Fobos,
você sabe, é irmão de Deimos, deuses ou diabos gregos representantes do Medo e
do Terror, respectivamente. Filhos do miliciano Ares e da messalina Afrodite,
boa coisa não poderia mesmo vir dessa mistura de guerra com lascívia e
impudicícia. De Fobos (Phobo, com ph, fica mais fofo, não?) derivamos muita
coisa, como o tema dessa nossa crônica noticiosa, as fobias.
Talvez
você não saiba, mas na pitoresca cidade de Broken Arrow, no estado norte-americano
de Oklahoma, fica a sede da Sociedade para o Estudo e Catalogação das Fobias, Medos
e Transtornos Correlatos (SSCPFRD, na sigla em inglês).
A
obscura relativamente invisibilizada organização, com sucursais ou ao
menos representantes em cidades como Paris ou a nossa Niterói, de tempos em
tempos lança nas fuças e nos ares sua nova compilação de rebentos do tal Phobos,
deus caído que parece milho de pipoca premium estourando pela quentura
destes nossos tempos.
Nem
só de seu maior sucesso, a celebrada transfobia (e sua infinita
LGTBQIAFNBWELRTSV+tização) ou da cristofobia (que ela mesma insiste em não
designar, mas é a campeã das fobias em certos círculos, universidades, partidos,
países, continentes e sabe-se lá se em planetas), vive a organização. Convido
você, leitor, leitora, leitore e leitão a dar uma olhada nas novas
nomenclaturas que a .org, em seu empenho científico à frente de seu tempo e de sua
cultura vem desenvolvendo, em nome da compreensão das incompreensões humanas e
do tratamento paliativo de transtornos da psiquê (sim, também me assusta, mas
medo ainda é uma doença). Vejamos seis dos nada menos que quarenta e
seis(!) novos construtos medrais delimitados e elencados este ano pela ong
ianqueana.
Erucofobia (do latim eruca,
lagarta): Medo de passar sob árvores e uma lagarta (de fogo, água ou carbono
como você e eu) cair sobre si. Os reféns da patologia se recusam a andar em
áreas arborescentes, e fazem das selvas de pedra seu habitat de salvaguarda. O
PCC agradece.
Ovifrangerofobia (do latim ovi,
ovo, frangere, partir): Medo de assistir a uma das coisas mais centrais
e belas da natura: Um ovo eclodindo e um animal saindo dele (seja cobra,
calango, dragão ou ave).
Masculofobia: Este é medo antigo,
pilar dos medos, sobressalto das bruxas que sobreviveram, e que só agora ganha
designação oficial, depois de uma longa luta interna, que quase fez rachar
aquela abaloada organização sem fins lucrativos. Trata-se do medo de ver,
conversar e/ou con-viver com homens héteros autoafirmativos. Não se trata dos
tais doentios “red pills” ou “hétero tops”; o termo
autoafirmativo designa o simples homem hétero coitado e cotidiano (seu pai, seu
irmão, seu avô, seu Antônio o pedreiro, Geremias o açougueiro, o “homem comum”
cujo conjunto certamente fez o mundo em que você pisa, respira e teme),
que não se envergonha de si, sua opção, ou melhor, naturalista que é, não considera
opções. Uma revista de humor inglesa disse que a masculofobia é o medo de
“homem de verdade”. Bem, há divergências, mas é um resumo do medo.
Punctumfobia: É o medo de
apontar lápis (de punctum, apontar). Os especialistas perceberam que, em
cidades belgas, dinamarquesas e holandesas, crianças tinham medo de apontar seus
lápis, pois a visão de um lápis sendo desbastado lhes causava repulsa e
desconforto, afinal o lápis está sendo mutilado naquilo ali. Na Dinamarca, país
avant garde, já há funcionários nas escolas encarregados exclusivamente
de apontar os lápis do mais sensíveis (não deixem Putin saber disso).
Nigergradatiofobia ou
simplesmente gradatiofobia (sempre do latim, niger, negro, gradatio,
gradação): Essa talvez seja a mais polêmica das novas designações fóbicas, ou
ao menos a que tem causado mais estardalhaço na mídia norte-americana e europeia:
É a fobia que uma pessoa NEGRA tem de outra pessoa NEGRA, cujo tom de pele é
mais escuro que o dela.
No
Brasil, país miscigenado pelo amor e pela violência, um dos gargalos entupidos
do combate ao racismo é aquele praticado (em geral por crianças e adolescentes)
justamente entre negros, onde as falas, sejam francas ou de “humor”, desmerecem
este ou aquele negro por ser “mais preto” que aquele que fala. Qualquer rua ou
sala de aula é palco para assistir, estarrecido, a este descalabro que se
repete ao milhão por dia, ao arrepio da lei, da Djamila e do ex-ministro
apalpador de catracas (a tara dele tem nome, mas, calma, o tema de hoje são
fobias).
Após
temas amenos e pesados, vamos terminar com outra amenidade, esta típica da
geração Z. É a tarditofobia (tarditas, lentidão, morosidade).
Simplesmente
o medo de que um livro não tenha a sua continuação publicada. Vivemos tempos de
trilogias, tetralogias e CEOs tarados incansáveis como Ares ou Afrodite
dominando a baixa literatura, mas uma raiz desse horror podemos creditar ao
nosso primeiro detetive da ficção, Sherlock Holmes, cuja morte no conto O
Problema Final (e o fim da “saga”), desesperou a Europa, inundou o autor
Arthur Conan Doyle de cartas e o “obrigou” a reviver o personagem, que,
passados mais de 130 anos de sua primeira morte, segue ad infinitum,
pois centenas de autores escreveram e seguem escrevendo histórias baseadas no
mestre londrino dos tirocínios. O episódio bem mais recente, da morosidade de
George R. R. Martin em concluir sua saga Crônicas de Gelo e Fogo (Game of
Thrones e não, neste 13/09/25 a obra ainda não foi concluída), só ajudou a
universalizar a fobia, agora, se não dicionarizada, ao menos já descrita em
publicação especializada. Eu falei de tema ameno? Perdão, leitore. Segundo
dados da própria SSCPFRD, ao menos 28 pessoas, apenas no Norte global,
alegadamente suicidaram-se devido à espera, dura para elas, de continuações de
suas tramas diletas. Martin responde por nada menos que 17 dessas mortes...
Em
tempo: Você, cagão, cagona, cagone, medroso de qualquer (im)potência pode
solicitar um distintivo de representante da SSCPFRD,
e passar a ser correspondente certificado da .org em sua região. As tarefas do
cargo, honorário e não remunerado, vão desde coletar dados a divulgar o
trabalho da .org. Mas saiba que o paspalho e proto-ditador do Trump é inimigo
figadal da organização, após ela propor o termo aurantiofobia (medo de
homens-“laranja”), e seu visto para os EUA pode bem ir para as cucuias. De toda
forma, preencha o cadastro no site e boa sorte!
Sammis Reachers
Caro Sammis, você realmente é uma antifobidisléxicomaníaco, por mais que se queira discordar de você, você é hábil nos malabares das palavras.
ResponderExcluirSeu fã sempre.