sexta-feira, 28 de março de 2025

Salve o Corinthians, um poema de Gióia Júnior

 


SALVE O CORINTHIANS!

 

Lá vem a bandeira

brincando na brisa;

lá vem o Corinthians

suando a camisa,

trazendo a vitória

que o povo precisa,

brilhando de novo

nos olhos da Elisa!

Lá vem o Corinthians

com garra e com saldo

nas mãos do Tobias,

nos pés do Geraldo —

batendo na bola

com raça e com fé —

Palhinha, Adãozinho

e a muralha Zé.

Lá vem o Corinthians

do sangue e da raça,

buscando a conquista

de mais uma taça.

Não há quem segure,

não há quem resista,

a força alvinegra

da gente paulista!

O grito contido

nos anos de espera

sacode a cidade

e explode a galera,

reboa festivo

na rua e na praça

erguendo a bandeira

e empunhando a taça.

Não há quem refreie

o ímpeto novo

e a garra de sempre

do time do povo.

Não há quem contenha

a nossa emoção,

não há quem abafe

a voz do povão,

não há quem sufoque

milhões de esperanças,

no som dos tambores,

na voz das crianças;

não há quem duvide

da linda canção:

o nosso Corinthians

é o grande campeão!

 

Do livro O Nó da Gravata (Melhoramentos, 1978).

 *    *    *    *    *

Gióia Júnior (1931 - 1996) foi poeta, jornalista, político (Vereador, Deputado Estadual e Federal) e radialista. É considerado por muitos o maior poeta evangélico brasileiro.


sábado, 15 de março de 2025

FLIPERAMIGOS - Resenhas e Crônicas Retrogamers de Sammis Reachers reunidas em e-book GRATUITO


Um passeio pitoresco e bem humorado pelo universo dos fliperamas e videogames das décadas de oitenta e noventa.

 

Nascido em 1978, minha infância e adolescência transcorreram nas décadas de 80 e 90. Na adolescência eu tinha duas grandes paixões, ou mais que isso, mas essas duas eram as mais regulares e onerosas: quadrinhos e jogos eletrônicos.  Passei pela clássica segunda geração dos consoles caseiros, mas vivi realmente as terceira, quarta, quinta e sexta gerações dos videogames. Além de ter experienciado toda a vibe dos fliperamas, verdadeiros "templos" onde eu depositava meu tempo e suadas fichas.

A partir de 2020, com a eclosão da pandemia de Covid e seu lockdown, o tempo “ocioso” de quase todos, para o bem e para o mal, foi catapultado para muito adiante. Assim, pude dedicar um tempo maior à jogatina nos emuladores, o que fazia, até ali, apenas muito esporadicamente. Comecei então um movimento natural de escrever  resenhas e análises de jogos por pura diversão e higiene mental, uma fuga ou descanso das atividades editoriais e literárias mais "sisudas" a que geralmente me dedico. A inspiração veio de meu amigo Luiz Miguel Gianeli e seu projeto Muito Além dos Videogames que, além dos livros editados, hoje mantém uma revista (onde colaboro).

O resultado desta literatura (retro)gamer está aqui, neste amplo compilado de textos – algumas crônicas e muitas resenhas, abarcando mais de 120 jogos – escritos de 2019 a 2025. E o livro ainda carrega poemas e um conto dentro da temática dos fliperamas.

É de graça. Leia e compartilhe!


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quarta-feira, 12 de março de 2025

FILOSOFIA em 300 Citações: Algumas das melhores definições e reflexões de todos os tempos sobre a Filosofia

 


A Filosofia é uma disciplina fascinante, que nos permite explorar as grandes questões da vida e do universo. É a busca pelo conhecimento e pela verdade através do raciocínio e da reflexão. A Filosofia nos ajuda a compreender o mundo em que vivemos e a encontrar nosso lugar nele.

