“Quem acreditou naquilo que ouvimos?”
Livro do Profeta Isaías 53:1
pediram-nos uma palavra
aberta em melodia que falasse
do drama da alegria
do seu breve trânsito pelos velhos mortos
em que foram decompostas as nossas pobrezas
pediram-nos uma memória,
quente, nova que fizessem acreditar
que a memória é símbolo e é carne
pediram-nos um relato
mais vivo e que mais fortemente
arrepiasse a espinha ao silêncio
do que o próprio evento
que contar o espinho ferisse mais
do que o espinho,
porque a mortalha dele é nossa roupa nova
para dia de festa
e o sangue dele o nosso músculo enxuto
contar quanto a pedra caiu à beira do caminho
diante do clamor das mulheres
quanto o dia em que a noite
foi apenas a preparação da manhã
o que temos é só o que ouvimos
porque Ele retornou ao Pai
deixou-nos, contadores
necessário é: para manter
os ouvidos ouvindo
e em desemparo acreditando
e nós contamos
Rui Miguel Duarte
19/04/14
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