 'Desfiltrador'

 


Eugene Kaspersky, pai do antivírus homônimo e tido ou havido como especialista maior do mundo das seguranças e salvaguardas do universo virtual, asseverou que o vírus partiu de uma cidadezinha chinesa, isolada em pó e fama nas franjas do deserto de Gobi, onde o governo chino, aquele dos olhos cada vez maiores, mantém uma de suas bases hacker.

O Times, não o de Londres, o New York, publicou relato de seu maior jornalista, dois Pulitzers naquele lombo branco e fora de moda, dando notícia de que tal descalabro cibernético partiu de uma IA (inteligência artificial) criada nos laboratórios da NSA (National Security Agency, uma das quatrocentas e doze agências de espionagem norte-americanas, ou quatrocentas e treze, a contar com a ABIN), IA que tomou “vida própria” e praticou ações “em benefício da humana espécie”, antes de ser silenciada dos mainframes. A NSA, claro, nega o fato, como nega qualquer fato.

E eis o fato: No dia 01 de janeiro de 2023 um vírus blended threats (tipo de vírus que é na verdade um coquetel de diversos códigos maliciosos, que operam em conjunto), vindo sabe-se lá de onde, aplicou o maior golpe ou ataque virtual já efetivado na história da internet. Milhões de pessoas tiveram quase 8,4 bilhão de fotos instantaneamente “desfiltradas”. Sim, ridiculice das impraticabilidades, ciber-porralouquice: Fotos publicitárias de repente perderam seu glamour falseabundo, instaladas já nos próprios anúncios virtuais veiculados por suas agências; anúncios culinários foram dos mais prejudicados, e a lambada de vara de cilício/silício (você escolhe, afinal o lombo também é seu) não poupou do universal McDonalds à nossa Giraffa’s, magoando ainda, numa igualação de classes jamais sonhada por Marx ou Bakunin, os altos mestres da culinária: No mesmo dia 01, apenas quatro horas depois da deflagração do vírus, nada menos que seis altos cozinheiros listados no topo do Guia Michelin suicidaram-se. E duro golpe se abateu, igualmente, sobre o comércio de corpos humanos, o virtual e agora globalizado meretrício: Milhares de books fotográficos (ou menus) foram literalmente deflorados de suas fantasias photoshopadas.

Uma impossibilidade completa e ilógica, mas aconteceu.

A desgraça, aí iniciada, seguiu penetrando os motéis e chats de que é feita a micro história: Namoros virtuais, dos rascunhados aos já prestes (aqueles já com passagens compradas, pois janeiro é período de férias!) foram repentinamente suspensos pela sub-reptícia revelação da face verdadeira de muchachos, muchachas e sambarilovis que valiam-se de filtros, às vezes em sua carga máxima, para diluir rugas, dinamitar estrias, clarear dentes, encobrir olheiras, harmonizar enfim a despojada/renegada naturalidade de suas faces e corpitchos.

Grandes artistas viram o pedestal ruir de sob seus pés de pégaso ou gazela; fotógrafos afamados foram lançados de volta ao lugar-comum do populacho Iphonizado.

O Instagram, criação espetaculosa do brasileiro Mike Krieger e seu sócio Kevin Systrom, hoje em posse do decadente Mark Zuckerberg, o repetidor de caras e camisas, lançou as ações da META num nimbo mais profundo que a Deep Web, ao perder num único dia setenta milhões de usuários.

PCs, laptops, aparelhos móveis: o vírus, que já está sendo chamado de RSW (Reality Shock Wave, ou onda de choque de realidade), tomou e manietou aparelhos até daqueles que jamais utilizaram um programa de fotos ou tratamento de imagens. Soturno aguarda, fênix de código binário, com seus cacetetes e espadas verdadificadores afiados, pronto para desmascarar a primeira tentativa de falseio.

E pensar que o vírus, dormente há meses segundo o velho Kaspersky, foi acionado por um gatilho singelo, que seu cruel programador havia preparado: Quando da utilização dos filtros por mais de quinhentos milhões de usuários ao mesmo tempo. Culpa dos festejos de Reveillon.

Moral da notícia, fictícia como um filtro Clarendon (aquele primeiro, o mais bonito) do Instagram: Viva mais, fotografe menos. E se for filtrar, filtre a água e as amizades, pois os tempos são liquidamente maus, photoshopadamente #fúteis.

