Vou-me embora pra
Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
lá sou amigo do Rei
lutamos juntos
na Guerra Civil Espanhola
salvei-lhe a vida
(que ele perdera num jogo de carteado,
bem longe da liça)
Em Pasárgada os dias são bem mais longos
e eu não precisarei trabalhar, ou ao menos
não morrerei desse mal soturno.
Tenho lá seis namoradinhas
Natália Bruna Tabita Renata Tayane
e uma outra Bruna
e terei tempo para todas,
pois o tempo em Pasárgada é maior mais livre mais
fosforescente
e aos domingos irei pescar com meu amigo El Rei
ou praticá-lo no jogo de cartas,
para que ele em apostando a vida não a perca
e ao não perdê-la seja também imortal como os demais deuses
asiáticos.
Vou-me embora para Pasárgada
Ela fica no outro lado do orbe,
no centro e topo da alteridade mesma:
lá as cartas de cobrança
jamais chegam em minha humilde porta
e as mensagens são transmitidas por meio dos beijos,
a estranhinsuspeitinstintiva (e doce) linguagem sem léxico
que não carece de dicionário que a traduza
ou gramática que a codifique.
Em Pasárgada tenho salvo-conduto em cada canto
e uma banda de rock onde canto e dou enfim utilidade a
meus poemas
e as peles de meus inimigos, oh, são tapetes onde piso
na Grande Biblioteca Real, onde deito em livros
a meia metade de meus dias de fausto.
Em Pasárgada meu amigo é o Rei
conheci-o num jogo de cartas dos derrotados em Bilbao
porém em Pasárgada, amigos, nunca mais perderemos.
Sammis Reachers