O fazer poético de Álvares de Azevedo: caminhos traçados através da melancolia (Editora Dialética, 2024. 100 págs.).
A melancolia sempre sombreou a
poesia e a filosofia. Musa que inspira e nêmesis de acossa, é entidade bifronte
feito o deus romano Janus. Com o advento dos estrondos da tempestade e
ímpeto, o movimento Sturm und Drang alemão que fundou o romantismo
como o conhecemos, tal ente humano demasiado humano teve sua máscara, seu véu ou
mortalha desvelada; e seus humores, daí em diante, ganharam potência viral.
Já que falamos de Roma, a
melancolia cumpre papel de deusa lar, diáfana e também íntima, de quem o poeta
é ao mesmo tempo altar e holocausto.
A originalidade e o
individualismo trabalhados pelo Romantismo têm em Álvares de Azevedo uma figura
emblemática. O amálgama de melancolia e ironia, irmanação criativa que ditaria
normas em ampla parcela da literatura universal subsequente, toma Azevedo como
expositor ou refém.
Melancolia, mal do século, spleen?
Cedo Álvares ouviu seu chamado, uivo primeiro da noite inaugural (o amaldiçoado
Dia Um fora do Éden), e cedo foi sacrificado, altar que a si mesmo se
consome, execução-pela-implosão do ideal romântico, ente agônico de tempestade
e ímpeto.
Neste seu O Fazer Poético de
Álvares de Azevedo: Caminhos Traçados Através da Melancolia, Antônio Nogueira
busca desvendar os processos e a poética de Azevedo, elencando a melancolia
como eixo axial de sua pesquisa, e devassando a atitude dúplice do autor de Lira dos Vinte
Anos e Noite na Taverna, seu jogo autoral onde aceita/renega sua
condição de bardo romântico, seu fazer e suas influências.
Com acurado escrutínio e sob o
amparo de formidável fortuna crítica, é a tal fortuna mesmo que Antônio busca e
alcança expandir, como esta sua obra seminal, fruto de sua dissertação de
Mestrado.
Aos leitores recomendo, não como acadêmico, mas na condição de poeta e um também fulminado pelo vírus melancólico, este aprazível estudo sobre um poeta e sua época, um tema e suas implicações que, universais que são, dizem respeito a todos nós.
Sammis Reachers
O livro está disponível no site da Editora Dialética, AQUI.
Nenhum comentário:
Postar um comentário