sexta-feira, 26 de setembro de 2025

PHOBOMANIA: Saiu a nova listagem anual de fobias. Conheça algumas

 


Fobos, você sabe, é irmão de Deimos, deuses ou diabos gregos representantes do Medo e do Terror, respectivamente. Filhos do miliciano Ares e da messalina Afrodite, boa coisa não poderia mesmo vir dessa mistura de guerra com lascívia e impudicícia. De Fobos (Phobo, com ph, fica mais fofo, não?) derivamos muita coisa, como o tema dessa nossa crônica noticiosa, as fobias.

Talvez você não saiba, mas na pitoresca cidade de Broken Arrow, no estado norte-americano de Oklahoma, fica a sede da Sociedade para o Estudo e Catalogação das Fobias, Medos e Transtornos Correlatos (SSCPFRD, na sigla em inglês).

A obscura relativamente invisibilizada organização, com sucursais ou ao menos representantes em cidades como Paris ou a nossa Niterói, de tempos em tempos lança nas fuças e nos ares sua nova compilação de rebentos do tal Phobos, deus caído que parece milho de pipoca premium estourando pela quentura destes nossos tempos.

Nem só de seu maior sucesso, a celebrada transfobia (e sua infinita LGTBQIAFNBWELRTSV+tização) ou da cristofobia (que ela mesma insiste em não designar, mas é a campeã das fobias em certos círculos, universidades, partidos, países, continentes e sabe-se lá se em planetas), vive a organização. Convido você, leitor, leitora, leitore e leitão a dar uma olhada nas novas nomenclaturas que a .org, em seu empenho científico à frente de seu tempo e de sua cultura vem desenvolvendo, em nome da compreensão das incompreensões humanas e do tratamento paliativo de transtornos da psiquê (sim, também me assusta, mas medo ainda é uma doença). Vejamos seis dos nada menos que quarenta e seis(!) novos construtos medrais delimitados e elencados este ano pela ong ianqueana.

 

Erucofobia (do latim eruca, lagarta): Medo de passar sob árvores e uma lagarta (de fogo, água ou carbono como você e eu) cair sobre si. Os reféns da patologia se recusam a andar em áreas arborescentes, e fazem das selvas de pedra seu habitat de salvaguarda. O PCC agradece.

 

Ovifrangerofobia (do latim ovi, ovo, frangere, partir): Medo de assistir a uma das coisas mais centrais e belas da natura: Um ovo eclodindo e um animal saindo dele (seja cobra, calango, dragão ou ave).

 

Masculofobia: Este é medo antigo, pilar dos medos, sobressalto das bruxas que sobreviveram, e que só agora ganha designação oficial, depois de uma longa luta interna, que quase fez rachar aquela abaloada organização sem fins lucrativos. Trata-se do medo de ver, conversar e/ou con-viver com homens héteros autoafirmativos. Não se trata dos tais doentios “red pills” ou “hétero tops”; o termo autoafirmativo designa o simples homem hétero coitado e cotidiano (seu pai, seu irmão, seu avô, seu Antônio o pedreiro, Geremias o açougueiro, o “homem comum” cujo conjunto certamente fez o mundo em que você pisa, respira e teme), que não se envergonha de si, sua opção, ou melhor, naturalista que é, não considera opções. Uma revista de humor inglesa disse que a masculofobia é o medo de “homem de verdade”. Bem, há divergências, mas é um resumo do medo.

 

Punctumfobia: É o medo de apontar lápis (de punctum, apontar). Os especialistas perceberam que, em cidades belgas, dinamarquesas e holandesas, crianças tinham medo de apontar seus lápis, pois a visão de um lápis sendo desbastado lhes causava repulsa e desconforto, afinal o lápis está sendo mutilado naquilo ali. Na Dinamarca, país avant garde, já há funcionários nas escolas encarregados exclusivamente de apontar os lápis do mais sensíveis (não deixem Putin saber disso).

 

Nigergradatiofobia ou simplesmente gradatiofobia (sempre do latim, niger, negro, gradatio, gradação): Essa talvez seja a mais polêmica das novas designações fóbicas, ou ao menos a que tem causado mais estardalhaço na mídia norte-americana e europeia: É a fobia que uma pessoa NEGRA tem de outra pessoa NEGRA, cujo tom de pele é mais escuro que o dela.

No Brasil, país miscigenado pelo amor e pela violência, um dos gargalos entupidos do combate ao racismo é aquele praticado (em geral por crianças e adolescentes) justamente entre negros, onde as falas, sejam francas ou de “humor”, desmerecem este ou aquele negro por ser “mais preto” que aquele que fala. Qualquer rua ou sala de aula é palco para assistir, estarrecido, a este descalabro que se repete ao milhão por dia, ao arrepio da lei, da Djamila e do ex-ministro apalpador de catracas (a tara dele tem nome, mas, calma, o tema de hoje são fobias).

 

Após temas amenos e pesados, vamos terminar com outra amenidade, esta típica da geração Z. É a tarditofobia (tarditas, lentidão, morosidade).

Simplesmente o medo de que um livro não tenha a sua continuação publicada. Vivemos tempos de trilogias, tetralogias e CEOs tarados incansáveis como Ares ou Afrodite dominando a baixa literatura, mas uma raiz desse horror podemos creditar ao nosso primeiro detetive da ficção, Sherlock Holmes, cuja morte no conto O Problema Final (e o fim da “saga”), desesperou a Europa, inundou o autor Arthur Conan Doyle de cartas e o “obrigou” a reviver o personagem, que, passados mais de 130 anos de sua primeira morte, segue ad infinitum, pois centenas de autores escreveram e seguem escrevendo histórias baseadas no mestre londrino dos tirocínios. O episódio bem mais recente, da morosidade de George R. R. Martin em concluir sua saga Crônicas de Gelo e Fogo (Game of Thrones e não, neste 13/09/25 a obra ainda não foi concluída), só ajudou a universalizar a fobia, agora, se não dicionarizada, ao menos já descrita em publicação especializada. Eu falei de tema ameno? Perdão, leitore. Segundo dados da própria SSCPFRD, ao menos 28 pessoas, apenas no Norte global, alegadamente suicidaram-se devido à espera, dura para elas, de continuações de suas tramas diletas. Martin responde por nada menos que 17 dessas mortes...

 

Em tempo: Você, cagão, cagona, cagone, medroso de qualquer (im)potência pode solicitar um distintivo de representante da SSCPFRD, e passar a ser correspondente certificado da .org em sua região. As tarefas do cargo, honorário e não remunerado, vão desde coletar dados a divulgar o trabalho da .org. Mas saiba que o paspalho e proto-ditador do Trump é inimigo figadal da organização, após ela propor o termo aurantiofobia (medo de homens-“laranja”), e seu visto para os EUA pode bem ir para as cucuias. De toda forma, preencha o cadastro no site e boa sorte!

Sammis Reachers


Um comentário:

  1. Caro Sammis, você realmente é uma antifobidisléxicomaníaco, por mais que se queira discordar de você, você é hábil nos malabares das palavras.
    Seu fã sempre.

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