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segunda-feira, 15 de março de 2021

Pai Nosso, Mãe Nossa – Um texto de Rubem Alves

 


Pai Nosso... Mãe Nossa...  


Pai... Mãe... de olhos mansos,

sei que estás invisível em todas as coisas.

Que o teu nome me seja doce, a alegria do meu mundo.

Traze-nos as coisas boas em que tens prazer:

o jardim as fontes,

as crianças,

o pão e o vinho,

os gestos temos, as mãos desarmadas,

os corpos abraçados...

Sei que desejas dar-me o meu desejo mais fundo,

desejo cujo nome esqueci... mas tu não esqueces nunca.

Realiza pois o teu desejo para que eu possa rir.

Que o teu desejo se realize em nosso mundo,

da mesma forma como ele pulsa em ti.

Concede-nos contentamento nas alegrias de hoje:

o pão, a água, o sono...

Que sejamos livres da ansiedade.

Que nossos olhos sejam tão mansos para com os outros

como os teus o são para conosco.

Porque,

se formos ferozes,

não poderemos acolhera tua bondade.

E ajuda-nos

para que não sejamos enganados pelos desejos maus.

E livra-nos

daquele que carrega a morte dentro dos próprios olhos.

Amém.


Do livro Transparências da Eternidade (Ed. Verus, 2002)


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