quarta-feira, 13 de junho de 2012

Dois poemas de Raul Miranda


Ainda Há Espetáculo

Ainda há espetáculo
nos bastidores de meu rosto.
Ainda há resistência
nos músculos apodrecidos de meu corpo.
Ainda há perfume
nos caminhos percorridos em meu rastro.
Ainda há sustentáculo
nos versos escritos na pressa de meu tempo.
Ainda há ardência
nos braços estendidos da mulher de meu gosto.
Ainda há insistência
nos espetáculos de pouca freqüência
que esvaziam a platéia e meu rosto.


FATOR NEGATIVO NOS ARES

Tentarei escrever um poema
para afastar o tédio,
para amansar a dor,
para amamentar os segredos,
para destronar o medo.
Tentarei, não conseguirei, matar
os rótulos dourados do remédio,
os palácios odiados da fartura,
os bolsos cheios do patrão,
os impostos com fuzil na mão.
Procurarei por todos os cantos
um bocado de amor para os amantes,
uma revolta para os acomodados,
uma boca sem cadeados.

Do livro Novo Ar (Rio de Janeiro: Folhetim, 1976)

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