domingo, 21 de outubro de 2018

O Livro e o Prazer da Leitura em 400 Citações - Um livro capital


O livro é a porta para o que é o homem, o que é humano. É o testemunho máximo de nossa história e evolução, raízes e anseios – e nosso alcance. Faltam-nos palavras para descrever o livro. Bem, este é justamente um dos motivos desse livro sobre o livro (e sobre a leitura): coligir reflexões as mais diversas sobre o nosso amigo de todas as horas, bem como sobre o prazer que a leitura proporciona, oriundas de autores, tempos e culturas os mais variados.
A reflexão sobre o livro e o incessante e multiforme incentivo à leitura precisam estar na base, no “chão” da cultura, para que o edifício se erga e sustenha. Afinal, o livro é o objeto cultural elementar.
Pais e educadores, leitores e escritores, livreiros, editores, políticos, jornalistas – profissionais e amantes do livro e qualquer um preocupado com os destinos da educação e do próprio país encontrarão aqui um ferramental de boa e urgente reflexão. “Munições” para lembrarmos, celebrarmos e promovermos a cada dia mais a Sua Excelência, o Livro.

Sammis Reachers

O livro encontra-se à venda apenas pela livraria AMAZON. Você pode adquirir o seu clicando AQUI.

sexta-feira, 12 de outubro de 2018

O QUE DISSE CAIM A ADÃO A LESTE DO PARAÍSO






O que Caim podia dizer ao pai sou mau herdei de ti
A observância da dúvida, a transfiguração do que era
Antes apenas a polpa do bem e do mal
Sou um homem que luta contra serpentes
Que querem minar os meus frutos da terra
Porque não se fechou o teu palato à doçura do desejo
Sei que seria belo o estremecimento de amor
Ao ver a mão da mãe trazer-te um belo fruto
Eu estava de longe a apreciar o vosso desvelo
O amor com que amastes Abel, o meu irmão sim
Esse era bom a menina dos vossos olhos eu não
Já não quero amor de espécie alguma
Embora Deus peregrine comigo na terra de Node

11/10/2018
© João Tomaz Parreira




quinta-feira, 11 de outubro de 2018

HAIKU







As lanças em riste

na ramagem das palmeiras

combatem o vento




25-09-2018
© J.T.Parreira

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Magia e Milagre da Palavra


As palavras pesam. Talvez porque sejam a mais genuína invenção humana. Os papagaios não falam, apenas repetem. Não escapam de seus limites atávicos. Curioso é organismo humano não possuir um órgão específico da fala. O olho é a fonte da visão, como o ouvido, da audição. A língua facilita a deglutição, como a traqueia, a respiração. No entanto, a ânsia de expressar-se levou o ser humano a conjugar mente e boca, órgão da respiração e da deglutição, para proferir palavras.
“No princípio era o Verbo”, reza o prólogo do evangelho de João. Deus é Palavra e, em Jesus, ela se faz carne. O mundo foi criado porque foi proferido: “E Deus disse: ‘Haja a luz’ e houve luz”, conta o autor do Gênesis.
Vivemos sob o signo da palavra. Unir palavra e corpo é o mais profundo desafio a quem busca coerência na vida. Há políticos e religiosos que primam pela abissal distância entre o que dizem e o que fazem. E há os que falam pelo que fazem.
A palavra fere, machuca, dói. Proferida no calor aquecido por mágoas ou ira, penetra como flecha envenenada. Obscurece a vista e instaura solidão. Perdura no sentimento dilacerado e reboa, por um tempo que parece infinito, na mente atordoada pelo jugo que se impõe. Só o coração compassivo, o movimento anagógico e a meditação livram a mente de rancores e imunizam-nos da palavra maldita.
Machado de Assis ensina que as palavras têm sexo, amam-se umas às outras, casam-se. O casamento delas é o que se chama estilo.
A palavra salva. Uma expressão de carinho, alegria, acolhimento ou amor, é como brisa suave que ativa nossas melhores energias. Somos convocados à reciprocidade. Essa força ressurrecional da palavra é tão miraculosa que, por vezes, a tememos. Orgulhosos, sonegamos afeto; avarentos, engolimos a expressão de ternura que traria luz; mesquinhos, calamos o júbilo, como se deflagrar vida merecesse um alto preço que o outro, a nosso parco juízo, não é capaz de pagar. Assim, fazemos da palavra, que é gratuita, mercadoria pesada na balança dos sentimentos.
Vivemos cercados de palavras vãs, condenados a uma civilização que teme o silêncio. Fala-se muito para dizer bem pouco. Nas músicas juvenis abundam palavras e carecem melodias. Jornais, revistas, tevê, outdoors, telefone, correio eletrônico – há demasiado palavrório. E sabemos todos que não se dá valor ao que se abusa.
Carecemos de poesia. O poeta é um entusiasmado, no sentido grego deen + theós = com um deus dentro. Como sublinha Platão no Ion, nele fala a divindade, o Outro. Em linguagem psicanalítica, fala o inconsciente. Como Orfeu, o poeta desce à noite dos infernos para recuperar Eurípides, o fantasma do desejo.
Nossa lógica cartesiana faz do palavrório uma defesa contra o paradoxo. No entanto, sem paradoxo não há arte. O belo é irredutível à palavra, mas só a palavra expressa a estética. O silêncio não é o contrário da palavra. É a matriz. Talhada pelo silêncio, mais significado ela possui. O tagarela cansa os ouvidos alheios porque seu matraquear de frases ecoa sem consistência. Já o sábio pronuncia a palavra como fonte de água viva. Ele não fala pela boca, e sim do mais profundo de si mesmo.
Há demasiado ruído em nós e em torno de nós. Tudo de tal modo se fragmenta que até a hermenêutica se cala. Hermes, o deus mensageiro, já não nos revela o sentido das coisas, mormente das palavras, que se multiplicam como vírus que esgarça o tecido e introduz a morte.
Guimarães Rosa inicia Grandes sertões, veredas com uma palavra insólita: “Nonada”. Não nada. Não, nada. Convite ao silêncio, à contemplação, à mente centrada no vazio, à alma despida de fantasias.
Sabem os místicos que, sem dizer “não” e almejar o Nada, é impossível ouvir, no segredo do coração, a palavra de Deus que, neles, se faz Sim e Tudo, expressão amorosa e ressonância criativa.
Frei Betto

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