1.
No seu nível
mais profundo, o amor é uma expressão da vontade de viver.
2.
Amar as
pessoas é a única coisa pela qual vale a pena viver.
3.
Aquilo que o
homem natural chama amor é, do ponto de vista cristão, amor próprio.
4.
Quando no
coração vive a inveja, o olhar tem então poder para extrair o impuro até do que
é puro; mas quando no coração vive o amor, o olhar tem então poder para amar o
bem no que é impuro; mas este olhar não olha para o impuro, antes para o puro
que ele ama e faz crescer por via de o amar. Sim, há um poder neste mundo que
na sua língua traduz o bem para o mal, mas há um poder vindo de cima que traduz
o mal para o bem — é o amor que esconde uma multidão de pecados.
5.
"Tu
deves amar". Só quando amar é um dever, só então o amor está eternamente
assegurado contra qualquer mudança; eternamente libertado em bem-aventurada
independência; protegido eterna e felizmente contra o desespero.
6.
A mais
medíocre de todas as defesas contra a hipocrisia é a sagacidade, ela quase não
protege, antes constitui uma perigosa proximidade; a melhor de todas as defesas
contra a hipocrisia é o amor, sim, este, além de ser uma defesa, é um abismo
escancarado, desde toda eternidade ele nada tem a ver com a hipocrisia. Aí
temos mais um fruto pelo qual se reconhece o amor: ele preserva o amoroso de
cair nas ciladas do hipócrita.
7.
[Porém,] a
Deus tu deves amar em obediência incondicional, mesmo que aquilo que Ele exige
de ti possa parecer ser para ti algo danoso, sim, danoso até para a Sua própria
causa; pois a sabedoria divina não tem relação de comparação com a tua, e a
providência divina não tem obrigação de prestar contas à tua inteligência; tu só
tens que obedecer, amando.
8.
Enganar-se a
si mesmo quanto ao amor, é o mais horrível, é uma perda eterna, para a
qual não há reparação nem no tempo nem na eternidade. Pois nos outros casos,
por mais diversos que sejam, em que se fala do ser enganado no amor, o enganado
se relaciona mesmo assim com o amor, e o engano consiste apenas em que o amor
não estava onde se acreditava estar; aquele, porém, que se engana a si mesmo
excluiu-se a si mesmo e excluiu-se do amor. Também se fala de alguém ser
enganado pela vida ou na vida; mas para aquele que numa autoilusão enganou a si
mesmo quanto à vida, a perda é irreparável. Mesmo aquele que ao longo de toda
sua vida foi enganado pela vida, pode receber da eternidade uma copiosa
reparação; mas o que se enganou a si mesmo impediu a si mesmo de conquistar o
eterno. Aquele que, exatamente por seu amor, tornou-se uma vítima do engano
humano, oh, o que é mesmo que terá perdido, quando se mostrar na eternidade que
o amor permanece, depois que cessou o engano! Aquele, porém, que engenhosamente
enganou a si mesmo, caminhando sagazmente para a armadilha da sagacidade, ai,
mesmo que durante toda a sua vida se considerasse feliz em sua ilusão, o que
não terá ele perdido, quando na eternidade se mostrar que ele se enganou a si
mesmo! Pois na temporalidade talvez um homem consiga prescindir do amor, talvez
tenha êxito em evadir-se ao longo do tempo sem descobrir o autoengano, talvez
tenha sucesso no mais terrível – numa ilusão, orgulhoso de permanecer nela; mas
na eternidade ele não pode prescindir do amor, e não pode deixar de descobrir
que pôs tudo a perder.
9.
Pois o que
vincula o temporal e a eternidade, o que é, senão o amor, que justamente por
isso existe antes de tudo, e permanece depois que tudo acabou. Mas justamente
porque o amor é assim o vínculo da eternidade, e justamente porque a
temporalidade e a eternidade são de natureza diferente, justamente por isso o
amor pode parecer um fardo para a sagacidade terrena da temporalidade, e por
isso na temporalidade pode parecer ao homem sensual um imenso alívio lançar
para longe de si este vínculo da eternidade.
10.