 Sammis Reachers


quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

METAMÁXIMAS - Uma reunião das melhores citações sobre... Citações, aforismos e máximas

 


Máxima. Sintetização de um pensamento na melhor das formas, forma que ocupe o mínimo espaço. Poderíamos assim, tacanhamente, definir o termo que é tema desta antologia.

Reunimos aqui uma inusitada seleção de definições – ou máximas – sobre elas próprias, as máximas. E vá lá: Aforismos, sentenças, provérbios, ditos e ditados, primos quaisquer dessa grande família das Citações, aqui se auto enquadram – pois você não acha justo que os carregadores de piano possam, dia qualquer, sentar-se na banqueta e arriscar uma sonata?

Academicamente, uma literatura que fale de si própria é sempre metaliteratura, daí o hibridismo de nosso título superlativo, Metamáximas.

Que este breve compilado alimente a fruição daqueles que, assim como eu, são amantes das citações.

O e-book está disponível na Amazon (AQUI) e na Google Play (AQUI).



sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

Carne e alma preta na cidade: a poesia de Pedro Marcos Pereira Lima

 


O poeta paulistano Pedro Marcos Pereira Lima é graduado em Letras, e autor dos livros Casas com Asas, No Tempo da Poesia e Palavras Crianças no Jardim de Aula.

Em sua nova obra, Pisando na Grama, o autor reúne novos e antigos poemas de sua lavra pulsante.

Marcos é carne e alma preta na cidade, irmanando-se nas dores, palavra comprometida com a dor e a vida.

Fiel a seu ofício, o autor arranca versos da insipidez da pedra, do cinzento da cidade e suas nuances, do corriqueiro que navega o dia a dia. Melhor, versos empresta, atento ao que vai sob a superfície.

E, metaliteralizando ela, a sexta arte, obtém palavra pura, poesia em ares, libertação das cadeias.

Publicado pela Desconcertos Editora, o livro pode ser adquirido AQUI.

 

Com vocês, alguns versos de Pedro Marcos Pereira Lima.


NEGRURA

                  Ao Edson Cruz,

            pelo livro Negrura

 

negrura é

agrura né?

 

palavra aguda

na grade gruda

 

por um fio

de fio em fio

 

a tessitura

da escritura

 

vai sendo escrita

na voz que grita

 

livro encarnado

de negro retrato

 

na cor das cores

a face das dores

 

o corte da cor

na coroa da corte

 

saltando da fala

da negra senzala

 

voz expandida

além da língua

 

esboça a pintura

com toda tintura

 

da dura negrura

 

 

PERGUNTA

 

por que a cor do humano

é desacordo

para a convivência?

 

 

ARQUEOLOGIA

 

do fundo de um poço

desenterro um osso

esquecido há milênios —

puxando o soneto:

 

encontro um esqueleto

roído de devaneios

o pescoço envolto

num colar, por amuleto

 

da pirâmide geométrica

dos grandes grãos de pedra

o sol espraia sombras

 

de retintos faraós

que desde sempre tombam

extintos da memória

 

 *

 

esses

que levaram

nas costas

as pedras

degraus acima —

eram deuses?...

astronautas?...

 

escravos

eram esses

 

 

LAR

 

nesse tempo cotidiano

da cidade habitada

de abandono

 

o acolhimento

encontre um espaço

nesse cimento

 

na criança ou velho

de toda idade

pelos becos da cidade

 

onde pouse

um lugar de luz

resplandeça

 

acordem os sonâmbulos

a fé ouse

o amor apareça

 

 

DIÁLOGO MONÓLOGO

 

ruídos do silêncio

falam mais do que penso —

a mudez dispenso

 

palavras amam-se

mas cuidado —

palavras tramam

 

o que é essência

pode ser excrescência

esse som enviesado

 

***

 

mas, nenhum conflito:

a barriga da alma

abriga

o corpo do espírito



SONANTE

 

deixo que os sons

me apurem os ouvidos –

 cantos de galos

e bem-te-vis em acordes

 

que os sonhos

que te mordem

te acordem

 

aqui e ali arrumo

os enganos

nos quais tropeço

e meço os danos

 

alguém me dizia:

fantasia é ilusão

utopia é esperança

 

com razão:

a poesia

é uma

criança de rua

 

e dela fisgo a inspiração

e recolho

seus sonhos mendigos

 

e trago

para que escutem

suas vozes

em risos ruidosas


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