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domingo, 27 de janeiro de 2013

O Paraguaio de Campina Grande



O Paraguaio de Campina Grande

Everaldo trazia muambas do Paraguai. Relógios especificamente. Era um paraibano branco, forte, de cabelos à la Rambo. Eu trabalhei para Everaldo de 2002 a 2003, numa banca de camelô em Alcântara, São Gonçalo. Vendia os mais finos medidores temporais de toda a cristandade, e além: era um harém da relojoaria universal, de todas as marcas, da Suíça a Tókio, passando por Paris e Nova Iorque, a 20% de comissão. Eu era um garotão viciado em quadrinhos, fliperamas e rock’n roll, e dava pra viver meus vícios sem passar fissura.

Hoje tem alguma graça, mas antes só me chocava o inusitado, o vão de tal morte: um caroço de azeitona.

Foi em 2003, na semana em que o então prefeito do Rio, César Maia, re-inaugurou o Pavilhão de São Cristóvão, a Feira Nordestina. Tomava, assentado numa roda de conterrâneos, uma cachaça vermelha, da terrinha, depois fui saber, dita ‘Santa Rita a Vermelha’. Estranho nome para uma santa, ou cachaça, mas dá na mesma, pensei na época. Engasgou com o tira-gosto, levantou-se já vermelho, deram-lhe socos nas costas, e tapas, e mais socos, muitos socos pelo que me disseram, mas não adiantou. Caiu ali, puseram-se a abaná-lo, mas já não havia ar, já não havia anima (espírito) naquele corpo.

Tinha na bolsa dez cordéis que me comprara, eu havia lhe encomendado. Eu adorava cordéis, como adorava os livrinhos de western, de bolso, que brasileiros escreviam com pseudônimos americanos. Pulp-fictions verde-e-amarelos. Não sei por que digo isso, não quero fugir do assunto, do Everaldo, mas sempre que me lembro dele penso nos cordéis, ‘João Cabrobró contra Satanás’, ‘A rixa do Carcará contra o Sapo-boi’, ‘Morte e Vida Severina’, e outras fugas da secura do sertão, da secura nonsense e repetitiva da vida, do nonsense seco e tedioso da morte.

Sammis Reachers

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