Cada árvore
se conhece pelo seu fruto, e assim também o amor pelo seu próprio fruto, e o
amor do qual fala o Cristianismo, por seu fruto próprio: pois que ele tem em si
a verdade da eternidade! Todo outro amor, quer ele, falando humanamente, perca
logo suas pétalas e se transforme, quer ele se conserve amorosamente nas
estações da temporalidade: não deixa de ser efêmero, apenas floresce. É isso
justamente o frágil e o melancólico nele, quer floresça por uma hora, quer por
setenta anos; mas o amor cristão é eterno. Por isso a ninguém ocorreria dizer
do amor cristão que ele floresce; a nenhum poeta, caso ele se compreenda,
ocorreria cantar este amor. Pois o que o poeta deve cantar tem de possuir a
melancolia que é o enigma da sua própria vida: deve florescer, ai, e deve
perecer. Mas o amor cristão permanece, e justamente por isso ele é; porque o
que perece floresce, e o que floresce perece, mas aquilo que é não pode ser
cantado, deve ser crido e ser vivido.
11.
De onde vem o
amor, onde está sua origem e sua fonte, onde é o lugar que constitui seu
paradeiro, do qual ele provém? Sim, este lugar é oculto ou está no oculto. Há
um lugar assim no mais Íntimo do homem, deste lugar procede a vida do amor,
pois "do coração procede a vida" (Provérbios 4.23). Mas não consegues
ver este lugar; por mais que tu penetres, a origem se esquiva na distância e no
ocultamento; mesmo quando tiveres penetrado no mais profundo, a origem parece
estar sempre um pouco mais profunda, assim como a origem da fonte, que
justamente quando estás mais próximo se afasta ao máximo. Deste lugar procede o
amor, por múltiplos caminhos; mas por nenhum desses caminhos podes penetrar na
sua gênese oculta. Como Deus mora numa luz da qual emana cada raio que ilumina
o mundo, enquanto porém ninguém pode penetrar por esses caminhos para ver a
Deus, pois os caminhos da luz se transformam em escuridão quando a gente se
volta contra a luz; assim também mora o amor no ocultamento, ou mora
ocultamente no mais íntimo. Tal como o manancial da fonte atrai pela persuasão
de seu murmúrio cantarolante, sim, quase pede ao homem que vá por este caminho
e não pretenda indiscretamente remontar para encontrar a sua origem e revelar o
seu mistério; tal como os raios do sol convidam o homem a contemplar, com seu
auxílio, a magnificência do mundo, mas advertindo castigam o temerário com a
cegueira quando este se volta indiscretamente e atrevido para descobrir a
origem da luz; tal como a fé, acenando, se oferece ao homem como companheira de
viagem no caminho da vida, mas petrifica o atrevido que se volta para
compreender abusadamente; assim também é o desejo e o pedido do amor que a sua
origem escondida e a sua vida oculta no mais íntimo permaneçam um segredo, que
ninguém curiosa e abusadamente queira invadir importunando para ver o que
afinal não pode ver, mas que com sua indiscrição bem pode pôr a perder da
alegria e da bênção. É sempre o sofrimento mais doloroso quando o médico é
obrigado a cortar e a avançar até as partes mais nobres e mais ocultas do corpo
humano; assim também é o sofrimento mais doloroso e também o mais prejudicial
quando alguém em vez de se alegrar com o amor em suas manifestações quer
alegrar-se em esquadrinhar o amor, quer dizer, perturbá-lo.
12.
Lá onde o
puramente humano quer precipitar-se para a frente, o mandamento [tu deves
amar] retém; lá onde o puramente humano quer perder a coragem, o mandamento
reforça; lá onde o puramente humano quer declarar-se cansado e experiente, o
mandamento inflama e dá sabedoria. O mandamento consome e incendeia o que há de
malsão em teu amor, mas graças ao mandamento tu deves, por tua vez, inflamar
aquele que, humanamente falando, quer ceder. Lá onde achas que podes facilmente
te orientar sozinho, toma o mandamento para te orientar; lá onde
desesperadamente queres te orientar, deves tomar o mandamento para te orientar;
mas lá onde não sabes te orientar, o mandamento deve então orientar-te de modo
que tudo acabe ficando bem.
13.
Pois é o amor
cristão que descobre e sabe que o próximo existe e – o que dá no mesmo – que
cada um é o próximo. Se amar não fosse um dever, também não haveria o conceito
do próximo; mas só se extirpa o egoístico da predileção e só se preserva a
igualdade do eterno quando se ama o próximo.
14.
O amor
natural é definido pelo objeto, a amizade é definida pelo objeto, só o amor ao
próximo é definido pelo amor.
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