GÊNESE
Há sempre uma hora,
uma hora densa,
uma hora inesperada,
em que a paisagem mais inocente
tem o fulgor de um fiat.
O tempo sonha que é espaço,
o espaço sonha que é tempo,
a realidade se compenetra de sua irrealidade.
O homem repensa o mundo.
O mundo se recompõe em sua nostalgia de Deus.
SÚPLICA
Os inquietados, os loucos, os que ainda
não Te descobriram, e os que nada compreendem,
os que pararam e os que jamais tentaram a grande jornada,
todos eles, Senhor, estão comigo neste momento.
Comigo estão todos os que perderam a grande partida.
Comigo estão, Senhor, todos os que Te deixaram
e os que não souberam amar-Te.
Comigo estão os que não Te amam nem Te compreendem,
os que te negam porque são felizes,
e os que te negam por que são infelizes.
Senhor, todos eles estão agora
na minha insônia e na minha desolação, como a presença
da morte está na máscara dos que nada esperam.
Matai-os em mim, Senhor.
POEMA
Quantas vezes te destruí em mim para te criar de novo?
Quantas vezes te considerei mito, estrela desterrada de
sua constelação, símbolo e chama?
De onde tirei a tua forma?
Dos mitos que me sustentaram antes de tua vinda, ou de
minha própria sede de poesia?
Mito! Eras mito e eu te esperava.
Estrela desgarrada, e meus olhos te reintegraram em tua
constelação mágica.
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