Aqui, admiradores, praticantes e bom número de detratores se unem no objetivo de definir a filosofia e também seu operário etéreo (mas que vezes sua sangue), o filósofo, numa seleção que, se está longe de ser exaustiva, ainda assim é única em língua portuguesa.

Georg Fisher dizia que “uma frase é capaz de mudar um destino”. Há aqui frases de considerável profundidade, ao lado doutras de patente superficialidade; mas, ao final, é o leitor quem lhes determinará o alcance.

No mais, que eles – amantes e desafetos – falem por ela, a compenetrada e tão senhora de si Sofia que a tantos apaixona e desespera, salva e faz perder.

 

Sammis Reachers, organizador


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segunda-feira, 3 de março de 2025

Dois poemas de Gwendolyn Brooks

 


A MÃE


Abortos não te deixam esquecer.
Você se lembra das crianças que gerou mas não teve,
Da polpinha molhada com pouco ou nenhum cabelo,
Cantores e trabalhadores que nunca viram a luz do dia.
Você nunca irá negligenciá-los ou bater
Neles, ou mandar eles se calarem ou lhes comprar um confeito.
Você nunca vai arrancar da boca o dedo que chupam
Ou espantar os fantasmas que aparecem.
Você nunca vai abandoná-los, controlando seu suspiro luxurioso,
Nem vai voltar para comê-los, com devoradores olhos de mãe.

Eu ouvi nas vozes do vento as vozes das minhas indefinidas crianças mortas.
Eu me contraí. Eu acalmei
Meus entes indefinidos, nos peitos em que eles nunca mamaram.
Eu disse, Queridos, se eu pequei, se eu tivesse decidido
Sua sorte
E suas vidas de ter um alcance incompleto
Se eu lhes roubei seus nascimentos e seus nomes,
Suas lágrimas de bebê e suas brincadeiras,
Seus amores estranhos ou fofos, seus tumultos, seus casamentos, suas dores, e mortes
Se eu envenenei o começo dos seus fôlegos,
Acreditem em mim que mesmo na minha assertividade eu não fui assertiva.
Mas mesmo assim porque deveria eu choramingar,
Choramingar que o crime não foi meu? —
Porque de todo jeito vocês estão mortos.
Ou melhor, pelo contrário,
Vocês nunca foram feitos.
Mas isso também, suponho,
É uma culpa: ai, o que é pra eu dizer, como dizer a verdade?
Vocês nasceram, tiveram corpo, morreram.
A diferença é que vocês nunca riram ou fizeram planos ou choraram.

Acreditem, eu amei todos vocês.
Acreditem, eu conhecia todos vocês, ainda que pouco, e amei, amei vocês
Todos.

Trad.: Adelaide Ivánova


A GENTE É LEGAL

 

Jogadores de Sinuca.

Sete no Taco de Ouro.

 

A gente é legal. A gente

Largou o colegial. A gente

 

Manda na madruga. A gente

Acerta na sinuca. A gente

 

Foge de igreja. A gente

Segue a cerveja. A gente

 

Samba à beça. A gente

Morre depressa.


Trad.: Lauro Maia Amorim

sábado, 22 de fevereiro de 2025

200 Citações Sobre a ALEGRIA

 

Alegria.

Imersos num turbilhão de sentimentos e solicitações, bombardeados por informação – muitas vezes tóxica, opressiva, rasa –, feridos por receios e ansiedades,  buscamos alegria, como quem busca, sem saber, a essência da vida. Mas não a alegria passageira, conquistada ao obter uma promoção no trabalho ou comer uma coxinha sem peso na consciência: ansiamos por alegria duradoura, cientes talvez de que o estado alegre é o nosso estado natural, perdido em alguma curva da história individual ou da espécie.

A alegria contagia e precisa ser assim: Somos seres gregários, e a alegria verdadeira passa por compartilhar este sentimento com os demais, numa troca luminosa.

Aqui, reunimos uma inspiradora coleção de citações, coligidas de autores os mais diversos, sobre este tema que é saúde para o corpo e o espírito. E, ao final deste volume, oferecemos uma reflexão sobre a conquista da verdadeira alegria, muralha contra o desespero e o vazio que nos rondam como que dia e noite.

