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domingo, 20 de abril de 2014

RELATO

“Quem acreditou naquilo que ouvimos?”
Livro do Profeta Isaías 53:1

pediram-nos uma palavra 
aberta em melodia que falasse
do drama da alegria

do seu breve trânsito pelos velhos mortos
em que foram decompostas as nossas pobrezas

pediram-nos uma memória,
quente, nova que fizessem acreditar
que a memória é símbolo e é carne

pediram-nos um relato
mais vivo e que mais fortemente
arrepiasse a espinha ao silêncio
do que o próprio evento
que contar o espinho ferisse mais
do que o espinho,
porque a mortalha dele é nossa roupa nova
para dia de festa
e o sangue dele o nosso músculo enxuto
contar quanto a pedra caiu à beira do caminho
diante do clamor das mulheres
quanto o dia em que a noite
foi apenas a preparação da manhã

o que temos é só o que ouvimos
porque Ele retornou ao Pai
deixou-nos, contadores

necessário é: para manter
os ouvidos ouvindo
e em desemparo acreditando

e nós contamos

Rui Miguel Duarte
19/04/14

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