 

Para baixar gratuitamente o seu exemplar, CLIQUE AQUI.


domingo, 16 de fevereiro de 2025

Sammis Reachers: Deambulações urbanas num domingo carioca

 


São dezessete horas de um domingo de primavera. Cumprindo uma missão agora há pouco na UERJ do Maracanã, aquele monstro de concreto, ao sair me deparei com os vazios e desertos de uma cidade grande aos domingos de tarde. Foi instantâneo: me recordei de quando era rodoviário e solteiro e, ao trabalhar nos domingos, por vezes ao largar daquele trampo feito de sacolejar e de pessoas, saía sozinho pelos vazios urbanos de Niterói ou Rio, desarvorada, desavisada e destemidamente. Sem destino ou maiores objetivos. Que solidão especial, trotando lotada de melancolia e levando na carroça sua refém apaixonada-pois-adoentada da Síndrome de Estocolmo, a poesia... Sim, muitos poemas nasceram nessas andanças. Não, nunca fui assaltado ou indagado. Deus e minha cara de cana (e minha decana bolsa atravessada nas costas) talvez tenham me guardado.

Outro detalhe que me traz reflexão é que a melancolia de andar numa mata, campo ou descampado deserto é diferente da de andar num deserto urbano. Cada qual tem sua docilidade, mas o campo fala de sentimentos atávicos, instintivos ou transcendentes do que é puramente humano; já a urbe possui uma "linha de ansiedade" (é o melhor termo que pude) toda própria, o humano se celebra e exaure em seus próprios maquinários concretos e simbólicos, num jogo de topofilia/topofobia que nos faz querer continuar o jogo do ver e do rever, do estar e do deixar de estar, enquanto somos acolhidos/moídos pelo espaço que incessantemente nos ressignifica enquanto o ressignificamos. Jogo por sinal tão caro à corrente da Geografia que me apraz, a Geografia Humanista ou Fenomenológica.

Divagações livres, mas as deambulações (deambular é justamente andar à toa) hoje interditadas a um homem casado.

Bem, melhor assim.

Sammis Reachers

24/11/24


domingo, 26 de janeiro de 2025

A Marcha do C@nsaço ou O Movimento dos Macetados (2028)

 


Ao defrontar o amontoado de gentes naquela Copacabana espavorida, a atenção era roubada de chofre pela faixa que encabeçava a passeata, faixa segurada pelo DJ Grillozzilla e pela multisexuada instatriz, DandaXXXara: “Dize a tua palavra e segue o teu caminho. E deixa que a roam até o osso”, creditada na faixa ao filósofo espanhol Ortega y Gasset. Na verdade, a frase é de Unamuno, o Miguel, outro filósofo espanhol. Equívoco que, sem infundir demérito, meio que chancelava e vestia os revoltosos.

Chamaram seu movimento simplesmente de A Marcha do C@nsaço ou, termo adotado pelos opressores midiáticos, O Movimento dos Macetados (“?”), e ele assim há de entrar para a história. O motim, que contou com ampla anunciação midiática (que outra?), encaçapou todo tipo de guapo, duma barafunda de díspares pensares, digno deste fim de Pós-modernidade e início de Idade Índigo.

A ideia central, o eixo da grande hélice que uniu pessoas, roedores e contestadores de várias gerações, é o cansaço em relação à torrente de informação disponível por cada vez mais meios, gadgets e cibertranqueiras.

A um filósofo marroquino, Farkour Bibi, anjo decolonial que escreve em perfeito francês, coube o papel de teórico involuntário do novo movimento, ao propor, em seu filosófico Imanifesto Logofrênico, cujo estilo de pacata ou delicada insubmissão lembra o de Thoureau, um alheamento proposital em relação à toda forma de informação mediada, seja essa mediação realizada por livros, internet etc. E da aceitação apenas do que “o outro”, o ao lado, o vizinho, a mãe, o companheiro proletário, o “usuário de uma mesma territorialidade”, pode ensinar, “olho-no-olho”, o autor avança para a celebração da ignorância, o “prazer de não saber”. A celebração anti-socrática radical, a ignorância como construto positivo.

A música-tema do grupo ou levante foi a inescapável Silício Silenciado (do último álbum de Caetano Veloso, Teimosa Poesia, de 2027). O bumba-que-bumba martelava os ares, marcando o ritmo do pisoteio.

Sim, voltemos aos fatos. Os marchadores, iniciando seu trotar pela Avenida Atlântica, estabeleceram uma inovação significativa: A marcha foi realizada com as pessoas andando para trás, ou de costas. Para evitar tombos entre os pouco afeitos a tal avanço inatural, foram cedidas bengalas de acrílico para apoiar os cansados do saber tão fácil.

Um grupo de festin’lésbicas, oriundas de uma pequena facção (das 82) PCdeBista celebrou outra manobra de catarse, efetuando o despir de suas roupas, uma peça a cada cem passos dados por cada uma de suas membras, membras empoderadas e desmembradas de seu movimento – e agora enxertadas, feito próteses, naquele contra-zeitgeist informacional.

Nas proximidades do Forte de Copacabana, limite entre a Av. Atlântica e a Rua Francisco Otaviano, a primeira culminância: fizeram aquilo o inevitável, qual seja, a QUEIMA DE LIVROS. E no entorno da grande fogueira logolibertária, grupos esparsos realizavam o já tradicional gadcrash: a quebra de gadgets, de smartphones a óculos de realidade aumentada, de Nintendos NeoSwitch a prosaicos Vibradores Poéticos, as maquininhas de consolar inconsoláveis que, além do usual ofício, recitam poemas em oitocentas línguas, ponta-de-lança das exportações cambojanas.

O avanço seguiu para o bairro lindeiro de Ipanema, em que a alegoria final seria encenada: a invasão do data center do Google situado na Rua Farme de Amoedo, e a destruição dos mainframes e servidores que, dali, garantiam o acesso ao virtual a quase todo o país. Na porta, novo pandemônio: um dos muitos movimentos que acompanhavam a marcha, o controverso coletivo Afrobrancos, composto de brancos que se reconhecem e se exigem como africanos d’alma, foi alvo de laranjadas e ovadas de alguns dos manifestantes, ojerizados pelas propostas e ideias do grupo, tido por desconstrucionista e diluidor das pautas de direito dos que têm seu lugar de fala.

No entrevero, uma malta inesperada assumiu a proa do debate sobre o tal estreito e mítico lugar de fala, e em defesa dos afrobrancos (alguns dos quais eram seus pais, afinal): um grupo de therians, os humanos que se afirmam pertencer a outra espécie, neste caso cachorros, marchando e debatendo de quatro, desferiu um motim-no-motim ao afirmar que as ruas eram prioritariamente o seu lugar de fala – e as urinadas nos postes o confirmariam – transe ou transporte de um conceito do metafórico para o concreto que desnorteou alguns teóricos que marchavam no evento – um deles, renomado reitor da PUC que, ainda fedendo a livro queimado, viu ali o nascimento em tema de seu mais novo livro.

Nesse pandemônio, prestes a arrombar as portas da infofortaleza globalista, os já cansados revoltosos tombaram sarrados & surrados por grossos jatos d’água gelada & apimentada, emanados de veículos automáticos. Eram drones blindados do conglomerado BYD-Tesla-Carbon a serviço do grande infocapital, providencialmente enviados pela governadora do Estado. Enxarcada e debelada, a multidão, senhora de algumas razões e diversos equívocos, dispersou-se, cada qual encapsulado de volta à sua micro, nanorevolta, tentando recordar o caminho de casa ou sua necessidade.

Sammis Reachers

Publicado originalmente na Revista Bulunga 37 (jan/2025).

 

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